– por Maurício Dias / São Paulo (CartaCapital 666)
Investigação: Roberto Gurgel, procurador-geral, decidirá se indicia ou não o general Enzo Peri (acima). Foto: Renato Araújo/ABR
Desde
15 de agosto, a Procuradoria-Geral da República analisa uma
representação encaminhada pelo Ministério Público Militar. Trata-se de
um pedido de investigação “em desfavor” do comandante do Exército,
general Enzo Martins Peri, citado num espinhoso escândalo de corrupção,
talvez o mais ruidoso da Força em seus 363 anos de história. Ao todo, 25
oficiais de variadas patentes, incluindo sete generais e oito coronéis,
são suspeitos de integrar um esquema que fraudou licitações,
superfaturou contratos, fez pagamentos em duplicidade e pode ter
desviado dos cofres públicos ao menos 15 milhões de reais entre 2003 e
2009, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU).
O
rombo, na verdade, pode ser maior. Apenas um dos envolvidos no
escândalo, o major Washington Luiz de Paula, acusado de montar a rede de
empresas fantasmas beneficiadas no esquema, acumulou uma fortuna
pessoal que surpreendeu os investigadores.
Dados
obtidos por CartaCapital revelam que o militar, com renda bruta mensal
estimada em 12 mil reais, teria cerca de 10 milhões de reais de
patrimônio em imóveis, incluindo um apartamento na Avenida Atlântica, em
Copacabana, bairro nobre na zona sul do Rio, estimado em modestos 880
mil reais, certamente por falta de atualização. Seria proprietário ainda
de duas casas na Barra da Tijuca, avaliadas em 2,9 milhões de reais
cada. Em nome de seu sogro, que recebe uma aposentaria de cerca de 650
reais, estaria registrado um luxuoso apartamento de 2,8 milhões de reais
na Barra (organograma à pág. 29). O inquérito que apura o caso revela,
ainda, que o major movimentou mais de 1 milhão de reais em sua conta em
apenas um ano.
Fadado
a decidir se indicia ou não o chefe do Exército, o procurador-geral
Roberto Gurgel terá ainda de tomar uma posição também sobre o foro
privilegiado dos generais, que só podem ser julgados pelo Superior
Tribunal Militar (STM), onde até agora um único general foi condenado, e
posteriormente absolvido no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por Mauricio Dias/ São Paulo (CartaCapital 662)
O
promotor militar Soel Arpini vai representar contra Roberto Gurgel,
procurador-geral da República, no Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP).
Em
abril de 2008, a Procuradoria-Geral da Justiça Militar encaminhou ao
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, representação do promotor
Soel contestando o foro privilegiado oferecido aos generais.
Gurgel engavetou o problema. Arpini pedirá que Gurgel se manifeste num prazo razoável. Ou o promotor invoca o “prazo moral”.
Em
caso de crimes militares, a jurisdição é o Superior Tribunal Militar
(STM), onde nunca, em tempo algum, houve condenações de oficiais desse
calibre.
Foro de generais II
Arpini sustenta que “só a Constituição pode criar foro por prerrogativa de função” e no caso dos oficiais-generais não foi assim.
Isso
criou uma situação inusitada que o promotor explica: “Se um general
comete um crime militar, ele é processado e julgado pelo STM. Se o crime
é federal, o processo corre no primeiro grau da Justiça Federal”.
Não há nenhuma outra autoridade, no sistema jurídico brasileiro, que tenha foro privilegiado em alguns crimes e em outros não.
Bandalha fardada
A versão do Exército sobre falcatruas no Departamento de Engenharia e Construção marcha com o pé trocado.
Ela
informa que, em razão de denúncia anônima de 2009, houve uma
sindicância que não conseguiu provar responsabilidades. Ainda assim, o coronel Dias Morales e o major Washington de Paula foram “temporariamente afastados”.
