O julgamento do chamado mensalão vem deixando histérica a minoria das minorias: os aficcionados pelo debate político.
Mas os brasileiros, em sua maioria, seguem suas vidas, com pouca
curiosidade em relação ao julgamento, por mais que venha sendo
espetacularizado pela imprensa - e que blogs políticos ajudem a
espetacularizar, porque repercutem o julgamento de forma apaixonada.
Mas a histeria atual - e as paixões da velha mídia e dos seus
antagonistas no campo político - sustenta-se, como é próprio do
fenômeno da histeria, sobre percepções exacerbadas da realidade.
A começar pelo que levou à pressão pela realização do julgamento agora.
O temor de que alguns crimes prescrevessem e a proximidade das eleições
municipais, principalmente, em São Paulo, fez com que a mídia impusesse
ao Supremo Tribunal Federal a pauta do mensalão.
Encontrou em Ayres Britto, um aliado serviu, que aceitou paralisar cerca
de 900 processos para, não julgar a AP 470 entre outros, mas julgá-la
com exclusividade.
Um outro motivo para a pressão foi o medo (fantasmático) que a imprensa
sustentava de que a acusação perdesse maioria, com a aposentoria de
Peluso e Ayres: era dado como certo que ministros escolhidos por Lula e
Dilma votassem a favor dos réus.
Dois erros de avaliação: nem os crimes prescreveriam com mais alguns
meses de espera, nem os escolhidos por Dilma e Lula deixaram de votar
segundo suas consciências.
Mas a pressão da imprensa para que a AP 470 fosse julgada também veio de
uma constatação - a única com alguma base na realidade: o efeito de
escandalização vinha perdendo forças, e não se sustentaria até 2014.
Até porque as eleições presidenciais terão entre as concorrentes uma
candidata petista que representa o partido justamente na era
"pós-mensalão": Dilma foi susbtituta de Dirceu na Casa Civil e não sua
continuadora.
Sem desgastes para Dilma e Lula
A reafirmação de Dilma também, por si só, afastaria um outro receio da
imprensa: uma Dilma fragilizada cederia espaço para a volta de Lula,
ameaça que, para a imprensa oposicionista, deveria ser eliminada na
raiz. E a eliminação se daria em virtude das sequelas do mensalão.
Duas tolices e um retorno às ilusões: primeiro, porque Lula já ocupa o
tempo mítico dos "herois" políticos, assim como Getúlio que, mesmo com
toda a campanha de 1954, jamais teve sua imagem abalada entre milhões de
brasileiros.
Segundo, porque não há qualquer indício de que Dilma tenha sua imagem
fragilizada até 2014, caso a economia não apronte para cima dela.
Maquiavelicamente, alguns pensaram que talvez sem Lula no páreo fosse
mais simples fazer uma forte campanha contra Dilma. Sabe-se, no entanto,
que qualquer campanha moralista só tem efeitos se houver insatisfações
econômicas junto à maioria do eleitorado.
Não parece que seja o caso, pelo menos diante do quadro atual, sintomatizado por uma forte aprovação da presidente petista.
Portanto, qualquer que fosse o resultado, o efeito político sobre a
campanha presidencial seria nulo. A única possibilidade de um
aproveitamento eleitoral se resumiria à campanha atual
No entanto, como se pode perceber, nem o julgamento vai terminar em
tempo para a "boa" utilização eleitoral do resultado, nem os espasmos de
uso por parte dos candidatos, principalmente os tucanos, vêm surtindo
qualquer efeito. Serra, por exemplo, não vem ganhando qualquer adesão
por levar ao horário eleitoral referências ao mensalão.
Em defesa da própria honra
Também não haverá qualquer efeito político sobre a legenda do PT. De
2005 para cá, apesar da forte campanha de tom moralista ensejada pela
imprensa oposicionista, o partido cresceu em filiações e adesões. Ou
seja, não houve qualquer abalo sobre sua credibilidade, que nunca foi
aquela atribuída pelos militantes, nem aquela tão minimizada pela mídia.
Pessoas comuns - ou seja, todos aqueles que não seja aficcionados pelo
debate político, o que é minoria - sabem que partidos não são
santuários, e a desconfiança geral com relação à política recai sobre
todas as legendas.
O PT está bem porque teve dois presidentes de altíssima aprovação. E
isso não será corroído enquanto não se der o desgaste natural da atual
presidente ou de um possível futuro presidente petista que vier assumir o
posto. O tempo do PT pode passar, mas por outros motivos que não o
mensalão.
Além disso, os eleitores - sempre infantilizados no debate político -
sabem separar a parte do todo. Se houve crimes, houve de alguns, não de
uma agremiação inteira.
Ora, Patrus pode vencer ou não vencer as eleições de Belo Horizonte, e
isso não tem nada a ver com o mensalão. O mesmo se dirá para Haddad e
outros tantos candidatos petistas espalhados pelo país.
A imprensa comemorará as condenações no julgamento porque se sentirá
honrada. O pior para a mídia seria uma "avalanche de absolvições", o que
desacreditaria tudo que foi dito por ela desde 1995.
Sobre o resultado, poderá construir uma outra narrativa afirmando que
ajudou o país a mudar. Nada mais do que a defesa da própria honra.
Sabe-se, no entanto, que não haverá mudanças, enquanto não se discutir o sistema político como um todo.
Enfim, a mídia pode comemorar muito o sucesso junto ao Supremo de sua
própria narrativa, mas nada terá o que comemorar, eleitoral ou
politicamente, junto ao eleitor.
WedenNo Advivo
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