Os egípcios voltaram às ruas para manifestar oposição aos militares que tentam se perpetuar no poder depois da derrubada de Hosny Mubarak. Foram duramente reprimidos no que resultou em mais de 30 mortos.
Os militares, na verdade “militares s.a”, porque controlam setores mais lucrativos da economia egípcia, imaginavam que com alguns paliativos conseguiriam iludir o povo que derrubou Mubarak. O povo mostrou que não é bobo.
Como se o controle da economia pelos militares não bastasse, o Estado egípcio é contemplado com mais de 1,2 bilhão de dólares anuais pelos Estados Unidos, exatamente para manter o principal país árabe em sua área de influência. Os militares pediram desculpas pela repressão, mas não se comprometeram a abandonar o poder mesmo depois das eleições, até porque temem perder as bocas conquistadas nas últimas décadas.
É este verdadeiramente o contexto egípcio, que não pode ser ignorado e para que se julgue o pronunciamento quase diário de líderes ocidentais como Nicolas Sarkozy e Barack Obama ora em apoio às “reformas” (entre aspas mesmo) ou até mesmo nas eventuais críticas à violência. O nome disso é hipocrisia.
Em suma: palavras são palavras, mas a prática é que determina a verdade. Por estas e muitas outras, a chamada Primavera árabe só pode ser considerada primavera se prevalecer a vontade do povo. Com o controle dos militares s.a. no Egito, o outono prevalece, não mais a primavera.
Enquanto isso, na Líbia, o governo que tomou o poder com a derrubada de Muammar Kadhafi, está preparando um espetáculo midiático que antes de começar já se sabe qual será o desfecho. Não é preciso nenhuma bola de cristal para prever que Saif al Islam Kadhafi será condenado à morte pelas acusações que serão apresentadas no julgamento. O governo líbio avisou que não o entregará ao Tribunal Penal Internacional de Haia. Estão preparando um novo show midiático que será apresentado ao mundo e internamente.
O filho de Kadhafi foi preso no deserto quando tentava ir para Niger. A prisão só foi possível graças à delação de um integrante de sua guarda pessoal, devidamente recompensado com 1 milhão de euros, segundo informações.
Por ironia da história, Saif al Islam foi o responsável pela anistia de integrantes da al Qaeda que cumpriam pena na Líbia, inclusive o que posteriormente veio a se tornar o comandante militar do grupo que tomou Trípoli e produziu um espetáculo midiático ao entrar no local onde vivia Kadhafi. Saif era cotado como o sucessor político do pai.
Resta agora aguardar o desenrolar dos acontecimentos para conhecer melhor como será a Líbia, o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente africano (0,755), superior inclusive ao do Brasil (0,699).
Aguarda-se também constatar se esse índice utilizado pelas Nações Unidas para verificar como se encontra um país em termos de bem-estar de sua população será mantido. O tempo dirá.
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Em Portugal, o socialista Mario Soares, 86 anos, que já exerceu os mais variados cargos, de presidente a primeiro ministro, reapareceu assinando um manifesto conclamando o povo a reagir ao neoliberalismo que está sendo imposto goela a dentro aos portugueses. Os trabalhadores, como em outras partes da Europa, reagem com uma greve geral, enquanto a mídia de mercado faz a apologia dos “técnicos” impostos pelo capital financeiro.
Por aqui a mídia não é muito diferente, embora a crise ainda não tenha aparecido com a intensidade dos países europeus e dos Estados Unidos. Os articulistas de sempre torcem desbragadamente por soluções contrárias aos interesses nacionais e do povo. Silenciam totalmente sobre um grave problema que vem se arrastando há anos, o da dívida pública. São 1 bilhão de reais por dia gastos para o pagamento dessa dívida. E nada comentam sobre o que está na Constituição cidadã de 1988 e não foi cumprida até hoje: a realização de uma auditoria dessa dívida.
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Na quarta-feira, 23 de novembro, por iniciativa do Deputado Paulo Ramos (PDT), a combatente latino-americana Soledad Viedma, assassinada pela ditadura brasileira, recebeu a Medalha Tiradentes pós morte, entregue à filha Ñasaindy.
Paraguaia de nascimento, Soledad engajou-se na luta dos povos contra o autoritarismo e injustiças sociais. Esteve no Uruguai e em determinado momento foi vítima da violência de grupos de extrema direita, que ao detê-la queriam que fizesse uma saudação a Hitler. Soledad se negou a fazê-lo e teve pintada uma suástica em parte do corpo, além de ter sofrido atos de violência física.
O poeta e escritor uruguaio Mario Benedetti a homenageou com um poema musicado pelo cantante e compositor Daniel Viglietti.
Em Recife, na década de 70, a equipe de bandidos do delegado Sergio Fleury a matou depois de ter sido delatada por Anselmo dos Santos, o agente da CIA que ganhou o título de cabo da Marinha sem sê-lo.
A solenidade na Alerj foi importante não apenas como reconhecimento a Soledad Viedma como também para que as novas gerações sejam informadas sobre quem lutou para que o Brasil alguma dia pudesse ser um país mais justo e solidário.
E, não podemos deixar de dizer sempre que crimes contra a humanidade cometidos de 64 a 85, que a recém-criada Comissão da Verdade vai investigar, são imprescritíveis. E isso, apesar de a lei de anistia promulgada ainda no período da ditadura e por pressão de grupos que nunca foram julgados, dizer ao contrário.
Mário Augusto JakobskindÉ
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE .Direto da Redação
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