sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A destruição da honra de uma pessoa sem nenhuma prova e baseada em denúncias de um corrupto e de uma revista corrupta. É triste ! Se eu fosse a presidenta Dilma não o demitiria


O tempo como inimigo
Ministros mais próximos de Dilma avaliam que permanência de Orlando Silva no governo é complicada por conta da dificuldade em conciliar os preparativos da Copa com a própria defesa das acusações

Denise Rothenburg
Paulo de Tarso Lyra


Em suas reuniões mais reservadas, os ministros palacianos convocados ontem à noite por Dilma Rousseff avaliaram que o relógio do esporte é o maior inimigo para a permanência de Orlando Silva no cargo de ministro. Já existe a convicção de que, politicamente, ele dificilmente conseguirá ao mesmo tempo se defender das acusações e cumprir a agenda de negociações que envolvem a Lei Geral da Copa. Isso sem contar o papel de porta-voz do governo brasileiro na organização da Copa das Confederações, em 2013, da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Basta ver que, nesta semana, Orlando Silva não teve como se dedicar ao trabalho porque estava absorto em sua defesa.

Dilma chegou da viagem para a África às 20h45 e seguiu de helicóptero para o Palácio da Alvorada para reunir-se com Gleisi Hoffmann, Casa Civil; Gilberto Carvalho, Secretaria-Geral da Presidência; José Eduardo Cardozo, Justiça; e Ideli Salvatti, Relações Institucionais. Uma decisão o governo já tomou: o ministério permanecerá com o PCdoB, independentemente do destino de Orlando Silva. Essa garantia foi dada ontem pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho: “Disseram por aí que havia uma decisão do Planalto de tirar o ministério do PCdoB. Isso não corresponde à verdade. Temos uma relação histórica com o PCdoB que não é de hoje e não é uma crise como essa que vai abalar essa relação”.

Em Angola, na sua última etapa da viagem à África, Dilma criticou o que chamou de “apedrejamento moral” de Orlando Silva: “É importantíssimo que nós, que somos um país democrático, aprendamos que não se faz apedrejamento moral de ninguém. Eu li, com muita preocupação, as notícias do Brasil. Primeiro, pelo grau de imprecisão nas observações a respeito do governo. O governo não fez, não fará nenhuma avaliação e julgamento precipitado de quem quer que seja”, afirmou a presidente. “A gente tem de ter um processo sistemático de investigação, de apuração de todos os malfeitos. Agora, tem sempre de supor a presunção da inocência das pessoas. Eu vou olhar tudo com imensa tranquilidade e tomarei as posições necessárias para preservar não só o governo, mas preservar os interesses do país”, completou.

Gilberto Carvalho também defendeu Orlando Silva, dizendo que as acusações feitas contra ele pelo policial militar João Dias são “desqualificadas”. “Essa acusação tem se revelado inconsistente e, ao que tudo indica, tem se revelado fruto exatamente do processo que o Ministério do Esporte fez de uma cobrança por uso indevido de uma verba pública de uma entidade”, afirmou.

O PCdoB ficou mais tranquilo ao saber por Gilberto Carvalho que Dilma classificara como uma “tolice” dizer que seu governo fará um julgamento do PCdoB. As declarações de Dilma deram ao partido a ideia de que não pretende tirar a legenda do Ministério do Esporte. Em relação a Orlando, alguns comunistas não tiveram ontem o mesmo sentimento, apesar das declarações de Gilberto Carvalho: “Não apareceu nenhuma prova contra o Orlando Silva, e nós temos que tomar muito cuidado de só avaliar as pessoas a partir de informações que se comprovem. A simples acusação não pode formar um juízo sobre uma pessoa”, afirmou o ministro.

Confiança
Gilberto repassou todas as preocupações do governo ao presidente do PCdoB, Renato Rebelo, numa reunião ontem à tarde no Palácio do Planalto, da qual participaram ainda as ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti. Na conversa, foi dito a Rebelo que Dilma não perdeu a confiança no partido. “Ouvi deles que o ministro se mantém com plena autoridade em sua pasta, ele sempre fez o trabalho de gestão no planejamento da Copa em conjunto com a Casa Civil”, comentou Rebelo, no fim de quase uma hora de conversa.

O partido usou ontem tudo o que estava a seu dispor para se defender e apoiar o ministro. Pela manhã, na reunião política do PCdoB, transferida para Brasília por conta da crise, Orlando — que almoçou com o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay — foi incisivo: “Nunca haveria provas porque não houve esse fato (o encontro com João Dias)”.


CAUTELA COM O DEPOIMENTO
A Polícia Federal está cautelosa quanto ao depoimento do policial militar João Dias Ferreira, que fez denúncias contra o ministro do Esporte, Orlando Silva. A expectativa de que o PM traria fatos novos ou mesmo provas do que disse à imprensa não ocorreu e a investigação em torno das acusações de Ferreira dependerá do que ele vai entregar na próxima semana à PF, que seriam gravações entre integrantes do ministério e o denunciante. Em seu depoimento, segundo fontes da Polícia Federal, Ferreira nada acrescentou às declarações que havia dado para a revista Veja, na semana passada.

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