Por Michel Blanco
Nada poderia ser mais útil ao projeto que traz a militante cubana Yoani Sánchez ao Brasil do que as demonstrações de intolerância que a recepcionaram em Feira de Santana (BA). Serviu-se ali um prato cheio a quem difunde o discurso de crescente ameaça à liberdade de expressão no país.
Mas força a barra quem vê como uma atitude antidemocrática o protesto
de grupos esquerdistas contra a militante cubana, por mais toscos que
sejam. Antidemocrático seria impedir a manifestação – exagerada, é
verdade – desse povo, capaz de tirar do sério até mesmo Eduardo Suplicy
(PT-SP). A blogueira inclusive chegou a considerar o protesto como sinal
de liberdade.
O que chama mesmo a atenção é a cobertura do tour nos principais
veículos da mídia brasileira. É pouco se disser que há exagero. Sabemos
de todos os passos de Yoani, mas nem uma linha sobre quem financia o
rolê. Não é uma pergunta trivial para quem foi convertida em
porta-estandarte da liberdade de expressão no continente.
Yoani não é uma opositora qualquer da ditadura cubana. Mais conhecida fora do que dentro da ilha, tem salário pago pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP),
entidade que congrega as principais corporações privadas mídia
regional. É correspondente do espanhol El País e, no Brasil, é colunista
do “Estadão” e colaboradora do Instituto Millenium, que reúne os grandes da imprensa brasileira em defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa.
Criado em 2007, o blog de Yoani Sánchez, o Generación Y, é traduzido
em 20 línguas. Desde então, acumula prêmios internacionais que lhe
renderam algo perto de 250 mil euros. Yoani é um empreendimento, com
missão, visão e valores bem definidos.
Não deixa de ser curioso que na mesma semana em que a mídia
brasileira saúda a blogueira cubana, a “Folha de S.Paulo” obteve nova
vitória judicial para manter fora do ar o satírico blog “fAlha de
S.Paulo”, num caso que põe a propriedade acima da liberdade. O ponto
final da turnê de Yoani é a livre expressão comercial.
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