A explicação para o crescimento da Blogosfera entre o público da grande imprensa que realmente se interessa pelo seu assunto principal, a política, que domina as primeiras páginas dos jornais, as capas de revista e as home pages dos grandes portais de internet, pode ser encontrada em post de colunista de um grande meio de comunicação que acaba de descobrir que o Brasil não é o Egito, os EUA, a Espanha, enfim, um desses países que está em crise e, assim, produz indignados.
Nos últimos anos, no que realmente interessa em relação à política e até à economia a Blogosfera vem dando um banho na grande imprensa, haja vista que tudo que aconteceu nesses assuntos aconteceu como os blogs progressistas disseram que aconteceria e como a grande imprensa disse que não aconteceria.
Tomemos só alguns exemplos. Na crise financeira internacional de 2008, a mídia tentou vender que o fim estava próximo, que o país entraria em forte recessão etc., e todos sabem como a coisa terminou – foi uma marolinha. A cada nova previsão catastrófica, os blogs martelavam o que a mídia desprezava, os sinais de que a economia estava resistindo. Na política, a imprensa disse que Dilma era um “poste” e que seria tutelada por Lula e, depois, reconheceu que de “poste” ela não tem nada e chegou até a afirmar que a presidente estaria “indo contra” a “herança” de Lula.
Vai se completando, agora, a mais nova prova de que a Blogosfera tinha razão e de que a grande imprensa estava errada. Um conhecido colunista do Estadão, assim como o jornalista global Caco Barcelos reconheceu que a imprensa faz assassinatos de reputação e militância política, acaba de entender – e escrever que entendeu – que, por aqui, não há razão para “indignados” saírem às ruas para protestar.
Isso já era dito neste blog logo que o correspondente do diário espanhol El País no Brasil, o jornalista Juan Árias, escreveu artigo perguntando por que os brasileiros não se indignavam com a “corrupção” como em seu país, como nos EUA, na Ásia e mesmo no resto da Europa Central. Agora, o jornalista José Roberto Toledo chega, mais do que tardiamente, a uma conclusão a que este blog chegou três meses atrás, antes das tentativas midiáticas de pôr “indignados” nas ruas para fragilizarem o governo Dilma Rousseff e conspurcarem a herança de Lula.
No texto em questão, Toledo elenca um monte de elementos que tornam “científica” uma conclusão que não precisava de tudo isso para ser formada, pois o que o jornalista conclui é de conhecimento público, ou seja, os países em que há indignados estão fazendo o povo piorar de vida sob governos mal avaliados e os países em que não há os tais indignados estão fazendo a vida do povo melhorar sob governos bem avaliados.
Leiam, abaixo, o artigo “Indignados e desacreditados”. Em seguida, faço mais alguns comentários.
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O Estado de S.Paulo
10 de outubro de 2011
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Indignados e Desacreditados
Por que o movimento dos “indignados”, que ganhou notoriedade na Espanha, se espalhou para o Chile e agora ocupa Wall Street (EUA), não comoveu multidões no Brasil? Desde julho, quando o jornal espanhol El País fez essa pergunta, parece haver mais indignação com a falta de resposta do que, propriamente, com a corrupção da política nacional.
Tentativas de mobilização das massas não foram muito além de um trending topic ou outro nas redes sociais. Quando chegaram às ruas, não saíram dos bairros mais afluentes, tampouco tiveram sustentação ao longo do tempo. Nos termos de seus idealizadores, cansaram logo.
As explicações aventadas variam da mitológica cordialidade nacional ao efeito lavador de cérebros da propaganda governamental. A despeito de exemplos como os dos “caras-pintadas” e das “diretas já”, os argumentos rapidamente se voltam contra o objeto da mobilização: o brasileiro – que seria, antes de tudo, um apático. Vale a pena, então, comparar o que ele pensa com o que pensam outros povos mais indignados.
