Do Blog do Kotscho -12/5/2012
Ricardo Kotscho
Banqueiros.
Latifundiários. Militares. Quem mais teria coragem de enfrentar os
interesses destas corporações em assuntos considerados intocáveis até
outro dia, como queda de juros, reforma do Código Florestal e criação
da Comissão da Verdade, verdadeiros tabus históricos?
Sem se
preocupar com o que os outros vão pensar, a presidente Dilma Rousseff
resolveu ir à luta em variadas frentes nas últimas semanas, comprando
muitas brigas ao mesmo tempo. Vai ganhar todas? Só o tempo poderá
dizer, mas ela não é de fugir da raia.
"Com a popularidade que
esta mulher tem, até eu...", poderia desdenhar algum representante dos
5% que não gostam do governo dela.
Não é bem assim, como ouviu na
semana passada o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao fazer um
comentário sobre a alta aprovação de Dilma nas pesquisas, durante
reunião em que ela explicou aos empresários as mudanças nas regras da
caderneta de poupança, outro tema delicado que ela resolveu encarar.
"Eu
vou fazer o que tem que ser feito, sem me preocupar com pesquisas",
respondeu-lhe Dilma, resumindo o espírito da presidente que se tornou
um lema do seu governo prestes a completar 18 meses.
Por que
fazer tudo ao mesmo tempo?, cheguei a me preocupar, ao ver as decisões
anunciadas, que mexem com os interesses de setores sempre tão temidos
pelos governantes.
Depois das conversas que tive no Palácio do
Planalto no final do mês passado, percebi que a presidente resolveu
assumir em suas mãos o comando e a iniciativa política, mesmo em
questões econômicas, exatamente como fez o ex-presidente Lula em seu
segundo mandato.
"Este é um governo monocrático", explicou-me um
dos interlocutores frequentes da presidente, quando me queixei a ele da
dificuldade para obter informações. Dilma centraliza todas as ações em
seu gabinete e não gosta quando seus ministros saem por aí dando
declarações, mesmo em off, sobre assuntos qua ainda não estão decididos
por ela.
Como a presidente fala pouco, e só ela quer falar em
nome do governo, os jornalistas de Brasília que cobrem o Palácio do
Planalto sofrem, assim como os seus colegas de outras cidades.
Agora,
ao ver o pacote de medidas polêmicas anunciadas nas últimas duas
semanas, entendi a razão: Dilma toma suas decisões com cuidado,
amadurece sem pressa os seus projetos e procura preparar o terreno antes
de anunciá-los, como aconteceu na última semana com a Comissão da
Verdade.
A lei que criou a comissão foi assinada por Dilma em
novembro do ano passado, mas ela fez questão de escolher pessoalmente,
um a um, sem ceder a nenhum lobby, os sete nomes que anunciou na
quinta-feira. Conheço a maioria deles e posso garantir que o time é da
melhor qualidade, tanto do ponto de vista moral como profissional.
Na
mesma noite, ela convidou os notáveis para um jantar no Palácio da
Alvorada, explicou o que espera deles e deixou claro que não quer
qualquer "revanchismo" contra os militares. "A Comissão da Verdade é um
orgão do Estado e não do governo", resumiu.
Este é o estilo
Dilma que vai se consolidando: pode demorar para agir, mas quando age
procura ter o domínio da situação. Foi assim também com a questão da
queda dos juros, que só anunciou depois de longas conversas com os
donos dos bancos e economistas da sua confiança.
E será desta
forma que a presidente vai decidir sobre os vetos ao Código Florestal
aprovado pela Câmara. Ao movimento "Veta, Dilma", criado pelos
ambientalistas, agora surgiu também o "Não veta, Dilma", patrocinado
pelos ruralistas. Dilma acompanha de longe o debate na internet e, com
calma, vai amadurecendo a sua decisão, que pode não contentar nenhum
dos dois movimentos.
Se algum assessor lembrar a ela o
descontentamento de um lado ou outro, que militares, banqueiros,
parlamentares da base aliada ou vendedores de couve podem não gostar
das suas decisões, Dilma costuma reagir com duas palavras: "Problema
deles". Os donos da mídia já perceberam isso.
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conseguiram uma vitória em agosto contra a Alphabet (a dona do Google), com
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