O deputado federal Protógenes Queiroz (PC do B-SP) acusou a
subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio de ter recebido R$ 280
mil do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity. Protógenes
sugeriu que o dinheiro teria sido dado para que ela emitisse parecer ao
Supremo Tribunal Federal favorável à quebra de seu sigilo telefônico,
fiscal e bancário. Ele disse ainda que Dantas teria oferecido dinheiro
ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, marido de Cláudia.
Protógenes fez as acusações no dia 9 de maio durante uma palestra na
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de São Caetano do Sul,
cidade da Grande São Paulo. Tema do encontro era "Os bastidores da
Operação Satiagraha". Ele afirmou também que Dantas, a quem chamou de
"banqueiro bandido", ofereceu US$ 20 milhões a um delegado da Polícia
Federal e a cinco policiais, mas não citou nomes nem o motivo da oferta.
A Satiagraha é um capítulo emblemático da história recente da Polícia
Federal. Protógenes, então delegado, comandou a operação em 8 julho de
2008, que culminou com a prisão de Dantas. O banqueiro foi colocado em
liberdade em menos de 24 horas por ordem do ministro do Supremo Gilmar
Mendes.
A operação foi completamente anulada pelo Superior Tribunal de Justiça
por ilegalidades e emprego de arapongas da Agência Brasileira de
Inteligência. Protógenes foi condenado a 3 anos e 11 meses de prisão por
fraude processual e violação de sigilo funcional - ele teria vazado
dados da Satiagraha. Sua relação com o empresário Luiz Roberto Demarco,
desafeto de Dantas, também é investigada.
O caso foi bater no STF, porque Protógenes assumiu o mandato
parlamentar, ganhando foro privilegiado. Inicialmente, Cláudia Sampaio
se manifestou pelo arquivamento da investigação. No fim de abril, ela
reapresentou parecer, agora favoravelmente à apuração, acolhendo
informação de que Protógenes mantém conta bancária na Suíça e de que em
sua residência a PF havia apreendido R$ 280 mil em dinheiro. O ministro
Dias Toffoli, do STF, decretou a quebra do sigilo bancário, telefônico e
fiscal do deputado. Demarco também é investigado.
Protógenes afirmou em sua palestra que vai pedir à Justiça certidão
comprovando que não houve a apreensão daquele dinheiro. "Essa mulher
(Cláudia) fez isso (...) Essa certidão vai ter de atestar que não existe
280 mil apreendidos, eu não sei de onde ela tirou, talvez seja os 280
mil que o Daniel Dantas tenha dado para ela, prá dar esse parecer... de
cafezinho, né?"
'Luminoso'
Em seguida, aponta para o chefe do Ministério Público Federal. "Daniel
Dantas ofereceu 20 milhões de dólares para um delegado da Polícia
Federal e cinco policiais, quanto que não deve ter oferecido, não
ofereceu, para o procurador-geral da República, né? Então, eu vou exigir
deles também que exponham o seu sigilo bancário, que exponham seu
sigilo telefônico, né, prá gente ver de onde saiu esse luminoso
parecer."
Protógenes citou Cláudia Sampaio a partir do 38.º minuto de sua fala de 1
hora e 48 minutos. "A procuradora, Cláudia, é mulher do
procurador-geral, ela é mulher dele e trabalha juntamente analisando
todos os pareceres que são proferidos por ele. Ela faz o parecer e ele
fala ‘aprovo’. Foi para ela novamente, e ela fez um novo parecer
totalmente detalhado contra mim diretamente. Contra os outros não. No
parecer diz que na minha casa houve uma busca e apreensão. Eles estava
atrás de fragmentos da Satiagraha, das interceptações. Tem muito segredo
aqui, só que eu não vou guardar esses dados, estão com alguns juízes.
Ela diz que encontraram na minha casa 280 mil reais. Não tem isso. Ela
escreveu isso e assinou."
Aos 47 minutos ele acusou Cláudia de ter recebido os R$ 280 mil. Disse
que em nenhum outro caso a Procuradoria voltou atrás. Quando a palestra
atingiu 1 hora e 7 minutos, o deputado disse: "É perigoso para o Estado
ver instituições superiores comprometidas e corruptas".
Ele se insurgiu contra as suspeitas que cercam seu patrimônio -
Protógenes recebeu imóveis "em doação" de um ex-policial federal, José
Zelman, a quem chama de padrinho. "Ela (Cláudia) diz que o meu
patrimônio é suspeito, que eu tenho uma casa de praia em Niterói,
condomínio Camboinhas, e que tenho apartamento no Jardim Botânico.
Sustenta que a minha casa vale um milhão de reais, e que esse
apartamento vale também um milhão. Só que ela esqueceu de um detalhe.
Esse patrimônio eu constituí quando eu era advogado."
Ele mirou o senador cassado Demóstenes Torres (GO), "arauto da
moralidade", e Gilmar Mendes. "O povo apelida de Gilmar Dantas, por
causa da grana que recebeu. Aí eles fabricaram uma investigação dizendo
que eu tinha feito interceptação clandestina do Demóstenes e ele. Não se
provou nada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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