sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A insatisfação dos 99% subestimada pela imprensa dos 1%

Cidades americanas onde já ocorrem protestos contra injustiça social praticada pelos 1% mais ricos contra os demais 99%  
Um movimento genuinamente popular e democrático ganha densidade e capilaridade nos Estados Unidos, mas a grande imprensa mundial, incluindo suas "controladas locais", teimam em dar pouco espaço ou analisar, com a devida atenção, os fatos que ocorrem no país mais rico do mundo.
O movimento "Occupy Wall Street" completou um mês de incessantes protestos pacíficos nas principais cidades norte americanas e no coração do capital mundial, Wall Street, Nova Iorque.
O que é possível ler ou acompanhar na grande indústria de (des) informação mundial é sobre os protestos que ocorrem no Oriente Médio e Europa, com algum destaque, mas nenhuma chamada que esteja a altura do fenômeno que ocorre nos Estados Unidos, nada mais profundo, é fácil encontrar.
A sequência de crises econômicas provocadas pela criminosa desregulação do sistema financeiro internacional e pela irresponsabilidade e ganância das grandes corporações bancárias mundiais, expõe feridas sociais marcantes no centro do capital financeiro internacional.  Milhões de pessoas perderam suas casas e empregos desde 2008, mas altos executivos das gigantes empresas do sistema financeiro ganharam bônus milionários, lucros corporativos aumentaram e o governo americano, assim como outros de países ricos, priorizou socorrer corporações e não pessoas, debochando do drama do povo do país mais rico do mundo que, nesta década, experimentou sensível recuo de indicadores social e financeiro e uma explosão do desemprego, comprometendo, seriamente, as pretensões dos Democratas nas eleições de 2012. 
Mais de 100 cidades americanas protestam contra esta política de irresponsabilidade e insensibilidade sociais, clamam por justiça social nos Estados Unidos, pacificamente, mas o governo reprime com prisões, tentando calar a voz de milhões de insatisfeitos com o rumo da economia mundial, tornando bastante claro o tipo de democracia que os seus, alto proclamados, mais "ardorosos defensores" praticam em casa: a favor: toda liberdade de expressão; contra: toda a repressão para silenciar.
A imprensa mundial que, hegemonicamente, cobre estes fatos lê detalhadamente e com fervorosa devoção, esta cartilha.


Mais de 100 cidades dos EUA já aderiram ao Occupy Together
Enquanto o movimento Occupy Wall Street aproxima-se de completar um mês de atividades, os protestos contra a desigualdade econômica e social espalham-se pelos Estados Unidos e devem, a partir do próximo fim de semana, tomar conta de vários pontos em todo o planeta. De acordo com o Occupy Together, site que centraliza as manifestações nos EUA, nada menos de 106 cidades norte-americanas já abrigam o movimento, enquanto centenas de outras estariam com atividades programadas para os próximos dias.

Além disso, grandes centros internacionais como Bruxelas (Bélgica), Copenhague (Dinamarca), Toronto (Canadá), Manchester (Inglaterra) e Dublin (Irlanda) estariam hospedando atividades ligadas ao movimento. Para o próximo sábado (15), está programado um movimento mundial de apoio aos protestos (Occupy World), com atividades em diversos países, incluindo várias cidades brasileiras.

Caminhada em NY faz “visita” a casas de grandes empresários
Aparentemente, a ideia dos manifestantes em Nova York, cidade que deu início ao movimento, é espalhar os protestos, descentralizando-os de Wall Street em direção a diferentes partes da cidade. Uma caminhada ocorreu nesta terça-feira (11), passando em frente a residências de grandes empresários como Jamie Dimon, executivo-chefe da JP Morgan, o presidente da News Corporation, Rupert Murdoch, e o bilionário David Koch. Os passos da caminhada foram descritos em tempo real pela conta do Occupy Wall Street no Facebook. “Os 99% estão agora na frente da casa de Rupert Murdoch”, dizia uma das mensagens. “Estamos na 68th (avenida de Nova York) em direção norte para Park Avenue, juntem-se a nós!”, convidava outra. Segundo informações de agências, cerca de mil pessoas participaram do evento.

Para o próximo sábado, está sendo convocada via redes sociais uma manifestação chamada “Day of Action Against Banks” (Dia da Ação Contra os Bancos, em tradução livre). A ideia é fazer com que os participantes dirijam-se a seus respectivos bancos, em uma espécie de ocupação coletiva. “Os bancos não vão mais levar nossas casas. Os bancos não vão mais roubar os estudantes de seu futuro. Os bancos não vão mais destruir o meio ambiente. Os bancos não vão mais financiar a miséria da guerra. Os bancos não vão mais causar desemprego em massa. E os bancos não vão mais lucrar com crise econômica sem enfrentar resistência. Nós ocuparemos todos os lugares”, avisa a mensagem.

