A
vida já me concedeu, como imagino que a muitos dos leitores também, ser
testemunha de alguns fatos políticos importantes no Brasil e no mundo.
Testemunhei, por exemplo, como outros milhares de compatriotas, e ainda
menino, parte da campanha “O Petróleo é Nosso”, o suicídio de Vargas e a
comoção nacional de seu suicídio, o governo desenvolvimentista e ousado
de Juscelino Kubitscheck, o golpe civil/militar de 1964 contra o
governo legal de João Goulart, o AI-5, a luta armada da esquerda
revolucionária contra a ditadura, da qual participei.
Li
sobre a emblemática revolução cubana e de seus heroicos líderes Fidel e
Che, sobre o final da guerra da Coreia, sobre a invasão norte americana
do Vietnã em substituição aos franceses, sobre Mao Tse Tung e a Guarda
Vermelha, o Maio de 68 na França, a chamada primavera de Praga. Essa
lista, dos anos 80 para cá, seria ainda enorme… E talvez até maçante
para o leitor.
Embora ainda
existam pessoas que pensem o contrário, o homem é um ser político por
natureza. Toda sua ação é política, mesmo quando se diz apolítico ou se
nega a reconhecer a política nas relações humanas. Não é por acaso que
muitos, a mídia em particular, tentam cotidianamente despolitizar toda e
qualquer questão relevante que diga respeito à luta daqueles que ainda
acreditam numa mudança de rumos para o mundo em que vivemos.
Despolitizar é criar confusão, insegurança, preconceitos. Despolitizar é
dividir para continuar reinando.
O
avanço e a sofisticação dos meios modernos de comunicação, e aqui o
exemplo mais fascinante fica por conta da internet, obriga o homem
contemporâneo a um exercício constante e atento de tudo que se passa à
sua volta, sob pena de que se perca o sentido da civilização e assim nos
afundarmos em poucas horas nas trevas da barbárie.
O
propósito com que escrevo esses primeiros parágrafos é chamar a atenção
do leitor para que, ao organizar sua agenda de informações, leve em
conta não só a agilidade com que elas acontecem, mas também que deixe a
sua sensibilidade e o seu espírito crítico funcionando como antenas de
um momento histórico importante, polêmico, armadilhado com inúmeras
falácias e – sobretudo – resvalando para o perigoso terreno de um
fascismo revisitado. De um fascismo moderno, travestido de falsas
opiniões científicas ou sustentado por uma democracia enganosa, de
aparências, onde o cidadão comum tem a ilusão de que ao votar de quatro
em quatro anos está exercendo a sua liberdade de escolha nos que
“dirigirão” o seu país, o seu estado, a sua cidade. Ou que de fato
todos exercemos livremente nossa liberdade de opinião e pensamento.
Dou aqui dois exemplos, um internacional e outro caseiro:
1
– O vergonhoso e criminoso plano de invasão do Iraque sob o pretexto de
que aquele país possuía armas de destruição em massa. Provou-se que era
tudo mentira fabricada nos escritórios da Cia e do Departamento de
Estado norte americano. O mesmo esquema de dúvidas e mentiras parece
agora estar sendo construído contra o Irã, sob o pretexto de aquele país
tem intenções de fabricar armas nucleares. E se tiver? Os que acusam,
em particular EUA, Inglaterra e Israel, não possuem armas nucleares em
profusão? Uns podem e outros não? Por quais motivos?
2
– O ridículo e falsamente consciente vídeo gravado por menininhos e
menininhas (algumas nem tanto) globais em oposição à construção da Usina
de Belo Monte, aonde os argumentos sequer chegariam a empolgar uma
discussão de bêbados de botequim, mas com o firme propósito de
aproveitar aquilo que consideram a popularidade tele noveleira para dar
credibilidade a argumentos falaciosos contra uma obra que ajudará o país
a criar energia condizente para o seu desenvolvimento atual.
A
mídia internacional e a nacional, em particular, movimenta-se no
perigoso e delicado terreno da desinformação, da divulgação de meias
verdades ou mesmo de mentiras, da tentativa de desmoralização daqueles
que ainda ousam discordar das maravilhas do capitalismo ou daqueles que
procuram criar alternativas ao desmantelamento lento, gradual e
progressivo de um sistema econômico que já mais nada tem a oferecer à
humanidade, a não ser o seu canto do cisne.
Izaías
Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor,
entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA,
da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros
Amigos.
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