Não
se imagina que em uma organização econômica como a que vivemos todos
terão emprego a um só tempo, mesmo nos períodos mais dinâmicos de
crescimento. Sempre haverá fases de acomodação do nível da atividade
podendo gerar uma taxa de desemprego friccional que a sociedade “justa”
tem de socorrer com as políticas sociais do Estado.
Há quatro anos a sociedade americana viu-se envolvida em uma séria crise bancária que em poucas semanas eliminou milhares de empregos no setor financeiro, antecipando a tragédia que em alguns meses suprimiu perto de 15 milhões de postos de trabalho nos demais setores da economia. Países da Comunidade Europeia sofrem hoje de forma dramática o agravamento de uma crise de origens similares, sob ameaça de desmoronamento dos pilares de sua principal construção, o sistema do euro. No mundo inteiro, algo como 30 milhões de trabalhadores não recuperaram os empregos incinerados desde a crise de 2008/2009.
As consequências de ordem política e institucional estão revelando-se na medida em que os cidadãos ocupam as ruas das maiores metrópoles do Ocidente, cobrando respostas das lideranças globais, aparentemente perplexas e atordoadas. É surpreendente, mas reveladora deste estado de coisas, a explicação e o mea culpa atribuídos ao ministro da Economia da Grécia, Michalis Chryssohoidis: “Nossa situação é desesperadora, porque reduzimos de forma bastante drástica a renda das pessoas”.
Dos Estados Unidos, os europeus estavam acostumados a receber conselhos (quando não a mão amiga) para contornar as crises. O que assistiram, porém, no início da última semana na tevê foi a imagem de um presidente americano cabisbaixo, desanimado, admitir em plena campanha que se tornou o “azarão” das próximas eleições. Importante, mesmo, foi Obama admitir francamente que seus baixos índices de popularidade são consequência do estado da economia neste final de mandato: “Os eleitores não estão melhores hoje que há quatro anos. Conseguimos um progresso contínuo para estabilizar a economia, mas a taxa de desemprego ainda é muito alta”.
Um esforço para estabilizar que custou mais de 1 trilhão de dólares despejados nos cofres dos bancos para salvá-los da quebra, na crença de que o sistema financeiro retribuiria irrigando com créditos o setor produtivo. A esperança era de que o dinheiro do contribuinte seria usado para financiar a retomada dos investimentos na indústria e da atividade comercial, voltando a estimular o consumo e com isso a recuperação do nível de emprego.
Nada do que se esperava aconteceu, como se sabe. Em contraste, formou-se aquele circuito tenebroso: sem a expectativa de melhora da demanda interna em razão da manutenção de altos níveis de desemprego, as empresas simplesmente adiaram investimentos na produção e não fizeram novas contratações de mão de obra, um circuito que se autoalimenta e habitualmente conduz à recessão econômica.
O Brasil, é sempre bom lembrar, escolheu logo no início da crise outro caminho, até certo ponto surpreendente, mas que se revelou extremamente virtuoso: sem perder muito tempo com a sofisticação de modelos, o presidente Lula dirigiu-se diretamente ao consumidor brasileiro e, na linguagem que cada um de seus milhões de eleitores compreendeu rapidamente, exortou-os a continuar consumindo: “Se você deixar de ir ao mercado ou às lojas, se parar de comprar com medo de perder o emprego, aí então é que vai ficar sem emprego, porque a empresa vai deixar de produzir se não tiver para quem vender”.
Todos sabem que funcionou e o comportamento da economia brasileira para vencer a crise de 2008/2009 mantendo os níveis de emprego, a renda salarial e o consumo interno em crescimento, é reconhecido mundialmente como extraordinariamente bem-sucedido. Hoje o nosso ex-presidente continua sendo admirado como “o cara”, que intuiu que a saída da crise estava na manutenção dos empregos e da renda dos salários, mais do que a salvação da banca.
