Os banqueiros financiaram campanhas, mas não foram eleitos para governar o país
De um lado: os trabalhadores, os profissionais liberais, a classe média
em geral, os empresários da indústria, do comércio e da agropecuária. De
outro: os banqueiros. A presidente Dilma Rousseff está, pois, do lado
certo ao pregar e trabalhar pela queda dos juros e dos spreads
bancários. Certa sob o ponto de vista da direção da economia do país e
certa porque está ao lado da população que trabalha e produz, contra o
setor que pode até trabalhar, mas nada produz e é o que mais lucra.
“Agora é tudo agiotagem”, disse o ex-banqueiro José Eduardo Andrade
Vieira (do extinto Bamerindus) ao Valor Econômico. E, ao combater os
juros abusivos, Dilma ainda cria condições para aumentar ainda mais sua
já alta popularidade.
Só quem ganha com os juros altos, com as altíssimas tarifas bancárias e
com os elevados spreads são os banqueiros e os acionistas dos bancos.
Seus lucros são estratosféricos. Seu negócio é guardar, comprar e vender
dinheiro, em última análise. Quem perde com essa “lógica perversa”,
nas palavras de Dilma, é o país e o setor produtivo, que inclui capital e
trabalho. Se existem hoje as condições objetivas para que esses juros
sejam reduzidos e para que o custo dos empréstimos sejam menores, é
natural que a presidente da República defenda isso e o governo trabalhe
nesse sentido.
As reações contrárias não vêm, porém, apenas dos banqueiros e seus
porta-vozes, economistas, jornalistas e relações-públicas muito bem
remunerados. Há reações também, algumas meio envergonhadas, de segmentos
que nada perdem e muito ganham com a redução dos juros. Mas não é
difícil entendê-las: são políticas ou ideológicas.
O fortalecimento do governo de Dilma e o sucesso de sua política
econômica não interessam, naturalmente, aos que lhe fazem oposição.
Quanto mais popular a presidente e seu governo, menores as chances de
vitórias eleitorais dos oposicionistas à direita e maior a perspectiva
de que o PT continue no Palácio do Planalto. Nesse aspecto, inclusive,
os tucanos, presumivelmente social-democratas, discrepam da
social-democracia europeia, que hoje se opõe com nitidez ao domínio do
setor financeiro sobre o Estado.
Há também, além da política, a questão ideológica. Embora existam
historicamente contradições entre o capital industrial, o capital
comercial e o capital do agronegócio, por um lado, e o capital
financeiro e especulativo, por outro, ideologicamente todos esses
segmentos estão do mesmo lado. E esse lado teme governos que interferem
demais, segundo seu ponto de vista, na economia e em seus negócios. O
Estado, para eles, deve ser mínimo.
Daí as reações contraditórias. Apoiam as medidas para reduzir os juros,
pois lhes interessam, mas não querem dar razão demais ao governo. Por
isso falam em populismo, em demagogia, reclamam que Dilma está se
aproveitando de seu alto índice de aprovação popular para “pressionar”
setores da economia que não se enquadram nas orientações do governo.
Investidores têm aversão a interferências do governo, advertem porta-voz
dos bancos.
Alguns empresários, especialmente grandes empresários, aferram-se ainda à
ideia de que o mercado tudo pode e faz o que quer, e governos só
atrapalham – a não ser quando assinam contratos com eles. O setor
financeiro, sempre todo poderoso, considera-se acima do Estado e do
poder político. Tem sido assim, e em um país de economia capitalista é
natural que o capital predomine inclusive sobre o poder político. Mas
isso está mudando, com a crise mundial. O liberalismo exacerbado e o
domínio absoluto do mercado já fracassaram nos seus países-ícones, na
América e na Europa.
Nenhum governo pode impedir o funcionamento do mercado, mas cabe ao
poder legitimamente constituído definir as diretrizes econômicas de um
país e estabelecer as políticas para cumpri-las, e não aos banqueiros ou
qualquer outro segmento empresarial. No Brasil, o poder legitimamente
constituído é exercido, em última instância, pela presidente Dilma, e
não pelos banqueiros multimilionários. Mesmo que eles tenham financiado
boa parte das campanhas eleitorais
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