segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Secretário Panetta e Um Possível Grande Bolo Binacional Assando



Por Roberto Silva, Blog DefesaBR
 
O secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta , proferiu uma palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril de 2012.

Destaquei nessa palestra apenas 21 trechos, e gostaria de observar, conjecturar e até perguntar de um em um sobre o que me parece ser um grande bolo binacional assando no forno
neste exato momento:


1) Esta palestra aparentemente buscava ser uma janela para o grande público onde se transmitiria a mensagem americana de dias melhores e relações mais igualitárias entre os EUA e
o Brasil.
 

>> Palestras na ESG jamais chegam ao grande público, a não ser que fosse proferida pelo Obama em pessoa. Mas um preparativo dirigido às elites pensantes pode ser bem válido aqui.
 

2) Ele falou que os dois países se encontram num ponto crítico da história em comum.

>> Estamos em uma época de grandes mudanças: a Europa cairá em crise profunda e deverá arrastar países como os EUA e a China, a grande exportadora que ficará sem mercado. Os EUA estão bastante endividados e são uma potência econômica decadente. Já o Brasil tem sido bem mais fechado a tudo e é uma potência econômica ascendente. Mas todos sofrerão a crise.


3) Está na hora de forçarmos o nascimento de um novo acordo, simultaneamente forte e inovador, baseado nos interesses mútuos dos dois países, enquanto potências ocidentais.
 

>> Já que ele fala pela área de Defesa dos EUA, e em nome do governo Obama, fica óbvio que os dois governos estão costurando uma grande aliança na área, ou ele não perderia tempo falando sobre isso no Brasil, como não perderia tempo falando a respeito no Chipre ou na Nova Guiné. Essa aliança será forte e inovadora, mas ainda falta explicarem aos dois povos como ela será de fato, se é que haverá alguma .

>> Suspeito que a coisa esteja bastante quente . Evidências como a recente e intensa ponte aérea de autoridades do primeiro escalão entre as duas capitais não podem ser negadas. O FX-2 seria mero detalhe, porém, seria ainda uma peça fundamental na receita do grande bolo.


4) O Brasil se encontra prestes a tomar o seu justo lugar na comunidade das nações.


>> Na hora certa, poderá ser anunciado pelo presidente Obama o apoio explícito ao Brasil pelo sonhado assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Esta será a cereja do bolo. Provavelmente, haverá um grande anúncio com Obama e Dilma juntos em rede (bi) nacional. Mas não será um presente sem custos elevados para o Brasil.
 

5) Partimos agora para novos desafios como o extremismo violento, países desestabilizadores como Irã e Coréia do Norte, potencias ascendentes no Pacífico.
 

>> A grande preocupação dos dois países passa a ser a atitude aventureira da China, que já se entende como a grande potência mundial e futura dona do planeta. É inevitável por sua demografia e sua tendência política, que ela tenderá a fazer conquistas territoriais a ponto de dominar a Ásia , como primeiro passo.

>> Em futuro não distante , procurará tomar toda a África, colonizando-a a ferro e fogo, e vindo para este hemisfério quando tiver consolidado esses dois lados . Este será um mundo chinês se nada for feito.


6) Todas estas ameaças são maiores do que as capacidades de qualquer país, atuando individualmente . E se referiu ao grande déficit econômico que seu país vem acumulando nos últimos anos.


>> A crise europeia se juntará ao problema do endividamento americano , causado pelos enormes déficits anuais , e ainda sem qualquer enfrentamento de fato, dado que 2012 é ano de eleições.


>> Os irresponsáveis republicanos e democratas lavaram as mãos por causa própria , acima mesmo da causa de seu país, que irá pagar caro por esse erro mais à frente. Sendo assim, os EUA precisarão de novos aliados e se esforçará por ajudar a fortalecer seus músculos.


7) Ele elencou a estratégia americana para o futuro. Uma nova visão baseada em forças armadas norte americanas mais 'magras', mais flexíveis, mais ágeis e mais rápidas e mobilizáveis globalmente com uma clara vantagem tecnológica sobre seus oponentes.


>> Qual será essa vantagem tecnológica e o que será que o Brasil tem a ver com isso, até mesmo como novo parceiro? A mobilidade é a solução que o Brasil também persegue. Já os EUA precisam eliminar e realocar muitas de suas centenas de bases distribuídas pelo planeta. Quando fizer isso, estará começando a resolver seus problemas e voltando a ser forte.


8) Os EUA estão se redirecionando para a região da Ásia-Pacífico. Panetta prega uma "retomada" dos acordos de segurança entre os EUA e seus parceiros, e a construção de novas alianças ao redor do mundo.


>> O Brasil se insere nessa construção de novas alianças e assim o Atlântico Sul deverá ser sua área exclusiva de segurança para que os EUA possam se concentrar mais na região da Ásia-Pacífico.


9) Apontou como "tecnologias do futuro": o espaço, os UAVs, os sistemas de coleta e a coleta e o processamento de inteligência assim como a mobilização rápida dos meios militares.


>> Podemos ligar o tema mobilização rápida com o tema espaço? Será essa grande vantagem tecnológica referente ao espaço? Algum esforço binacional estará inserido neste contexto?


10) Complementando a declarada incapacidade das FFAA americanas de fazer tudo sozinhas, o secretário disse que mais nações precisariampassar a realizar uma contribuição crescente para manter a segurança global. Novas parcerias como a que queremos ter com o Brasil são umexemplo disso.


>> Ele deve estar falando, no caso do Brasil, sobre a segurança do Atlântico Sul e uma forte evolução em mobilização rápida de grande monta. Tem havido um maior envolvimentoentre Forças Especiais dos dois países. Não duvido que multipliquemos esses efetivos logo.


