Comissão da Verdade deve apurar somente ação de agentes do Estado
Integrantes não pretendem investigar atos de terrorismo praticados pela esquerda na ditaduraComentário do blog: o Tribunal de Nuremberg não julgou as vítimas do nazismo, mas sim os criminosos nazistas. Alguém conhece um membro da Resistência Francesa condenado por terrorismo contra os nazistas?
Roldão Arruda e Wilson Tosta, de O Estado de S. Paulo
A Comissão Nacional da Verdade, que será instalada oficialmente
nesta terça-feira, 15, irá se dedicar à investigação de violações de
direitos humanos cometidas por agentes do Estado nos anos do regime
militar. Embora seus integrantes ainda não tenham se reunido
oficialmente, suas declarações indicam que a avaliação de atos de
terrorismo praticados por militantes de esquerda que se opunham à
ditadura não fará parte de seu trabalho.
Em entrevista ao Estadão, o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, uma das sete personalidades escolhidas pela presidente Dilma Rousseff para compor a comissão, foi enfático: “O
único lado é o das vítimas, o lado das pessoas que sofreram violações
de direitos humanos. Onde houver registro de vítimas de violações
praticadas por agentes do Estado a comissão irá atuar”.
Na avaliação do diplomata, nenhuma das quase 40 comissões da verdade
instaladas no mundo tiveram como objetivo ouvir dois lados, como desejam
setores militares brasileiros: “Nenhuma comissão da verdade teve ou
tem essa bobagem de dois lados, de representantes dos perpetradores dos
crimes e das vítimas. Isso não existe”.
Nesta segunda-feira, 14, no Rio, ao ser homenageada por alunos e colegas
da Escola de pós-graduação em Políticas Públicas e Governo, a
professora e advogada Rosa Cardoso, também convidada para a
comissão, praticamente descartou a possibilidade de investigar crimes
(?) cometidos pelas organizações armadas. “Vocês sabem que o Brasil
não está inventando, não está inovando institucionalmente quando cria
uma comissão da verdade. Hoje existem 40 comissões criadas no mundo”, afirmou. “Essas
comissões, quando são criadas oficialmente, pretendem rever condutas de
agentes públicos. E é isso o que fundamentalmente nós vamos rever:
condutas de agentes públicos.”
Rosa foi advogada de dezenas de presos políticos. O mais famoso foi Dilma Rousseff.
Sobre as manifestações de militares da reserva que insistem que a
comissão deve investigar a resistência armada, procurou ser diplomática:
“Acho legítimo que expressem. Eles gostariam que esse passado tivesse
já passado, fosse uma página virada. Não é. E eles preferiam que não
houvesse a criação dessa justiça de transição”.
O advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça no governo de
Fernando Henrique Cardoso e ex-diretor da Comissão de Justiça e Paz da
Arquidiocese de São Paulo, também disse ao Estadão, por telefone, que o
objetivo principal da comissão será a investigação de violações de
direitos humanos cometidos por agentes de Estado. “Esse deve ser o
objetivo, quando começarmos a trabalhar. “Todos os fatos que chegarem ao
nosso conhecimento serão analisados.”
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