Mas afinal que lógica é essa e que "mercado" é esse?
No Brasil existe uma coisa que chamam de "mercado", que vem definindo os juros da dívida pública que o governo tem que pagar.
"Mercado" no capitalismo clássico, é o conjunto de encontros de quem quer comprar com quem quer vender (idealmente ao acaso), de acordo com a lei da oferta e da procura.
Mas no caso da dívida brasileira, "mercado" é algo como uma dúzia dos maiores banqueiros privados que resolvem combinar a taxa de juros que aceitam receber para aplicar o dinheiro que controlam na dívida pública do governo.
A grosso modo, a coisa funciona assim:
O Brasil precisa rolar sua dívida, emitindo títulos novos, para cobrir títulos que estão vencendo, pelo menos em parte, senão teria que ir liquidando a dívida toda e não sobraria dinheiro para mais nada, nem para pagar salários, nem aposentadorias, nem para o SUS, nem para o PAC. Enfim, o Brasil pararia.
O Banco Central e o Tesouro Nacional oferecem os títulos com uma determinada taxa, em leilão público, equivalente a uma licitação.
Se a taxa for considerada baixa pelo "mercado" (o cartel dos banqueiros), o leilão fracassa. Daí o Banco Central e o Tesouro Nacional precisam oferecer taxas o "mercado" exige.
Quem compram estes títulos são os bancos, com o dinheiro que eles controlam, seja dos clientes que está aplicado em fundos de renda fixa, seja o dinheiro dos planos de aposentadoria complementar, seja de rentistas milionários, seja de fundos e investidores estrangeiros que trazem dinheiro para o Brasil em sofisticadas operações financeiras.
Se banco fosse empreiteira, esse chamado "mercado" que compra títulos em leilão, poderia ser confundido com formação de cartel para combinar licitação superfaturada.
O dinheiro dos fundos de renda fixa e de planos de aposentadoria complementar oferecidos pelos bancos é em grande parte aplicação de brasileiros de classe média.
Quando a maior massa deste dinheiro que rola a dívida fica na mão dos bancos privados, são eles que dão as cartas nos leilões, impondo as taxas de juros.
A solução vem com mais brasileiros transferindo suas contas bancárias para a Caixa e o Banco do Brasil.
Quanto mais dinheiro de fundos de renda fixa, ou aposentaria complementar, estiver nos bancos públicos, mais eles poderão participar dos leilões do Banco Central e do Tesouro, comprando títulos com juros menores, mais fiel à realidade de mercado mundial e não à imposição do cartel de banqueiros.
Por isso que é importante todos os brasileiros que sejam progressistas e nacionalistas, transferirem suas contas bancárias, suas poupanças, seus financiamentos, seus investimentos em fundos e aposentadoria complementar para bancos públicos, mesmo nos casos de pessoas que tem investimentos e não dívidas.
Alguém poderá perguntar: qual a vantagem para quem tem dinheiro aplicado se o objetivo final será reduzir a remuneração da aplicação?
A vantagem é ganhar na outra ponta. A maioria das pessoas de classe média, tem dinheiro aplicado para comprar um bem durável, um imóvel, dar entrada em algum negócio, ou como reserva para emergências. Quando os juros caem, a aquisição destes bens também torna-se mais barata, mais acessível, porque o custo financeiro embutido no preço dos produtos e dos empreendimentos também cai.
Se a aplicação rende menos, com o dinheiro que estará lá se conseguirá comprar mais.
Além disso, com juros menores para rolar a dívida, abre espaço no orçamento público para investimentos e aumento nos salários e aposentadorias, fazendo a roda da economia girar, gerando um ciclo de prosperidade para todos.
A não ser banqueiros e grandes rentistas que vivem de intermediar capitais, não há razão para se apegar a juros altos no Brasil, pois são tão enganosos como era a alta rentabilidade da poupança na época da hiperinflação.
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