Do Blog do Mauro Santayana - 24/5/2012
Mauro Santayana
(Revista
do Brasil) - Em todos os encontros internacionais, entre eles o de
Cartagena de Índias, no mês passado, o Brasil vem reafirmando a
independência em suas relações externas – depois da vergonhosa
capitulação ocorrida durante o governo dos dois Fernandos, Collor e
Cardoso.
Política externa soberana não significa o jogo retórico
de declarações agressivas, mas a exposição clara de uma atitude serena, e
firme.As relações entre os Estados nacionais são semelhantes às que se
dão entre os vizinhos.
O ideal é a amizade solidária, mas sem
perder de vista o direito de cada uma das famílias a viver de acordo
com suas ideias, suas regras próprias de conduta, e seus interesses
privados. É assim que as visitas são recebidas em espaço próprio, com a
família reunida, e a conversa gira em torno dos interesses gerais.
Nenhum visitante honrado dirá aos donos da casa como governar a sua
família. Nas relações internacionais essa conduta era conhecida, até
tempos recentes, como o princípio da autodeterminação dos povos e de não
ingerência em seus assuntos internos.O ideal nas relações externas é o
da universalidade. Devemos manter o diálogo diplomático com todos os
países do mundo, mesmo que a sua política interna nos desagrade.
Enquanto eles não prejudicarem os nossos interesses nem ofenderem a
dignidade de nosso povo, não há por que cortar os contatos nem impedir
os negócios de vantagens recíprocas. Essa universalidade, no entanto,
não nos impede de ter laços mais fortes com um ou outro país, de manter
alianças políticas e comerciais com determinadas nações ou conjuntos de
nações.
A política de alianças internacionais é tão antiga quanto
as comunidades autônomas. Elas já existiam nas tribos pré-históricas, e
sempre se fazem para a defesa ou para a conquista. Entre outras
alianças de povos primitivos, que o Brasil conheceu de perto, temos a
Confederação dos Tamoios – a tentativa, frustrada, da retomada, pelos
índios brasileiros, de sua soberania sobre o território, com a expulsão
dos portugueses. O erro político dos Tamoios foi buscar a aliança com os
franceses, e não ampliar a confederação com outras nações autóctones – o
que significaria apenas a troca de amos.De qualquer forma, os Tamoios –
em tupi, os donos antigos do território – tiveram como resultado o
abandono posterior da escravidão dos nativos.
O Brasil,
naturalmente, está se compondo com a China, a Rússia, a Índia e a África
do Sul, em aliança conhecida como Brics. Não é uma formação de caráter
ideológico nem militar, mas organização de interesse econômico e de
defesa da soberania de cada um deles. Como em todas as alianças, nessa
incorrem riscos, mesmo porque o peso econômico e militar de seus membros
é desigual.Corre-se, entre outros riscos, o de deixarmos em segundo
plano a aliança prioritária, com os nossos vizinhos da América do Sul. É
preciso romper os tabus, que nos perseguem há mais de um século, e
acelerar os entendimentos entre os que vivemos lado a lado e temos
origem histórica comum. Mas – e essa tem sido a postura do governo,
desde Lula – levamos em conta que o Brasil pode ter inimigos, mas não
deseja ser inimigo de ninguém.
Daí a correta posição da
presidenta da República: defesa da economia nacional é uma coisa,
protecionismo é outra.É certo, no entanto, que, em alguns momentos, as
duas ideias se justapõem. Entre a acusação de protecionismo e a de
entreguismo, é preferível a primeira.
Foi com o protecionismo de
sua marinha mercante – assumida por Cromwell, em 1651, com o primeiro
dos Navigation Acts – que a Inglaterra se tornou a grande potência
imperial do século seguinte.Um país das dimensões do Brasil necessita do
comércio internacional, mas a sua imensa potencialidade está dentro das
próprias fronteiras. Está em seu povo, que deve ser protegido contra
qualquer forma de domínio estrangeiro.
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