18 de fevereiro de 2013
Por uma razão: ela fala coisas que os americanos querem que sejam ditas.
Por isso ela será tratada como estrela pop na turnê mundial que começa agora, entre os brasileiros. (O governo cubano deu uma absurda contribuição à aura de ‘martírio’ de Yoani com sua indefensável política restritiva para viagens e para o livre debate político, mas isto é outro assunto.)
No Brasil, sabemos que escrever contra Lula encurta o caminho rumo a colunas no Globo, na Veja, no Estadão e na Folha. Ou a participações na CBN e na Globonews, e assim a vida caminha.
No mundo, escrever contra Cuba, ainda mais se você é cubano e ainda mais se você vive lá, como Yoani, é garantia de ampla cobertura da mídia americana, cuja repercussão é planetária.
Ao longo dos anos, esse tipo de conteúdo serviu aos interesses americanos de fazer propaganda contra qualquer coisa parecida com socialismo.
Ajudou também a dar argumentos, perante a opinião pública mundial, para que os Estados Unidos mantivessem um abjeto bloqueio econômico que impediu Cuba de se desenvolver desde a Revolução de Fidel.
Essa propaganda serviu também de apoio às inúmeras tentativas que os Estados Unidos fizeram de matar Fidel e de tornar Cuba outra vez um quintal americano encostado em Miami — ou um bordel, como era antes.
O que teria sido de Cuba sem a impiedosa perseguição americana?
Os Estados Unidos descobriram, nos anos 1950, a receita de golpes no exterior. Propaganda para desestabilizar regimes, e depois a presença nas sombras da CIA.
A receita funcionou na Guatemala e no Irã. Na Guatemala, o presidente progressista Jacobo Arbens foi sabotado por ter desapropriado terras (não cultivadas) de uma empresa americana que produzia bananas, a United Fruits. Arbens queria melhorar a vida de camponeses miseráveis.
Os americanos o tacharam de comunista por meio de aliados na mídia, financiaram um exército de mercenários sob o comando de um general assassino exilado em Honduras e acabaram derrubando Arbens.
Nasciam assim as Repúblicas das Bananas.
Num documentário, lembro a cena de Nixon, então vice-presidente, saudando diante das câmaras de televisão o general. “Pela primeira vez na história, um povo derruba um governo comunista”, disse Nixon.
O povo guatemalteco nada tivera a ver com o golpe. Foi mais uma das múltiplas mentiras contadas por Nixon em sua vitoriosa carreira.
Vale a pena uma pausa para ver Nixon em ação, logo no início do documentário.
A mesma receita foi aplicada no Irã do progressista Mossadegh, com os mesmos resultados. Num livro sobre o golpe no Irã do renomado jornalista investigativo americano Stephen Kinzer, ele ouviu um agente da CIA que, naqueles dias, era pago para escrever artigos anti-Mossadegh que eram imediatamente publicados na imprensa iraniana conservadora.
Dois sucessos não levam necessariamente a três.
Os americanos usaram a mesma tática para derrubar Fidel, e sofreram uma avassaladora derrota no episódio que passou para a história como a Invasão da Baía dos Porcos.
O povo cubano, mais que o próprio regime de Fidel, rechaçou os americanos. Os cubanos foram mais firmes que os guatemaltecos e os iranianos – provavelmente porque conhecessem muito bem os reais interesses dos Estados Unidos por trás do discurso de campeões do mundo livre.
Nos últimos anos, você recebe tratamento heroico dos Estados Unidos se falar mal do islamismo, ainda mais se for oriundo do universo muçulmano.
O melhor exemplo disso é a somali Ayaan Hirsi Ali, que ganha a vida nos Estados Unidos dando pancadas no Islã. Ayaan, antes de terminar nos Estados Unidos, viveu como refugiada na Holanda. Lá, convenceu um descendente de Van Gogh a fazer um filme antiislâmico e o resultado é que o pobre Van Gogh foi morto por um radical. Ficou pesado o ar para ela na Holanda e então os Estados Unidos a receberam com tratamento vip.
Yoani e Ayaan são casos parecidos, filhas da mesma lógica.
O maior mérito de ambas é falar o que os americanos querem que seja falado. São, para usar a expressão de Boff, escaravelhas internacionais.
* O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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Yoani Sanchez, a blogueira cubana, recebe uma cobertura enorme da
mídia brasileira e internacional por uma razão: ela critica Cuba.
Por isso ela será tratada como estrela pop na turnê mundial que começa agora, entre os brasileiros. (O governo cubano deu uma absurda contribuição à aura de ‘martírio’ de Yoani com sua indefensável política restritiva para viagens e para o livre debate político, mas isto é outro assunto.)
No Brasil, sabemos que escrever contra Lula encurta o caminho rumo a colunas no Globo, na Veja, no Estadão e na Folha. Ou a participações na CBN e na Globonews, e assim a vida caminha.
No mundo, escrever contra Cuba, ainda mais se você é cubano e ainda mais se você vive lá, como Yoani, é garantia de ampla cobertura da mídia americana, cuja repercussão é planetária.
Ao longo dos anos, esse tipo de conteúdo serviu aos interesses americanos de fazer propaganda contra qualquer coisa parecida com socialismo.
Ajudou também a dar argumentos, perante a opinião pública mundial, para que os Estados Unidos mantivessem um abjeto bloqueio econômico que impediu Cuba de se desenvolver desde a Revolução de Fidel.
Essa propaganda serviu também de apoio às inúmeras tentativas que os Estados Unidos fizeram de matar Fidel e de tornar Cuba outra vez um quintal americano encostado em Miami — ou um bordel, como era antes.
O que teria sido de Cuba sem a impiedosa perseguição americana?
Os Estados Unidos descobriram, nos anos 1950, a receita de golpes no exterior. Propaganda para desestabilizar regimes, e depois a presença nas sombras da CIA.
A receita funcionou na Guatemala e no Irã. Na Guatemala, o presidente progressista Jacobo Arbens foi sabotado por ter desapropriado terras (não cultivadas) de uma empresa americana que produzia bananas, a United Fruits. Arbens queria melhorar a vida de camponeses miseráveis.
Os americanos o tacharam de comunista por meio de aliados na mídia, financiaram um exército de mercenários sob o comando de um general assassino exilado em Honduras e acabaram derrubando Arbens.
Nasciam assim as Repúblicas das Bananas.
Num documentário, lembro a cena de Nixon, então vice-presidente, saudando diante das câmaras de televisão o general. “Pela primeira vez na história, um povo derruba um governo comunista”, disse Nixon.
O povo guatemalteco nada tivera a ver com o golpe. Foi mais uma das múltiplas mentiras contadas por Nixon em sua vitoriosa carreira.
Vale a pena uma pausa para ver Nixon em ação, logo no início do documentário.
A mesma receita foi aplicada no Irã do progressista Mossadegh, com os mesmos resultados. Num livro sobre o golpe no Irã do renomado jornalista investigativo americano Stephen Kinzer, ele ouviu um agente da CIA que, naqueles dias, era pago para escrever artigos anti-Mossadegh que eram imediatamente publicados na imprensa iraniana conservadora.
Dois sucessos não levam necessariamente a três.
Os americanos usaram a mesma tática para derrubar Fidel, e sofreram uma avassaladora derrota no episódio que passou para a história como a Invasão da Baía dos Porcos.
O povo cubano, mais que o próprio regime de Fidel, rechaçou os americanos. Os cubanos foram mais firmes que os guatemaltecos e os iranianos – provavelmente porque conhecessem muito bem os reais interesses dos Estados Unidos por trás do discurso de campeões do mundo livre.
Nos últimos anos, você recebe tratamento heroico dos Estados Unidos se falar mal do islamismo, ainda mais se for oriundo do universo muçulmano.
O melhor exemplo disso é a somali Ayaan Hirsi Ali, que ganha a vida nos Estados Unidos dando pancadas no Islã. Ayaan, antes de terminar nos Estados Unidos, viveu como refugiada na Holanda. Lá, convenceu um descendente de Van Gogh a fazer um filme antiislâmico e o resultado é que o pobre Van Gogh foi morto por um radical. Ficou pesado o ar para ela na Holanda e então os Estados Unidos a receberam com tratamento vip.
Ayaan
Yoani e Ayaan são casos parecidos, filhas da mesma lógica.
O maior mérito de ambas é falar o que os americanos querem que seja falado. São, para usar a expressão de Boff, escaravelhas internacionais.
* O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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