Dias
Morales voltou ao trabalho logo depois, porque era um jabuti na
forquilha. Como jabuti não sobe em forquilha, alguém o botou lá. No TCU,
os dois estão enterrados até o pescoço.
Essa mesma denúncia anônima resultou em inquérito do Ministério Público Militar com conclusões arrasadoras. Em razão desse IPM já existem cinco generais dependurados.
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A bandalheira fardada
Mauricio Dias - São Paulo (Carta Capital) - 22 de julho de 2011 às 10:47h
Apesar
da faxina que promove em alguns organismos do governo, a presidenta
Dilma Rousseff ainda está longe de ter se livrado das dores de cabeça
provocadas por denúncias e indícios de corrupção no Departamento de
Infraestrutura de Transportes (DNIT), a árvore das mais frondosas
bandalheiras no Ministério.
Na
sexta-feira 15, Dilma demitiu José Henrique Sadok de Sá, mais uma
cabeça coroada do Dnit. Além de diretor-geral, ele era o substituto
imediato do já afastado Luiz Antonio Pagot. Sá foi afastado após
denúncia de que a empresa da mulher dele tinha contratos da ordem de 18
milhões de reais com aquele departamento.
A
tormenta de Dilma nessa área pode piorar. Sadok de Sá é o fio de uma
meada que leva à sempre sensível área militar. Mais precisamente ao
Instituto Militar de Engenharia (IME), subordinado ao Departamento de
Ciência e Tecnologia do Exército e considerado um centro de referência
do ensino de engenharia nas Américas.
Um
Inquérito Policial Militar (IPM), aberto em maio de 2010 na Justiça
Militar, no Rio de Janeiro, e concluído agora, denuncia por crime de
peculato seis militares do Exército e nove civis “por desvio de recursos
públicos em licitações realizadas pelo Instituto Militar de Engenharia,
nos anos 2004 e 2005” referentes a convênios celebrados com o DNIT. O
prejuízo aos cofres públicos está calculado em 11 milhões de reais.
Um
dos vínculos entre os militares (IME) e Sadok de Sá (DNIT) está no fato
de Fábia Sadok de Sá, filha do diretor do DNIT, constar como contratada
da empresa WMW ANKAR.
Havia oito empresas participantes do esquema. A maioria delas formada por sócios, amigos e parentes.
O
nome da WMW ANKAR é de uma evidência gritante. Soma o W de Washington
(major Washington Luiz de Paula, um dos denunciados); o M de Marcelo; W
de William; o AN de Antonio (sogro de Washington); o KA de Khaterine
(esposa de Washington) e o R de Roberto (coronel Paulo Roberto Dias
Morales, outro oficial denunciado), registrada em nome de Antonio da
Cruz Fonseca (sogro de Washington-), da cunhada dele Edilania Fonseca-
Froufe (empregada do Dnit) e de Wilson- Agostinho (pai de William).
Entre
setembro de 2004 e julho de 2005, apenas dois meses após ter sido
criada, ela teria desviado dos cofres públicos quase 2 milhões de reais
(tabela).
Nos
depoimentos, militares e civis, irmanados, argumentam que agiram dentro
da lei. A denúncia contra eles, no entanto, derruba facilmente a tese,
principalmente pela forma com que conduziram a homologação das
licitações, a fase de liquidação das despesas e, enfim, o pagamento.
Um simples exemplo:
No
convite 43/2004, cuja execução seria de até 30 dias, foi pago 90,4% em
cinco horas. Tempo decorrido entre a emissão da Nota de Empenho e da
Ordem Bancária. O restante em dez dias.
Tudo,
como se vê, a tempo e a hora. Uma eficiência que não ocorre em qualquer
outro órgão público que não tenha esquemas ilegais alternativos.
Há
um fato extremamente relevante na trajetória do processo. Os autos
foram enviados à Procuradoria da Justiça Militar “em razão da atribuição
específica” desse órgão. Isso ocorre quando a denúncia envolve
generais. E há três deles denunciados.
A granada que vai explodir nas mãos do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
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