terça-feira, 18 de outubro de 2011

Telejornais: aula de manipulação



Quem está por tràs do policial que acusa Orlando Silva
Não dá mesmo pra assistir aos noticiários noturnos da TV (vi parte de dois deles nessa noite de segunda-feira e bastou para saber o tom de todos os outros).
O exemplo que tomo é o caso das denúncias de um ex-policial contra o ministro dos Esportes, Orlando Silva, publicadas pela revista-que-pensa-que-o-leitor-é-cego neste último fim de semana.
Que revista? Aquela cujo repórter tentou invadir o quarto de José Dirceu num hotel de Brasília, lembra? E dizem que Dirceu é que é o bandido...

Desta vez, o acusador, preso pela Polícia Federal no ano passado com outros quatro por fraude, diz que uma ONG de fachada recebeu R$ 40 milhões para programas esportivos com crianças carentes e desviou o dinheiro. Segundo ele, o ministro recebeu maços de notas de R$ 100 numa caixa de papelão na garagem do ministério.
Ok, a reportagem não apresenta provas, só acusações. É muito fácil acusar, basta ter um microfone oportunista por perto e nada a perder. O acusador diz ter gravações. Mas o que está esperando para mostrá-las? Por que não mostrou ao repórter? Se mostrou, por que a revista não as transcreveu?
Mas os telejornais da Band e do SBT já condenaram o ministro. Repercutem as denúncias da revista com ênfase que nem a revista deu.
A revista, muito a contragosto certamente, publica que o dinheiro desviado teria ido para o caixa do Partido Comunista do Brasil, mas pelas reportagens da TV parece que Orlando Silva gastou tudo com seu próprio bem-estar.
Se uma informação é omitida, a sujeira fica subentendida. E os verbos, cuja escolha evidencia toda a má intenção e má vontade contra uma das partes contida num texto jornalístico, também mostram que a grande imprensa já condenou mais um.
Não sei que interesses podem estar por trás dessa acusação que agora toda a grande imprensa reverbera. Mas é bom lembrar que há alguns dias um representante da Fifa esteve no Brasil e disse com todas as letras que a entidade vai passar por cima das leis brasileiras na organização do mundial. As primeiras vítimas foram estudantes e idodos, que não terão direito a meia entrada. A proibição da venda de álcool nos estádios também será solapada por causa de um dos patrocinadores da Copa. A entidade que dirige o esporte quer também, fechar todos os estabelecimentos que vendam produtos de concorrentes dos patrocinadores num raio de um quilômetro dos estádios.
Mas acho que não tem nada a ver com isso. É que os editores dos jornais e revistas são obrigados a produzir uma marola contra o governo por semana. Toda segunda-feira, é o mesmo roteiro, só muda a denúncia. Parece até que o senador Alvaro Dias faz parte do elenco, porque dá a mesma entrevista de sete em sete... Dias. E os comentaristas das emissoras, que de neutros não têm nada, vão destilando sua parcialidade numa aula às avessas para os estudantes de comunicação. Isso, meninos e meninas, assistam e aprendam como não se faz.
Joelmir Beting chega ao cúmulo de comparar o princípio jurídico da presunção de inocência (a prova cabe a quem acusa) ao direito de um motorista visivelmente bêbado recusar o teste do bafômetro.
No SBT, o aspirante a Joelmir, José Nêumane, também tenta ser irônico para disfarçar o maniqueísmo e sua obrigação quase contratual de ser contra o governo de Dilma Rousseff.
O ministro pode até ser declarado culpado no futuro, mas isso nunca foi jornalismo.

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