É
deplorável quando humoristas fazem comentários ofensivos ou
preconceituosos em veículos de comunicação de massa sob a justificativa
de liberdade de expressão. Como bem disse Marcelo Rubens Paiva,
quem conta “piadas” que ultrapassam o limite do bom gosto dizem ser
adeptos do politicamente incorreto, como se isso fosse hype e cool e,
portanto, justificasse tudo. Mas a retirada do apresentador Rafinha
Bastos da bancada do programa CQC da TV Bandeirantes, após as
repercussões negativas do último caso, é bastante representativa de como
as coisas funcionam no Brasil.
Quando
ele disse que mulher feia deveria se sentir agradecida por ser
estuprada, houve protestos e manifestações de rua e pedidos de
investigação ao Ministério Público Federal. Mas a emissora não o tirou
de lá. Agora que apareceu uma piada (de péssimo gosto) contra a cantora
Wanessa, esposa do empresário Marcos Buaiz, amigo do ex-jogador Ronaldo,
o que envolveu até patrocinadores, houve reação.
Uns
podem dizer que essa foi a gota d’água, que ele queimou a última chance
ou está sendo sacado pelo conjunto da obra. Mas o caso do estupro já
era forte o suficiente para repreendê-lo severamente ou retirá-lo de lá.
Particularmente, acredito que a audiência é um argumento poderoso e
leva à condescendência. Mais forte, porém, são relações sociais que
operam redes econômicas e análises de risco apontando perdas maiores que
ganhos.
Censura é uma coisa
abominável. Mas não pode ser confundida com a proibição de usar meios de
massa para a apologia ao crime ou à intolerância. Quando se fala de
controle social dos veículos de comunicação alguém grita “censura!” no
fundo da sala. Se feito com motivos políticos ou com a velha segunda
intenção, acredito que o grito tenha razão. Mas vale a pena refletir se
não é melhor termos uma instância democrática e não controlada pelo
Estado para acompanhamento do que é produzido e veiculado do que torcer
para uma metralhadora verbal atingir alguém fino, da mais alta classe
social, para ser reajustada ou desligada.
Em
tempo: Exceção e exemplo bem sucedido de mobilização social foi o caso
da retirada do programa “Tardes Quentes”, do apresentador João Kleber,
da Rede TV!
Em 2005, a Justiça
Federal concedeu uma liminar a uma ação civil do Ministério Público
Federal de São Paulo e seis organizações da sociedade civil contra a
emissora por conta das seguidas violações aos direitos humanos, em
especial dos homossexuais, no programa.
Conforme relata o site da ONG Intervozes,
uma das responsáveis pela ação: “a liminar suspendia imediatamente o
programa e determinava a exibição de outro, em seu lugar, em caráter de
contra-propaganda. A emissora não cumpriu a liminar, por isso, no dia 14
de novembro de 2005, pela primeira vez na história, uma emissora de TV
comercial teve seu sinal retirado do ar por decisão da Justiça”.
Para
resolver o impasse, a Rede TV! propôs um acordo com as entidades e o
MPF, levando à produção pela sociedade civil e à exibição da série “Direitos de Resposta“,
considerado o primeiro “direito de resposta coletivo” concedido e
realizado no Brasil. Foram 30 programas que substituíram durante um mês o
“Tardes Quentes” entre 12 de dezembro de 2005 e 13 de janeiro de 2006,
das 17h às 18h.
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