Enlutada, a Camorra midiática agradece as condolências [Legenda do Cloaca News] |
Acaba de falecer Roberto Civita.
Foi o principal responsável por ter trazido os padrões jornalísticos
norte-americanos para o Brasil, convencendo o pai a criar revistas
informativas.
A primeira foi a Realidade. Segundo jornalistas que trabalharam com
ele, como Luiz Fernando Mercadante, o jovem Civita tinha tino
jornalístico, sabia trabalhar com talento as fórmulas importadas dos
Estados Unidos.
Algum tempo depois, a Veja, copiando o modelo de jornalismo-produto norte-americano.
O padrão vinha do Times. Consistia em trabalhar a notícia como se
fosse um produto da dramaturgia. Na segunda-feira, havia reunião de
pauta em que se escolhiam as matérias que fossem mais atraentes para os
leitores. A pauta era montada de acordo com critérios que tornassem a
notícia atraente. Depois, os repórteres saíam atrás de declarações que
convalidassem as teses defendidas pela revista.
Teve alguns períodos áureos. O primeiro, com Mino Carta. Depois de
três anos para se firmar, atingiu o ponto de equilíbrio e nos anos 70 já
se tornara a mais influente publicação brasileira.
Apesar do estilo superficial – próprio para atingir a dona de casa de
Botucatu (como era o lema da revista -, a revista primava pelas pautas
criativas, pelo texto rigoroso embora um tanto parnasiano nas aberturas,
pela capacidade de enfiar enorme quantidade de informações (nem todas
essenciais) em textos curtos.
Após a saída de Mino, a revista manteve a influência e cresceu em tiragem, acompanhando o crescimento da economia brasileira.
Nos anos 90, assim como o restante da grande imprensa, experimentou
seu período de maior brilho, após ajudar a construir e a demolir a
imagem de Fernando Collor.
Brilhante na criação de um universo de revistas especializadas ou
temáticas, Roberto Civita falhou na transição para a era digital.
Com ACM, conseguiu concessões de TV a cabo, montou alguns canais, que
não lograram se desenvolver. A experiência em TV foi um desastre
financeiro. Teve oportunidade de montar o primeiro grande portal
brasileiro, o BOL, tendo muito mais conteúdo para expor do que a UOL, da
Folha. Mas não possuía a agilidade demonstrada por Luis Frias, à frente
da UOL.
Com poucos lances, Frias propôs a fusão UOL-BOL, assumiu a gestão da
nova empresa e, mais à frente, aproveitou a enorme liquidez do mercado
financeiro para adquirir a metade da Abril. Hoje a UOL deve valer bem
mais do que a Abril inteira.
Um dos principais obstáculos para a transição da Abril foi a
resistência de um corpo de conselheiros de Civita, fortemente amarrados à
tradição do papel. Mesmo quando a Internet tornara-se irreversível, a
Abril não acordou. Pelos menos a duas empresas de tecnologia que foram
oferecer sistemas para ela – uma das quais, a IBM – a resposta dos
executivos é que a Abril iria apostar todas suas fichas em gibis e
revistas para a classe C.
O advento do jornalismo online acabou consagrando outros portais, a própria UOL, o G1 e dois entrantes, o Terra e o iG.
A última aposta da Abril foi tentar ganhar protagonismo político
imitando o estilo de Rupert Murdoch. A campanha contra o desarmamento
revelou um perfil de leitor classe média intolerante, preconceituoso,
conservador até a medula. E a Abril, que sempre buscou o leitor classe
média alta, apostou todas suas fichas no novo modelo.
Foi a primeira a trazer o estilo de jornalismo tosco e virulento da
Fox News. E a cometer assassinatos de reputação em larga escala, cujos
casos mais conhecidos foram as guerras do Opportunity e de Carlinhos
Cachoeira.
Alguns anos atrás, em péssima situação financeira, a Abril recebeu
aporte de capital do grupo Nasper, da África do Sul, mais 20% de
empresas offshare de Delaware, afrontando a legislação brasileira.
Posteriormente, quando vendeu a TV A para a Telefônica, as duas holdings
desapareceram do bloco de controle da empresa.
Nos últimos anos, o grupo passou a investir todas suas sobras de
caixa no setor educacional. Com a morte do seu líder, o futuro da Abril
torna-se incerto.
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