Do Viomundo - 25 de novembro de 2011 às 15:46
por Luiz Carlos Azenha
O
ex-ministro Franklin Martins quer que o Partido dos Trabalhadores
apresente um marco regulatório das comunicações baseado no cumprimento
da Constituição de 1988.
“Não se arranha a Constituição, mas não
se deixa a Constituição na prateleira. Ninguém pode ferir a
Constituição. Ninguém pode engavetar a Constituição. Devemos ter no
marco regulatório a Constituição na forma de marco. Na íntegra”.
Franklin
usou uma cópia da Constituição como “prop” durante boa parte de sua
apresentação; ao final, diante de militantes e jornalistas, leu os
trechos da Constituição relevantes para o debate. “Está tudo ali”,
disse, antes da leitura.
O ex-ministro gastou um bom pedaço de
sua fala com um tema antigo: a tentativa das corporações de mídia de
interditar o debate, alegando que a proposta de um marco regulatório
equivale a censurar a imprensa ou ameaçar a liberdade de expressão.
Franklin
lembrou que é filho de um jornalista que foi preso cinco vezes durante
a ditadura Vargas. O jornal do pai foi censurado. O ex-ministro disse
também que todos os que lutaram contra a ditadura militar no Brasil,
que nos infelicitou de 1964 a 1985, também lutaram contra a censura.
Sem ironia, lembrou que alguns dos que se arvoram defensores da
liberdade de imprensa e de expressão, hoje, colaboraram com o regime
militar ou pregaram a derrubada do governo constitucional de João
Goulart.
[Não sabe quem colaborou? Ouça entrevista com Beatriz Kushnir, autora do livro Os Cães de Guarda]
Franklin
disse que o quadro regulatório do setor, hoje, é o do “jeitinho”, dos
“laranjas”, um “cipoal de gambiarras”, a “terra de ninguém”, a “lei da
selva”. Lembrou que o Código Brasileiro de Telecomunicações, que rege o
setor de rádio e televisão, em breve vai completar 50 anos: é de 1962.
Disse
que os empresários brasileiros da radiodifusão, a um debate aberto,
amplo e transparente, parecem preferir um acerto de bastidores entre
eles, as empresas de telefonia e alguns funcionários do governo.
Franklin definiu este acerto entre quatro paredes como um “rachuncho”.
Disse que um acerto do gênero não daria certo em uma sociedade
sofisticada como a brasileira.
Se não houver acordo e, portanto,
marco regulatório, Franklin previu que as empresas de radiodifusão
serão engolidas pelas teles. Motivo? Em 2010, lembrou o ex-ministro, as
teles faturaram 180 bilhões de reais, contra 13 bilhões de reais do
setor de radiodifusão.
O ex-ministro enfatizou que o marco regulatório se refere às “comunicações eletrônicas”, não afetando a mídia impressa.
De
qualquer forma, disse que o governo Lula “comeu o pão que o diabo
amassou” com a mídia brasileira e lembrou três episódios que, segundo
ele, deixaram explícito que Lula e o PT respeitam o direito mesmo de uma
imprensa ruim: o jornal que sugeriu que o presidente da República era
um estuprador; o jornal que publicou na capa uma ficha falsa da
candidata Dilma Rousseff; a emissora de TV que gastou sete minutos para
provar a existência de um petardo disparado contra um candidato a
presidente. Franklin não mencionou os nomes do jornal, da emissora ou do
candidato da oposição.
Ele voltou a destacar o papel da
blogosfera como “grilo falante” e, para dar a medida da importância dos
blogueiros, citou como exemplo um episódio desta sexta-feira. A carta
em que o diretor de redação da revista Veja, Eurípedes Alcântara,
anuncia a saída do editor Mário Sabino, começa assim:
“Meus caros, antes que prevaleçam a maledicência e a desinformação, matérias-primas dos bucaneiros da internet,
gostaria de esclarecer o que existe de factual sobre a decisão do
Mario Sabino de deixar o jornalismo e, como consequência, seu cargo de
redator chefe de VEJA”.
A plateia riu.
O relato acima
reflete uma hierarquização pessoal. Para fazer a sua própria, ouça as
gravações (perdemos os minutos iniciais).
http://www.viomundo.com.br/politica/franklin-martins-ninguem-pode-engavetar-a-constituicao.html
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