A começar pelas semelhanças e diferenças na opinião pública de Brasil e Chile, onde o Ibope fez pesquisas com metodologias idênticas. O Índice de Confiança nas Instituições varia de 0 a 100. Quanto maior, mais confiante a população naquela instituição. Na média, o índice chileno pende bem mais para o lado da desconfiança do que o brasileiro: 46 a 55.
Semelhanças positivas – bombeiros: (Chile) 92 a 86 (Brasil); polícia: (Chile) 60 a 55 (Brasil); Forças Armadas: (Chile) 56 a 72 (Brasil); organizações da sociedade civil: (Chile) 60 a 59 (Brasil).
Semelhanças negativas – partidos políticos: (Chile) 17 a 28 (Brasil); Congresso Nacional: (Chile) 23 a 35 (Brasil); sistema público de saúde: (Chile) 40 a 41 (Brasil); sindicatos: (Chile) 47 a 44 (Brasil).
Semelhanças neutras – governo municipal: (Chile) 50 a 47 (Brasil); eleições: (Chile) 49 a 52 (Brasil).
Diferenças: presidente da República: (Chile) 27 a 60 (Brasil); Governo federal: (Chile) 36 a 52 (Brasil); Justiça: (Chile) 30 a 49 (Brasil); igrejas: (Chile) 44 a 72 (Brasil); meios de comunicação: (Chile) 51 a 65 (Brasil); empresas: (Chile) 49 a 59 (Brasil).
Nos EUA, o Instituto Gallup com metodologia diferente chegou a conclusões semelhantes. Como no Chile e no Brasil, nenhuma instituição é mais desacreditada entre os norte-americanos do que o Congresso. E apenas como no Chile, a Presidência da República está em processo de descrédito – desde a posse de George W. Bush, com leve, mas fugaz recuperação da confiança no começo do governo de Barack Obama.
Uma hipótese surge das pesquisas: quando a população se desencanta com seu governante e não enxerga representatividade no Congresso nem nos partidos nem nos sindicatos nem na mídia para expressar sua indignação, deságua sua insatisfação em protestos de rua. Não por coincidência, o chileno Sebastián Piñera é o governante mais mal avaliado das Américas, e o espanhol José Luis Zapatero está na lanterna na Europa.
E o que Obama, Piñera e Zapatero têm em comum, que presidentes com melhores índices de avaliação, como Dilma Rousseff (Brasil), Dmitry Medvedev (Rússia) e Cristina Kirchner (Argentina), não têm? Sérios problemas na economia de seus países.
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Há um fato que precisa ser ressaltado, antes de prosseguirmos. Sebástian Piñera, presidente do Chile, é um dos poucos governantes de direita da América do Sul, ainda que se diga de centro-direita. Enquanto sua popularidade está ao rés do chão, a dos governos de centro-esquerda – mesmo os que têm presidentes com mais retórica de esquerda real do que ações, como Hugo Cháves – estão com a popularidade nas alturas.
Além de a mídia jamais ter entendido que não conseguiria fabricar aqui o movimento dos indignados e que isso ocorreria simplesmente porque este povo tem a sensação de que sua vida está melhorando, ainda não entende bem que não dá mais para fabricar uma comoção popular indignada porque, através da Blogosfera, há como espalhar versões conflitantes com a hegemonia midiática que tenta sufocar opiniões divergentes.
Não importa que a mídia diga que Dilma é um “poste” ou que Lula deixou alguma “herança maldita”. Dilma mostrou que tem personalidade, a própria mídia relatou que ela adotou políticas que uma tutelada não adotaria e, por fim, pesquisas de opinião recentes revelaram que a popularidade de Lula está mais alta do que nunca.
A fabricação de indignação popular não tem base e é por isso que os movimentos passados e esse que acontecerá nesta semana não foram e não irão adiante a despeito das tentativas da mídia de fermentá-los – tentativas que vão escasseando apesar de ainda existirem, como em post do blogueiro Josias de Souza que está propagandeando novas tentativas da direita de pôr gente na rua.
Do Blog da Cidadania.
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