quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma patifaria chamada O País dos Metralhas

O gibi vai entrar para a história como um retrato dos tempos cinzentos que vivemos.
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A posteridade terá num simples gibi um exemplo perfeito dos dias mentalmente turbulentos e desgovernados que vivemos. O gibi, da Abril, é uma compilação de histórias dos Irmãos Metralhas.
É um triunfo da raiva, do recalque e do jogo sujo. Não há nada que desculpe, que atenue, que explique o absurdo que este gibi representa.
É um insulto mesmo a não petistas como eu.
Estranhamente, uma vez que será lido por crianças que não atinarão com a brutalidade boçal e reacionária da revista, tudo ali foi feito para agredir os petistas. Há tantas formas inteligentes de criticar o PT, e eis que aparece um gibi transformado num panfleto inútil e obtuso em sua agressividade delirante.
O título remete a um livro em que o blogueiro Reinaldo Azevedo compila parte de sua verborreia ultradireitista, o País dos Petralhas.
Dentro, “nasty” foi traduzido por “petralha”. Nasty é repulsivo. O termo “petralha” é, em si, outro símbolo destes dias intelectualmente tenebrosos no campo da direita.
Pausa. Fui — rapidamente — ver o que Azevedo dizia sobre isso. Acabei topando com uma sucessão de agressões dele a Flavio Moura por ter cometido o crime de escrever um artigo no Valor em que critica alguns colunistas reacionários. Moura é tratado como “empregadinho” de Luiz Scharcz porque é editor da Companhia de Livros. Me lembrou o caso de um conservador inglês que recentemente foi estraçalhado pela mídia por ter chamado policiais de “plebeus”. Para encerrar: Moura não escreveu, mas o declínio daquele tipo de colunista se manifesta, mais que tudo, nas sistemáticas surras eleitorais que tomam. Não estão convencendo ninguém, ou porque são simplesmente ineptos, ou porque a causa é ruim, ou por uma mistura de ambos os pontos.
Bem, de volta a petralha.
O gibi
O gibi
É um neologismo de Reinaldo Azevedo, e ninguém o usa tanto quanto o próprio autor, com evidente e infantil ufanismo. (Tolstoi não se ufanava de Guerra e Paz, e nem Shakespeare de Hamlet, mas Azevedo parece achar que merece reconhecimento internacional por petralha). Em escala muito menor, uns poucos conservadores falam em petralhas para diminuir petistas.
Note: petistas, e não delinquentes, em geral. É uma palavra com um alvo único: os petistas. Nenhum torcedor apaixonado chama um juiz de futebol, por exemplo, de petralha.
Mas o gibi consagrou, aspas, esta acepção inexistente de petralha. Quem optou por isso? Algum tradutor teria cometido essa barbaridade, ou um fundamentalista anônimo fez o ajuste na edição?
O responsável por isso, seja ele quem for, vai entrar para a história como o autor anônimo de uma pequena patifaria que não é grande senão por mostrar a falta de decência no debate entre os conservadores nacionais.
Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo

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