terça-feira, 18 de outubro de 2011

Um ano do Casa Grande





18/10/2011
A ideia surgiu no domingo à noite, na angústia da passagem do primeiro para o segundo turno das eleições presidenciais. Nos reunimos na sala do meu apartamento o Carvana e a Marta, o Eric Nepomuceno, a Regina Zappa – talvez alguém mais que eu possa esquecer e que me perdoará. Diante da questão sobre o que fazer, logo vieram duas ideias, quase que óbvias: um ato, como o do Canecão nas campanhas do Lula, com intelectuais e artistas, e um manifesto que congregasse não apenas os que tinham votado na Dilma no primeiro turno, mas também quem tivesse votado na Marina, no Plinio ou em outros candidatos da esquerda.

As duas presenças chaves eram claras para nós: Leonardo Boff e Chico Buarque, tanto para encabeçar o manifesto, quanto para serem presenças centrais no ato. Conseguir data na agenda da Dilma e definir o lugar. O Canecão com problemas, a outra sala com tamanho e trajetória era o Casa Grande. O primeiro, conseguido por contato com o Giles, em Brasilia, o segundo, com o Saturnino, no Rio.

Pessoas chaves na organização passaram a ser o Eric e a Regina na coleção de adesões – a que foram se somando tantos mais, numa avalanche de adesões -, o Glauber Piva,o Luis Fernando Lobo e a Tuca – que foi a apresentadora - na organização do ato. Eu, na coordenação dessa virtuosa equipe.

A partir daí se colocou em movimento uma onda de adesões gigantesca, pelo número e extraordinária pela importância. Nem vou citar aqui os nomes, seria injusto e impossível.

No dia do ato, todos os deuses estavam de plantão, tudo deu certo. Estivemos ali o dia todo nos preparativos, de repente começaram as chegar as pessoas, o medo de transbordar a capacidade foi confirmada logo. O pânico chegou rapidamente também, mas não havia nada a fazer.

A Dilma ia primeiro ao Jornal Nacional, chegaria direto. A dificuldade para definir quem falaria foi imensa, consultas todo o tempo para a coordenação da campanha, pela delicadeza do tema. Aí começaram a chegar os participantes, Niemeyer e Beth Carvalho cadeirantes.

Ficou definido que o Chico e o Boff falariam por último, antes da Dilma. Eu abriria, falariam, entre outros, a Marilena – com um pouco mais de tempo do que os outros-, o Fernando Morais, entre outros.

A Dilma chegou muito nervosa, depois daqueles 12 minutos de exposição na bancada do Jornal Nacional, foi para o camarim, preocupada com o povão do lado de fora, expliquei que não havia nada a fazer, havia um telão do lado de fora do Teatro, outro no saguão, não dava para permitir a entrada de todos, pelo risco da aglomeração excessiva.

Fomos para o cenário, faltava apenas o Chico, que só chegou com o ato começado, eu fazia as apresentações, parei para mencionar a chegada dele. A Dilma era ladeada por ele e pelo Boff. Conseguimos pautar a imprensa toda do dia seguinte, com a foto dos três.

Estava difícil convencer o Chico a falar. Aí o Boff tomou a palavra como último orador antes da Dilma e condicionou o Chico a falar, que pronunciou aquelas três frases sintéticas, formidáveis, que falavam tudo o que haveria que falar. O Boff fez a fala mais longa, com todo o seu carisma e simpatia.

Falou no final a Dilma, que tinha mudado totalmente seu estado de espirito, passava a estar em estado de graça, iluminada, revelando já o efeito do ato em toda a campanha. Terminado o ato a Dilma me ligou, para agradecer, para dizer que tinha sido o melhor ato da campanha.

Todos saímos dali com o sentimento de que algo de muito forte simbolicamente tinha ocorrido ali, pela participação de todos. Nos demos conta como havia um potencial de apoio, de solidariedade, de vontade de participar do movimento geral que o segundo turno representou, que estava como que escondido pelas manipulações midiáticas e pela falta de convocação dos artistas e intelectuais.

Há um ano do ato do Teatro Casa Grande, naquela segunda feira mágica entre o primeiro e o segundo turno, que ficou consignado como o momento da grande virada final, temos que resgatar aquele espírito, aquela comunidade formidável, aquele potencial extraordinário, para que a cultura brasileira volte a ser um eixo fundamental do governo e do Brasil que queremos construir.
Postado por Emir Sader às 14:32

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