Não
dá mesmo pra assistir aos noticiários noturnos da TV (vi parte de dois
deles nessa noite de segunda-feira e bastou para saber o tom de todos os
outros).
O exemplo que tomo é o
caso das denúncias de um ex-policial contra o ministro dos Esportes,
Orlando Silva, publicadas pela revista-que-pensa-que-o-leitor-é-cego
neste último fim de semana.
Que
revista? Aquela cujo repórter tentou invadir o quarto de José Dirceu num
hotel de Brasília, lembra? E dizem que Dirceu é que é o bandido...
Desta vez, o acusador, preso pela
Polícia Federal no ano passado com outros quatro por fraude, diz que uma
ONG de fachada recebeu R$ 40 milhões para programas esportivos com
crianças carentes e desviou o dinheiro. Segundo ele, o ministro recebeu
maços de notas de R$ 100 numa caixa de papelão na garagem do ministério.
Ok,
a reportagem não apresenta provas, só acusações. É muito fácil acusar,
basta ter um microfone oportunista por perto e nada a perder. O acusador
diz ter gravações. Mas o que está esperando para mostrá-las? Por que
não mostrou ao repórter? Se mostrou, por que a revista não as
transcreveu?
Mas os telejornais
da Band e do SBT já condenaram o ministro. Repercutem as denúncias da
revista com ênfase que nem a revista deu.
A
revista, muito a contragosto certamente, publica que o dinheiro
desviado teria ido para o caixa do Partido Comunista do Brasil, mas
pelas reportagens da TV parece que Orlando Silva gastou tudo com seu
próprio bem-estar.
Se uma
informação é omitida, a sujeira fica subentendida. E os verbos, cuja
escolha evidencia toda a má intenção e má vontade contra uma das partes
contida num texto jornalístico, também mostram que a grande imprensa já
condenou mais um.
Não sei que
interesses podem estar por trás dessa acusação que agora toda a grande
imprensa reverbera. Mas é bom lembrar que há alguns dias um
representante da Fifa esteve no Brasil e disse com todas as letras que a
entidade vai passar por cima das leis brasileiras na organização do
mundial. As primeiras vítimas foram estudantes e idodos, que não terão
direito a meia entrada. A proibição da venda de álcool nos estádios
também será solapada por causa de um dos patrocinadores da Copa. A
entidade que dirige o esporte quer também, fechar todos os
estabelecimentos que vendam produtos de concorrentes dos patrocinadores
num raio de um quilômetro dos estádios.
Mas
acho que não tem nada a ver com isso. É que os editores dos jornais e
revistas são obrigados a produzir uma marola contra o governo por
semana. Toda segunda-feira, é o mesmo roteiro, só muda a denúncia.
Parece até que o senador Alvaro Dias faz parte do elenco, porque dá a
mesma entrevista de sete em sete... Dias. E os comentaristas das
emissoras, que de neutros não têm nada, vão destilando sua parcialidade
numa aula às avessas para os estudantes de comunicação. Isso, meninos e
meninas, assistam e aprendam como não se faz.
Joelmir
Beting chega ao cúmulo de comparar o princípio jurídico da presunção de
inocência (a prova cabe a quem acusa) ao direito de um motorista
visivelmente bêbado recusar o teste do bafômetro.
No
SBT, o aspirante a Joelmir, José Nêumane, também tenta ser irônico para
disfarçar o maniqueísmo e sua obrigação quase contratual de ser contra o
governo de Dilma Rousseff.
O ministro pode até ser declarado culpado no futuro, mas isso nunca foi jornalismo.
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