Brasil
| N° Edição: 2260
| 08.Mar.13 - 21:00
| Atualizado em 10.Mar.13 - 10:08
Joaquim, o supremo
Presidente do STF, Joaquim Barbosa
perde a compostura e revela descontrole verbal ao mandar jornalista
"chafurdar no lixo". Esse comportamento cada vez mais recorrente não
condiz com o posto que ocupa
Izabelle Torres e Josie Jeronimo
No final do ano passado, quando as atividades do Judiciário
brasileiro se encerraram, o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), ministro Joaquim Barbosa, brilhava como um ídolo nacional. Ele
tinha assumido o cargo dois meses antes e, graças à firmeza com que
conduziu o processo do mensalão, passou a ser encarado como um
combatente contra a corrupção e os desmandos da política. Voz forte e
decisiva para mudar uma história de impunidades. Também não faltaram
especulações sobre eventuais apetites eleitorais do ministro, até para a
Presidência da República. Agora, sob constantes e previsíveis holofotes
na volta das férias forenses, Joaquim Barbosa tem provocado rebuliços.
Num curto espaço de tempo, ele fez declarações e tomou atitudes nada
corriqueiras para a tradicional fleuma do judiciário. Disse que os
magistrados brasileiros são tíbios e conservadores, foi ovacionado por
plateias em eventos culturais, apareceu em colunas sociais com sua nova
namorada, previu prazos para colocar mensaleiros na cadeia (com o que
desagradou os colegas do STF) e ofendeu jornalistas que tentavam
entrevistá-lo. Supremo mesmo, quem pareceu não foi a Corte, mas o
ministro.
Em Trancoso (BA), Joaquim Barbosa posou para foto ao lado da namorada
A solenidade e um certo distanciamento da vida mundana são mais que
uma herança ritualística do Judiciário. Embora tragam o risco de
simbolizar inacessibilidade, servem para marcar a capacidade de a
Justiça não se deixar influenciar pelo que é alheio aos processos que
julga. Nesse sentido, toda a movimentação de Barbosa pareceu fora de
tom. Um outro Barbosa famoso, o Ruy, um dos maiores juristas da história
do País, advertia que “o poder não é um tablado”. Ruy Barbosa também
era um defensor radical da transparência pública, pois entendia que não
podia haver “segredos” para a nação: “A autoridade não é uma capa, mas
um farol”, dizia o Águia de Haia. Os diálogos ríspidos e as reações
grosseiras de Joaquim Barbosa nas últimas semanas expressaram uma
inadequação do ministro aos ambientes transparentes. O episódio da
terça-feira 5, quando o repórter Felipe Recondo, de o Estado de S.
Paulo, aproximou-se do ministro para uma rápida entrevista, foi
revelador:
– Como o senhor está vendo... – iniciou o repórter.
– Não estou vendo nada. Me deixa em paz, rapaz. Me deixa em paz. Vai
chafurdar no lixo como você faz sempre – respondeu Barbosa.
– Mas eu tenho que fazer pergunta. É meu trabalho, ministro.
– Sim, mas eu não tenho nada a lhe dizer. Eu não quero nem saber do que o
senhor está tratando – continuou Barbosa. E, já caminhando, chamou o
repórter de “palhaço”.
Numa nota divulgada no mesmo dia, um assessor de imprensa
apresentou um pedido de desculpas em nome do ministro. Alegou que
Joaquim Barbosa se encontrava “tomado pelo cansaço e por fortes dores”.
Também argumentou que se tratava de um “episódio isolado, que não
condiz com o histórico de relacionamento do ministro com a imprensa”.
O episódio, na verdade, não chega a ser isolado. Em novembro do ano
passado, assim que Joaquim Barbosa fora eleito para comandar o STF, um
repórter de televisão fez uma pergunta que estava na cabeça de muitas
pessoas que acompanhavam o julgamento do mensalão. Queria saber se
Barbosa “estava mais calmo” depois de chegar à Presidência. O ministro
sugeriu que o repórter – por ser negro – não deveria fazer uma pergunta
como aquela. “Vocês esperavam ver o Joaquim quebrando cadeiras? Logo
você, brother. Pergunta de branco. A cor da minha pele é igual à sua.
Eles (os outros jornalistas) foram educados e comandados para levar
adiante esses estereótipos, mas você, meu amigo?”
Na quinta-feira 28, numa entrevista a correspondentes estrangeiros,
Barbosa discorreu sobre o que seria um “problema orgânico dentro da
própria instituição judiciária”. Segundo ele, os juízes brasileiros “têm
medo de julgar”, possuem mentalidade “mais conservadora, pró-status
quo, pró-impunidade.” Já os procuradores teriam uma mentalidade
“rebelde”. As declarações do presidente do STF produziram uma reação
indignada das associações de magistrados. Desde sua chegada à Corte, em
2003, Joaquim Barbosa acumulou um conjunto de refregas que acabaram em
xingamentos, dirigidos a jornalistas ou não. Em contrapartida, vem
mostrando encanto pela ribalta. Na semana passada, foi ovacionado e
posou para fotos ao lado da jovem namorada numa pousada em Trancoso, na
Bahia. Durante o julgamento do mensalão, o ministro Marco Aurélio de
Mello já havia empregado palavras duras para criticar o comportamento de
Joaquim Barbosa: “Não admito que Vossa Excelência suponha que todos são
salafrários e só Vossa Excelência seja uma vestal”, disse. A mudança
de atitude do presidente do STF pode parecer um grande desafio. Mas
certamente não é impossível para um cidadão que construiu uma biografia,
que hoje é motivo de orgulho para tantos brasileiros.
Montagem sobre foto de Nelson Jr.Sco/STF
Do Portal do Terra.com.br
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