A revista Retrato do Brasil, edição especial de abril/maio, é
um primor de reportagem investigativa. Revela como se deu a construção do
julgamento do mensalão – Ação Penal 470 – e como os ministros do STF condenaram
pessoas, sem sequer provarem a existência do crime. “O problema dos juízes foi
que eles não se preocuparam em primeiro provar a existência do crime, para
depois procurar ligações com os culpados”, escreve o jonalista
Raimundo Rodrigues Pereira. O julgamento
de exceção, político até a medula, é comparável ao julgamento das bruxas de
Salem, em que feiticeiras foram condenadas pela epidemia que atingiu crianças e
adultos no século XVII, em Massachusetts (EUA).
Na AP 470, o STF voltou ao passado medieval. Em resumo, nem a bruxa pode
ser acusada de matar o papa, se o papa estiver vivo.
No caso do mensalão, o STF não exigiu dos acusadores uma
providência fundamental, o crime e a prova do crime. O STF acabou por exercer
uma espécie de exorcismo para combater a terrível epidemia de corrupção que
existiria no País há séculos, mas que, na visão ideológica deles, ocorreu um
surto espetacular com Lula e os petistas. O suposto crime seria o desvio de
dinheiro público para as mãos de parlamentares. O denunciante foi o deputado
Roberto Jefferson (PTB) que acusou o Chefe da casa Civil José Dirceu de
distribuir milhões de reais. Nem houve dinheiro público, não houve mensalão, os
recursos vieram de empréstimos a dois bancos mineiros. Houve ministro que inventou
uma nova entidade jurídica inexistente – Visanet-Banco do Brasil. Passados mais
de oito anos, nem o Banco do Brasil, nem a Câmara federal, nem a Visanet,
exigiram seu dinheiro de volta. É que ele não existiu.
Em resumo, José Dirceu é inocente. E o crime cometido
realmente foi o do caixa 2, pagamento a despesas de campanha. Assim, o
valerioduto movimentou cerca de R$ 55,3 milhões tomados ao Banco Rural e ao
BMG. Estes, sim, querem seu dinheiro de volta. Aliás, o esperto deputado Roberto
Jefferson declarou que o dinheiro recebido por ele era caixa 2, mas o dinheiro
recebido pelos demais era “mensalão”. Não se pode esquecer que a denúncia
inicial do suposto mensalão partiu da revista Veja, das mãos do jornalista
Policarpo Júnior, um cara especializado em montar reportagem mentirosas sem
qualquer escrúpulo. Sob pressão da mídia, os ministros do STF deram um “jeitinho”
e “flexibilizaram” princípios básicos do Direito. Joaquim Barbosa tem grande
responsabilidade nisso. Enfim, as coisas vão se esclarecendo e o mensalão,
conforme a jornalista Hidelgard Angel disse não passou de um grande “mentirão”.
Nenhum jornalista - que vive retransmitindo no automático as
matérias que vem das agências de notícia - deveria deixar de ler a revista
Retrato do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário