A religiosidade de Aécio
Depois
do registro da ombusdskinna da Folha de São Paulo, que reclamou por
seus artigos autolaudatórios, Aécio Neves assina um outro tipo de texto
nesta segunda-feira, 10 de outubro de 2011.
Até
o estilo muda: frases e expressões como, a padroeira “parece singrar
suavemente sobre o mar de cabeças devotas”, “eletricidade emocional”,
“conversível branco com estofamento de couro vermelho” e outros
tró-ló-lós indicam a pretensão, aeciana, de se credenciar à Academia
Brasileira de Letras. Que não anda lá muito criteriosa assim. Mas esse é
outro assunto.
O cenário da
prosa de hoje teria ocorrido durante a procissão de Nossa Senhora de
Nazaré, em Belém, 1985. Nela, Tancredo dividia com Nossa Senhora, as
atenções da multidão, segundo o neto em transe. Que formava um cordão
com mais de um milhão de pessoas, em torno do Aero Willys onde estavam,
“agasalhados pelo afeto da multidão”, ele e o avô. Insinua ele que a
multidão o reconhecia e o “agasalhava”. Risível pretensão. Detalhe: eram
mais de dois milhões de pessoas a pé, sendo impossível o “desfile” em
carro aberto, que só ele viu!
Ah,
a multidão, segundo o texto, saudava Tancredo como o “presidente da
redemocratização”, numa campanha que “arrebatava corações e mentes dos
brasileiros”. Aécio funde, de forma leviana, a assassinada campanha
pelas “Diretas Já”, com o início titubeante da “campanha” pelos votos no
restrito colégio eleitoral. Registre-se: a intensa devoção no Círio de
Nazaré sempre acolheu manifestações políticas: em 1985, as duas que
pontificaram foram pela reforma agrária e contra a discriminação racial.
A manifestação política pró-Trancredo ocorrera no Sindicato dos
Estivadores, à margem do evento religioso.
Mas,
vamos lá. A gororoba de seu escrito é para dizer que Tancredo abdicaria
de toda aquela “popularidade”, em nome das reformas estruturais,
algumas delas antipáticas que teria que fazer, mas que distinguiriam o
estadista. Aquele que não se rende a interesses paroquiais. Como quem
recebe um espírito, ele foi longe buscar uma frase antes inaudita, do
avô.
A escorregadela advinda da
referência depreciativa às paróquias, em meio a um artigo tão cheio de
fé e religiosidade, é perdoada. Ato falho de quem usa e abusa da fé
alheia para introduzir seu sermão político.
Ao
final, ele insinua que Dilma não é estadista. Que ele aprendeu a lição
do avô. Logo, ele seria estadista. Silogismo aristótélico de primeiro
grau.
Primeiro, ele poderia dizer
qual medida antipopular que Tancredo adotou em Minas Gerais, abdicando
de sua popularidade, que aliás só ocorrera em face de sua agonia e morte
trágica. Em dois anos de seu governo (1983/84), nenhuma ousadia foi
cometida. Tancredo não era dado a ousadias.
Em
segundo, falando de interesses paroquiais, ele poderia descrever o
porquê de ter nomeado como presidente da CODEMIG em Minas Gerais, o dono
do jatinho que fica à sua disposição, ou as nomeações de Papaléo Paes
(AP), Jungmann (PE), ou Wilson Santos (MT) como “aspones” em empresas
públicas mineiras. Isso sem falar em dezenas de “fichas-sujas” impostos
ao governo de seu sucessor, sendo que alguns deles condenados, outros
com bem indisponíveis, alguns presos e muitos outros sob investigação.
Achando
que sua historiografia farsesca passará impune, Aécio tenta se
apresentar como “líder” político desde 1985. Chegou a bancar um
documentário, que foi retirado do ar da TV Cultura de São Paulo, onde
ele era apresentado como líder da juventude nas Diretas-já (SIC). Na
verdade, à época, ele liderava boas festas em Belo Horizonte. Elegeu-se
no rastro da comoção pela morte do avô. Deputado-surfista, nunca propôs
as reformas ousadas que ele agora diz serem necessárias. Como
governador sucateou o estado de Minas Gerais, que se afunda numa dívida
de 70 bilhões!
Seus artigos
cifrados e criptografados dizem, para poucos que entendem, o seguinte:
eu acabarei com direitos trabalhistas, férias anuais, passarei a
aposentadoria para os 70 anos, liquidarei a estabilidade de servidores
públicos concursados, venderei o BB, a Caixa e a Petrobrás etc. É isso
que resta aos “estadistas” neoliberais!
Eis
o recado subliminar que ele manda à agiotagem financeira, às grandes
construtoras, aos usineiros, ao FMI e similares. De quem pretende ser
pároco.
No Minas Sem Censura
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