O gibi vai entrar para a história como um retrato dos tempos cinzentos que vivemos.
A posteridade terá num simples gibi um exemplo perfeito dos dias
mentalmente turbulentos e desgovernados que vivemos. O gibi, da Abril, é
uma compilação de histórias dos Irmãos Metralhas.
É um triunfo da raiva, do recalque e do jogo sujo. Não há nada que
desculpe, que atenue, que explique o absurdo que este gibi representa.
É um insulto mesmo a não petistas como eu.
Estranhamente, uma vez que será lido por crianças que não atinarão com a
brutalidade boçal e reacionária da revista, tudo ali foi feito para
agredir os petistas. Há tantas formas inteligentes de criticar o PT, e
eis que aparece um gibi transformado num panfleto inútil e obtuso em
sua agressividade delirante.
O título remete a um livro em que o blogueiro Reinaldo Azevedo compila
parte de sua verborreia ultradireitista, o País dos Petralhas.
Dentro, “nasty” foi traduzido por “petralha”. Nasty é repulsivo. O
termo “petralha” é, em si, outro símbolo destes dias intelectualmente
tenebrosos no campo da direita.
Pausa. Fui — rapidamente — ver o que Azevedo dizia sobre isso. Acabei
topando com uma sucessão de agressões dele a Flavio Moura por ter
cometido o crime de escrever um artigo no Valor em que critica alguns
colunistas reacionários. Moura é tratado como “empregadinho” de Luiz
Scharcz porque é editor da Companhia de Livros. Me lembrou o caso de um
conservador inglês que recentemente foi estraçalhado pela mídia por ter
chamado policiais de “plebeus”. Para encerrar: Moura não escreveu, mas
o declínio daquele tipo de colunista se manifesta, mais que tudo, nas
sistemáticas surras eleitorais que tomam. Não estão convencendo
ninguém, ou porque são simplesmente ineptos, ou porque a causa é ruim,
ou por uma mistura de ambos os pontos.
Bem, de volta a petralha.
O gibi |
É um neologismo de Reinaldo Azevedo, e ninguém o usa tanto quanto o
próprio autor, com evidente e infantil ufanismo. (Tolstoi não se ufanava
de Guerra e Paz, e nem Shakespeare de Hamlet, mas Azevedo parece achar
que merece reconhecimento internacional por petralha). Em escala muito
menor, uns poucos conservadores falam em petralhas para diminuir
petistas.
Note: petistas, e não delinquentes, em geral. É uma palavra com um alvo
único: os petistas. Nenhum torcedor apaixonado chama um juiz de
futebol, por exemplo, de petralha.
Mas o gibi consagrou, aspas, esta acepção inexistente de petralha. Quem
optou por isso? Algum tradutor teria cometido essa barbaridade, ou um
fundamentalista anônimo fez o ajuste na edição?
O responsável por isso, seja ele quem for, vai entrar para a história
como o autor anônimo de uma pequena patifaria que não é grande senão
por mostrar a falta de decência no debate entre os conservadores
nacionais.
Paulo NogueiraNo Diário do Centro do Mundo
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