ANTONIO DELFIM NETTO
Numa linha diferente da maioria dos economistas que acreditam em leis
"naturais" -o que sugere a liberdade para os mercados- e de outros que
supõem leis "históricas" que inevitavelmente se realizam, dois gigantes
dos séculos 19 e 20, Knut Wicksell (1851-1926) e John Maynard Keynes
(1883-1946) sabiam que o homem não tinha um destino dado.
Para Wicksell ("Saggi di Finanza Teorica", 1896), o "último objetivo
(...) é a igualdade de todos diante da mesma lei, a maior liberdade
possível, o bem-estar econômico e a cooperação pacífica entre todos" -um
programa que implicava na educação financiada pelo Estado, na criação
de seguro-saúde, na tributação progressiva e num imposto sobre herança
destinado a criar um fundo para educar jovens trabalhadores a se
aperfeiçoarem e a se firmarem na vida.
Para Keynes ("The End of Laissez-Faire", 1926), "era preciso pôr, desde
logo, às claras o princípio metafísico sobre o qual fundou-se o
'laissez-faire'. Não é verdade que os indivíduos detenham uma liberdade
natural na sua atividade econômica. Não existe 'contrato' que confira
direitos perpétuos àqueles que possuem bens ou os adquiram. O mundo não é
governado do alto, de forma que o interesse privado e o interesse
social sempre coincidam. Ele não é, tampouco, dirigido aqui em baixo, de
forma que os façam coincidir na prática. Não é correto, portanto,
deduzir dos princípios da economia que o interesse individual trabalha
sempre a favor do interesse público".
Wicksell e Keynes têm em comum a ideia de um processo civilizatório que
deve se apoiar na racionalidade, na cooperação e na justiça, no seio de
instituições que garantam o exercício da plena liberdade individual.
Uma questão interessante é saber como se mede o avanço do processo
civilizatório: se é pelo comportamento do agente ativo das políticas
públicas que obedece aos cânones de uma suposta ciência econômica,
combinada com o liberalismo político, ou se é consultando os agentes
passivos daquelas políticas.
Pesquisa do Pew Research Center intitulada "O desânimo permanente sobre a
economia mundial", realizada em 21 países e com consulta a 26.210
indivíduos entre 17 de março e 20 de abril de 2012, deixa a questão sem
resposta.
No estudo, lê-se: "As pessoas podem pensar que a sua situação é melhor
do que a situação econômica dos seus países, mas apenas no Brasil (72%) e
na China (70%) larga maioria acredita que suas famílias estão melhores
hoje do que há cinco anos". No México, 30%; nos EUA, 27%; na Alemanha,
23%; no Japão, 11%; e, na Espanha, 9%. Isso deveria ser um sinal amarelo
para alguns de nossos arrogantes "cientistas".
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