11) Um novo diálogo, dirigido por ambos os presidentes, transformará a relação entre Brasil e Estados Unidos na área da "Defesa".

>> Se isso não é um pré-anúncio de algo grande vindo a caminho, não entendo mais nada. Um novo diálogo transformando a relação de Defesa? O que será isso na prática? Podemos passar horas conjecturando a respeito.

 
12) O Brasil é hoje um líder global e chegou nesta condição por merecimento. Estamos felizes com o crescimento do Brasil e gostaríamos de ver um maior envolvimento do Brasil nas questões militares internacionais.


>> É o que deve estar sendo costurado, ou assado no forno, pois nada é oferecido de graça, tudo tem um preço. O Brasil não receberá um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU sem ter que se envolver diretamente nessas questões.


>> Pagará um preço que também protegerá sua soberania. Precisará ter meios de combate muito acima do que dispõe hoje. Isso explicaria a transformação da relação de Defesa. Pode haver aí uma aliança na base industrial de Defesa. Embraer e Boeing já estariam à frente do tempo neste processo.


13) A cooperação mais próxima já começou na resposta ao terrível terremoto de janeiro de 2010 no Haiti nossas forças armadas trabalharam lado a lado. Recentemente assinamos dois acordos de cooperação, uma para permitir a troca de informação sensível e outro parta dinamizar o treinamento conjunto. Na resposta aos desastres naturais, Brasil e EUA podem se aproximar mais um do outro para cooperar e para aprender como responder de uma forma conjunta.


>> O termo “respostas conjuntas” parece ser uma das chaves da receita desse grande bolo. Estamos desvendando o enigma?


14) Novos convites foram feitos para envio de brasileiros para cursar as escolas militares nos EUA e para americanos cursarem escolas no Brasil como o CIGS [Centro de Instrução de Guerra na Selva em Manaus].


>> Já existe essa rotina há décadas, mas há agora uma intensificação que pode ser uma aproximação de um novo patamar sem precedentes. Aí retorna o termo "conjunto".


15) Além disso estamos convidando a Marinha do Brasil para participar de exercícios desde a costa do Rio até a da África. A Força Aérea dos Estados Unidos já participou pela primeira vez do último Exercício Cruzex e no ano que vem a FAB aceitou participar novamente do exercício Red Flag [em Nevada].


>> Cruzex e Red Flag são interessantes aprendizados e nos trazem evoluções. Já uma operação da MB na costa da África é um outro departamento que demandará novos e grandes meios navais. A ajuda inicial americana será fundamental nesse processo.


16) Nossa relação atualmente é mais forte que já foi desde 1945.


>> Será isso mais uma pista de toda essa intensificação ou será uma mera palavra política?


17) A partir de agora desenvolveremos uma profunda cooperação científica entre os Estados Unidos e o Brasil, aproximando as instituições de pesquisa militar para a realização de projetos em comum.


>> Por que usar a palavra “profunda” se não for algo realmente inovador e conjunto? Já existemalguns projetos em comum da USAF no Brasil, tanto no emprego do laser como no advento do voo hipersônico. Que tipo de projeto ligará as duas agências espaciais?


18) No plano geográfico, apontou o continente africano como sendo um foco possível para a cooperação dos dois países uma vez que ambos compartilham interesses estratégicos por lá. "A realização de exercícios conjuntos naquela área é um bom caminho adiante".


>> Novamente, a preocupação com a África, de onde ambas as nações trazem raízes que moldam responsabilidades comuns. Haverá a construção de bases no continente para a defesa desses interesseses tratégicos, inclusive uma brasileira? Poderão ser conjuntas também?


>> Nossos interesses comuns lá estão concentrados na defesa da costa oeste, que possui uma extensa província petrolífera de norte a sul, como a do Pré-Sal no Brasil.

19) O Brasil é uma 'Potencia Econômica' e a cooperação em alta tecnologia binacional que precisa fluir em ambas as direções parece estar sendo limitada pelos controles de exportação existentes atualmente. Respondendo a isto, tomamos a decisão de liberar 4.000 licenças de exportação diferentes para o Brasil, um patamar semelhante ao que temos com nossos melhores parceiros globais.


>> Isso não tem sido divulgado, mas o Brasil vem processando uma mudança política no câmbio para poder voltar a ser um exportador e enfrentar essa parceria da melhor forma. A exploração do petróleo do Pré-Sal está em jogo e poderá se dar de forma conjunta, principalmente no difícil processo de sua agregação de valor. De que modo se dará essa cooperação em alta tecnologia binacional?


20) Sobre as chances do caça F-18 Super Hornet no F-X2, ele "garantiu" o pleno apoio tanto do executivo quanto do legislativo americanos a esta exportação para o Brasil. Ligado a esta venda existe o potencial de se transformar a relação entre as indústrias de defesa dos dois países radicalmente.


>> Segue destacado "o FX-2 e a transformação da relação entre as indústrias de defesa dos dois países". Até que ponto?


21) No fundo, Brasil e EUA são dois países que têm muitos interesses e valores em comum e esta oportunidade de trabalharmos juntos agora é finalmente algo tangível.


>> Afinal, o que será que já existe de tangível? O secretário Leon Panetta não viria ao Brasil fazer uma palestra desse nível apenas para reforçar os esforços de venda da Boeing.


>> Em suma, existe mesmo esse grande bolo binacional assando no forno ou apenas um apelo político pelo Super Hornet? Tal palestra parace ser rica e detalhada demais para ser somente uma fantasia de um secretário da defesa dos EUA, que tem mais o que fazer.
 

 
Fonte: DEFESABR

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Do BURGOS ( cãogrino).

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