O Brasil viveu 21 anos (1964-1985) sob ditadura militar. A esdrúxula Lei da Anistia pretende colocar uma pedra sobre as atrocidades cometidas naquele período contra os que lutavam por liberdade e democracia. E há escolas e universidades que ainda ignoram o terrorismo de Estado vigente no Brasil ao longo de duas décadas.
No entanto, as vítimas não se calam. Não
admitem clandestinizar a dor de seu sofrimento e a de tantas famílias de
mortos e desaparecidos. Segundo Primo Levi, sem memória da injustiça
não há justiça possível.
No momento em que o governo Dilma Rousseff aprova a Comissão da
Verdade é preciso lembrar que funciona em São Paulo o Núcleo de
Preservação da Memória Política. Surgiu em 2007, no contexto das
atividades do Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos de
São Paulo, fundado para defender os interesses dos ex-prisioneiros
políticos e perseguidos durante a ditadura.Em 2008, logrou que o antigo prédio do DEOPS, no Largo General Osório, se transformasse em Memorial da Resistência. Desde então, promove ali os Sábados Resistentes. É o primeiro projeto museológico de memória no Brasil.
Em 2009, tornou-se uma instituição independente. Propõe-se a mobilizar pessoas interessadas na abertura dos arquivos da ditadura, preservar a memória das vítimas, incrementar a cultura de respeito aos direitos humanos, propiciar formação política às novas gerações.
Hoje, o Núcleo Memória é membro da Coalizão Internacional de Museus de Consciência em Lugares Históricos.
O objetivo do Núcleo Memória é preservar a luta pela liberdade e democracia; dignificar a história dos brasileiros que se empenharam nesse sentido; colher depoimentos e fontes documentais que permitam fortalecer o resgate histórico; e conhecer o passado recente da história do Brasil.
Empenha-se também em promover a recuperação dos lugares emblemáticos em que foram praticadas violações aos direitos humanos; realizar eventos culturais relacionados à resistência e à memória; exigir dos poderes públicos a preservação e divulgação dos arquivos existentes; valorizar os lugares simbólicos de atos da resistência democrática; participar de intercâmbios de experiências similares em outros países, em especial no MERCOSUL.
Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais.
Do Correio do Brasil.
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