Curiosamente é Obama, o criador do honroso apelido, quem hoje faz também uma espécie de mea culpa por demorar quatro anos para entender a mensagem de seu então “colega”, o trabalhador Luiz Inácio Lula da Silva.
Há quatro anos a sociedade americana viu-se envolvida em uma séria crise bancária que em poucas semanas eliminou milhares de empregos no setor financeiro, antecipando a tragédia que em alguns meses suprimiu perto de 15 milhões de postos de trabalho nos demais setores da economia. Países da Comunidade Europeia sofrem hoje de forma dramática o agravamento de uma crise de origens similares, sob ameaça de desmoronamento dos pilares de sua principal construção, o sistema do euro. No mundo inteiro, algo como 30 milhões de trabalhadores não recuperaram os empregos incinerados desde a crise de 2008/2009.
As consequências de ordem política e institucional estão revelando-se na medida em que os cidadãos ocupam as ruas das maiores metrópoles do Ocidente, cobrando respostas das lideranças globais, aparentemente perplexas e atordoadas. É surpreendente, mas reveladora deste estado de coisas, a explicação e o mea culpa atribuídos ao ministro da Economia da Grécia, Michalis Chryssohoidis: “Nossa situação é desesperadora, porque reduzimos de forma bastante drástica a renda das pessoas”.
Dos Estados Unidos, os europeus estavam acostumados a receber conselhos (quando não a mão amiga) para contornar as crises. O que assistiram, porém, no início da última semana na tevê foi a imagem de um presidente americano cabisbaixo, desanimado, admitir em plena campanha que se tornou o “azarão” das próximas eleições. Importante, mesmo, foi Obama admitir francamente que seus baixos índices de popularidade são consequência do estado da economia neste final de mandato: “Os eleitores não estão melhores hoje que há quatro anos. Conseguimos um progresso contínuo para estabilizar a economia, mas a taxa de desemprego ainda é muito alta”.
Um esforço para estabilizar que custou mais de 1 trilhão de dólares despejados nos cofres dos bancos para salvá-los da quebra, na crença de que o sistema financeiro retribuiria irrigando com créditos o setor produtivo. A esperança era de que o dinheiro do contribuinte seria usado para financiar a retomada dos investimentos na indústria e da atividade comercial, voltando a estimular o consumo e com isso a recuperação do nível de emprego.
Nada do que se esperava aconteceu, como se sabe. Em contraste, formou-se aquele circuito tenebroso: sem a expectativa de melhora da demanda interna em razão da manutenção de altos níveis de desemprego, as empresas simplesmente adiaram investimentos na produção e não fizeram novas contratações de mão de obra, um circuito que se autoalimenta e habitualmente conduz à recessão econômica.
O Brasil, é sempre bom lembrar, escolheu logo no início da crise outro caminho, até certo ponto surpreendente, mas que se revelou extremamente virtuoso: sem perder muito tempo com a sofisticação de modelos, o presidente Lula dirigiu-se diretamente ao consumidor brasileiro e, na linguagem que cada um de seus milhões de eleitores compreendeu rapidamente, exortou-os a continuar consumindo: “Se você deixar de ir ao mercado ou às lojas, se parar de comprar com medo de perder o emprego, aí então é que vai ficar sem emprego, porque a empresa vai deixar de produzir se não tiver para quem vender”.
Todos sabem que funcionou e o comportamento da economia brasileira para vencer a crise de 2008/2009 mantendo os níveis de emprego, a renda salarial e o consumo interno em crescimento, é reconhecido mundialmente como extraordinariamente bem-sucedido. Hoje o nosso ex-presidente continua sendo admirado como “o cara”, que intuiu que a saída da crise estava na manutenção dos empregos e da renda dos salários, mais do que a salvação da banca.
Curiosamente é Obama, o criador do honroso apelido, quem hoje faz também uma espécie de mea culpa por demorar quatro anos para entender a mensagem de seu então “colega”, o trabalhador Luiz Inácio Lula da Silva.
*Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado Fedral.
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