Em uma espécie de demonstração de apoio aos protestos em Wall Street, hackers ligados ao grupo Anonymous derrubaram o site do New York Stock Exchange (NYSE), grupo que administra a Bolsa de Valores de Nova York. O ataque, ocorrido na segunda-feira, provocou lentidão e dificuldades de acesso, ainda que representantes da Bolsa garantam que o site não chegou a sair do ar e que o pregão do dia não foi afetado.
O filósofo e crítico esloveno Slavoj Zizek visitou o acampamento do Occupy Wall Street na segunda-feira e discursou para os manifestantes. Com a proibição do uso de megafones e demais aparelhos de som, os presentes começaram a recitar em voz alta cada frase de Zizek, como forma de fazer com que mesmo as pessoas mais distantes conseguissem ouvir a fala.

Polícia aumenta repressão contra protestos
Na medida em que aumenta a abrangência dos protestos, a repressão também cresce em números e intensidade. Em Boston, 129 manifestantes foram presos – segundo a polícia local, por bloqueio ao tráfego de veículos, invasão e reunião ilegal. Os manifestantes da cidade, antes concentrados na Dewey Square Park, passaram na noite de segunda-feira a ocupar também parte do Rose Fitzgerald Kennedy Greenway, vizinho ao ponto de encontro inicial. A polícia deu um ultimato para que os manifestantes regressassem a Dewey Square em uma hora e meia – os que não atenderam o pedido foram presos. As barracas e demais pertences encontrados no Rose Fitzgerald foram jogadas no lixo pela polícia.

Em Atlanta, manifestantes receberam ordens da polícia para deixar o Woodruff Park, onde se encontram acampados desde a última sexta-feira. Em resposta, uma mensagem no site do Occupy Atlanta deixou claro que os participantes não tinham intenção de abandonar o local. “Convocamos os apoiadores do Occupy Together e defensores da Primeira Emenda para virem ao Woodruff Park e permanecer conosco por quanto tempo puderem”, diz o comunicado. “Encorajamos todos a trazer câmeras para registrar o caráter pacífico da nossa manifestação e qualquer ação que for tomada pela polícia”. Por meio de um porta-voz, o prefeito de Atlanta, Kasim Reed, disse não haver “planos imediatos” para a remoção dos manifestantes do Woodruff Park. Até a tarde de terça-feira (11), nenhuma prisão havia ocorrido em Atlanta, segundo fontes ligadas ao movimento.

Enquanto isso, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, deu autorização oficial para que os manifestantes permaneçam em Wall St. por mais quatro meses. O prefeito também acentuou que a permanência poderá ser prorrogada indefinidamente, desde que os envolvidos permaneçam dentro da lei. “Se as pessoas querem se manifestar, e na medida em que obedecerem as leis, estão autorizadas a fazê-lo”, disse Bloomberg. As declarações marcam uma queda no tom adotado pelo prefeito com relação ao movimento. Em entrevistas anteriores, Michael Bloomberg havia dito que manifestantes estavam tentando “acabar com os empregos de trabalhadores” da cidade e que uma intervenção policial estava sendo cogitada.

O movimento provoca grandes divergências entre democratas e republicanos nos EUA. Enquanto o bloco democrata tem se caracterizado pela simpatia aos manifestantes, os republicanos não economizam nas tintas para criticar o Occupy Wall Street e suas ramificações. Em diferentes ocasiões, dois possíveis candidatos republicanos para 2012, Newt Gingrich e Herman Cain, referiram-se aos protestos como “luta de classes”.

Ainda que a cobertura ao Occupy Together tenha aumentado de dimensão nos últimos dias, continuam comuns as críticas ao movimento, acusando-o de não ter objetivos claros e carecer de homogeneidade. Michael Lester, que participa da ocupação no Westlake Park de Seattle, é um dos participantes que responde, com suas próprias palavras, a essas críticas. “Apenas porque a mídia não entende nossa mensagem, não quer dizer que não temos uma”, diz ele. “Nós temos um ponto. Não somos violentos, não somos parasitas, não somos desabrigados, não somos hippies. Somos democratas, republicanos, libertários e apolíticos. Não somos desorganizados, em poucos dias conseguimos fazer uma cidade inteira girar em torno da gente. Vocês não podem colocar um rótulo em nós, e não aceitaremos quaisquer termos que tentem usar para nos definir”.

Igor Natusch / Sul 21
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