O primeiro, é que Serra não tem nada a oferecer.
Certa
vez, nos anos 80, Guilherme Afif Domingos – um dos melhores quadros
políticos da direita – me esclareceu a respeito da capacidade de Paulo
Maluf em arregimentar seguidores: "Ele tem credibilidade no mercado
político futuro", disse ele. A credibilidade decorria de dois fatores:
tinha potencial político e cumpria a palavra empenhada.
Serra
não tem mais futuro político nem se distingue pela lealdade partidária e
pessoal. Na verdade, é um ególatra altamente desagregador – conforme o
PSDB está testemunhando.
O segundo fator é a falta de discurso político.
Um
partido vive de bandeiras. Desde início dos anos 90 Serra é um vazio
cercado de ghost writers – que já debandaram. Não tem noção mínima sobre
nenhum dos temas portadores de futuro: gestão, inovação, educação,
desenvolvimentismo. Sua retórica atual consiste em analisar qualquer ato
de governo e apontar o que a medida não contempla - recurso de um
primarismo intelectual clamoroso -, com uma superficialidade tal que é
incapaz de entender as contraindicações das medidas que abraça por
efeito-oposição.
Hoje em dia, a
imagem de Serra está indissoluvelmente ligada ao obscurantismo
religioso, à intolerância, à dissimulação, tudo o que o PSD quer
esconjurar para se firmar como um centro-direita civilizado.
O terceiro fator é a incapacidade de agregar mais quadros técnicos ao partido.
Kassab
já tem o que queria, os quadros tucanos que Serra legou quando deixou a
prefeitura. E que continuarão com ele simplesmente porque Serra não
lhes oferece mais nenhuma perspectiva política.
Por
outro lado, o que menos Kassab deseja é a volta dos quadro
barras-pesadas que fazem parte do círculo íntimo de Serra – como Andrea
Matarazzo e a ex-vereadora Soninha Francine. Nos tempos em que assumiu a
subprefeitura da Lapa, Soninha tinha o hábito de desfeitear Kassab na
frente de outros subprefeitos, para mostrar que estava acima dele e do
lado direito de Deus Pai – Serra. O mesmo comportamento, aliás, de
Andréa.
Além disso, quando a
campanha eleitoral desnudou o político infame que era, Serra perdeu
também qualquer capacidade de aglutinar pensadores social-democratas
ligados à Universidade, sem nunca ter conseguido convencer os pensadores
mais conservadores.
As ligações
com Serra tornaram-se tão comprometedoras que o próprio FHC teve que se
afastar dos seus maus fluidos, para não afetar definitivamente sua
imagem.
O quinto fator é que a
influência de Serra sobre a velha mídia é declinante. Ele nada mais tem a
oferecer além de dossiês sobre adversários, esquemas de espionagem e
aliados incômodos.
Como não
existe vácuo em política, em breve a velha mídia estará caminhando rumo a
Aécio Neves ou outro pré-candidato que venha a preencher o espaço da
oposição.
Por tudo isso, o
habilidoso Kassab certamente já deve ter definido sua estratégia. Não se
afasta formalmente de Serra, aguardando que as próprias indecisões dele
o confinem e a seus seguidores ao seu espaço político real, que não é
maior que uma Kombi.
Luis Nassif
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