Para descobrir quem são os doadores da
campanha de um candidato, não é preciso ser um grande conhecedor de
política. Basta olhar quais empresas “vencem” as “licitações” e
enriquecem em seu mandato. No caso de Gilberto Kassab, essa empresa foi
a Controlar.
Depois de ter despejado uma dinheirama na campanha do atual prefeito, a
empresa foi generosamente recompensada com o contrato milionário de
inspeção veicular e saciou apetites de políticos da base aliada (como
Eduardo Jorge, do PV, secretário de meio ambiente) e de vários
empresários envolvidos.
Para beneficiar amigos, vale
qualquer negócio, até mesmo ressuscitar um contrato caduco de 1996,
ceder irregularmente terrenos da prefeitura para a empresa se instalar e
ainda dar R$ 900 mil dos cofres da prefeitura para ela investir. Entre
as mais de 30 fraudes encontradas, o prejuízo aos cofres públicos chegam a R$ 1,1 bilhão.
Filiado ao PL pelas mãos de Guilherme Afif,
Gilberto Kassab foi eleito vereador em 1992 e integrou o “centrão”,
núcleo do toma-lá-dá-cá na câmara. Mais tarde, em 1997, já pelo DEM
(então PFL), Kassab foi secretário de planejamento do governo Celso
Pitta, uma das administrações mais desastrosas que a cidade de São Paulo
já viu. Até que, em 2004, se tornou vice na chapa de José Serra nas
eleições municipais.
Dois anos depois, quando Serra abandonou a prefeitura para disputar o governo do estado, Kassab ganhou de presente o cargo de prefeito. Nas eleições municipais de 2008,
escudado por Serra, concorreu a reeleição. Mentiu descaradamente,
maquiou os problemas de São Paulo, investiu pesado na rejeição da
ex-prefeita Marta Suplicy e conseguiu se eleger para mais quatro anos. O
resultado é uma espécie de segunda gestão Pitta.
A incompetência já era conhecida. Nenhum plano de contenção contra as enchentes, falta de investimento em transporte público, semáforos constantemente quebrados, aumento da tarifa de ônibus.
De certa forma, dadas as baixíssimas expectativas, era até
esperado. Mas foi agora, no ano de 2011, que Kassab definitivamente
perdeu a vergonha e mostrou quem realmente é. Primeiro largou a cidade
para trás para cuidar da fundação de seu novo partido, o PSD, filho legítimo da falta de caráter com o fisiologismo (teve fraude até em assinaturas nas filiações). Depois fez novos amigos lá na CBF e no Corinthians, participando ativamente dos conchavos para financiar o Itaquerão. E, para consumar a tragédia, adulterou o valor do próprio salário e depois aumentou-o sem nenhum pudor.
Kassab nunca me enganou quanto a
falta de escrúpulos, mas conseguiu me enganar quanto ao estilo. Achei
que ele seria o próximo Maluf da política paulistana. Errado: Kassab
está muito mais para Sarney do que para Maluf. É o tipo de político
profissional que entra para a política pela porta dos fundos, que puxa
os sacos e tapetes certos e chega ao poder por elevação.É o tipo de
político que conhece a sordidez do sistema e opera muito bem pelos
bastidores, seja para atingir adversários, seja para costurar acordos.
Dessa vez, o ministério público entregou provas concretas, que dão base jurídica para um pedido de impeachment. O
bom senso nos diz que a única alternativa digna ao prefeito seria
pedir para sair. Mas nada disso vai acontecer. Mestre da cooptação,
Kassab, a essa altura, já deve estar se reunindo com o MP para costurar
um acordo que seja vantajoso para ambas as partes. Se tudo der certo
para ele, suas contas serão aprovadas por alguma manobra jurídica.
E como tudo sempre pode piorar,
em 2014 ele ainda poderá concorrer ao governo do estado, contando com a
amnésia e com o analfabetismo político do povo.Governantes escarnecendo
cidadãos faz parte de nosso cotidiano, mas fazia tempo que o
paulistano não era chamado de otário tantas vezes seguidas. Será que
dessa vez ele vai reagir? Gostaria muito de acreditar nisso, mas o
nosso histórico de obediência, apatia, egoísmo e conivência mostra que os fatos apontam para a direção contrária…Politicalha, Tragi-crônica
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