Presidente do STF já conta com o
fato de que ao menos cinco ministros pensam diferente dele na questão
dos embargos infringentes; ou seja, se metade do plenário decidir que
cabe esse tipo de recurso no caso de Delúbio Soares - o primeiro a
recorrer -, o placar de empate é favorável aos réus; sem contar que
ainda seriam escolhidos novos relator e revisor, praticamente um novo
julgamento, com grandes chances de vitória aos acusados
No grupo que defende a tese de que os embargos infringentes não podem
ser apresentados ao Supremo Tribunal Federal, o presidente da corte,
Joaquim Barbosa, conta com a possibilidade de vitória dos réus no
julgamento da Ação Penal 470. Ele já negou o primeiro, apresentado por
Delúbio Soares à frente dos outros 24 condenados, mas o caso deve ir ao
plenário, uma vez que a defesa pretende recorrer da decisão.
Estando nas mãos de todos os ministros, o caso pode terminar de forma
favorável aos réus. Isso porque, na especulação de Barbosa, é possível
que ao menos cinco ministros não pensem como ele. Ou seja, avaliam que
esse tipo de recurso – usado quando o réu tem ao menos quatro votos em
favor de sua absolvição – é válido. Caso o placar termine em empate, o
ponto tem de ser em favor dos condenados.
A polêmica em torno desse tipo de recurso se dá pelo fato de que ele
consta do Regimento Interno do STF, mas de acordo com Barbosa, não é
mais previsto pela legislação. Na avaliação do presidente do Supremo,
pensar que os embargos infringentes são válidos "seria o mesmo que
aceitar a ideia de que o STF pudesse criar ou ressuscitar vias recursais
não previstas no ordenamento jurídico brasileiro, o que seria
inadmissível".
Como lembram em análise publicada no Valor Econômico os jornalistas
Raymundo Costa e Claudia Safatle, a demora no processo faz com que a
hipótese da impunidade seja real. Explica-se: se for decidido que cabem
os embargos infringentes, serão sorteados um novo relator e um novo
revisor para o processo. Barbosa, que relatou o caso do 'mensalão',
levou sete anos para estudar as mais de 50 mil páginas dos
autos. Outro tempo desse para um novo ministro pode levar à prescrição das penas aplicadas no julgamento em 2012.
Leia abaixo alguns trechos da análise do Valor Econômico a respeito do
isolamento do presidente do STF, intitulado "Joaquim Barbosa busca
apoio contra isolamento", que cita até uma suposta ameaça em torno da
casa do ministro:
Barbosa sente-se numa luta solitária e até mesmo ameaçado com o que
parecem tentativas de intimidação, como um carro preto, sempre com
quatro ou cinco passageiros homens, que fica dando voltas em torno de
sua residência.
(...)
Barbosa se considera isolado. Em poucos meses à frente do Supremo já
bateu de frente com as três associações de magistrados. Questiona
privilégios da magistratura e o financiamento dessas associações para a
realização de seminários em resorts caros ou no exterior. Precavido,
permitiu a entrada da imprensa para registrar um encontro que teve com
os presidentes da associação de magistrados. Só não contava que eles
levariam seus vices para a reunião. Um deles elevou o tom de voz,
iniciando um bate-boca que terminou com Barbosa pedindo respeito ao
presidente de um dos três Poderes. Já era tarde, caíra na armadilha dos
magistrados. Barbosa também teve um bate-boca com um jornalista,
reconheceu o erro e pediu desculpas em nota oficial.
Barbosa é um juiz de comportamento republicano. Recentemente recebeu
um pedido de audiência do advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro
da Justiça no governo Lula e defensor dos dirigentes do Banco Rural no
caso do mensalão. Barbosa decidiu conceder a audiência, marcada para
segunda-feira, mas notificou a outra parte na ação contra o mensalão: o
procurador da República.
O atual presidente do Supremo, é fato, personaliza o combate à
impunidade. À imagem de um magistrado de pavio curto, Barbosa identifica
apoio da opinião pública. Por onde passa é cumprimentado ou recebe
pedidos para posar para fotografias. Até no exterior, como aconteceu
recentemente nos Estados Unidos com brasileiros residentes em Nova York.
Apesar desse apoio, Joaquim Barbosa rejeita a ideia de se candidatar
a presidente da República. A auxiliares já disse, em mais de uma
ocasião, não ter "estômago" para a política. Aos 58 anos, ele ainda tem
12 anos no Supremo, até atingir a idade para a aposentadoria
compulsória.
No 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário