Brasil faz da Espanha um touro perdido e restabelece ordem mundial
No teste para a Copa do Mundo, anfitriões massacram os atuais campeões de forma inapelável no Maracanã
"Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial".
No futebol, Caetano, não está mais. A Espanha dominou o esporte mais popular do planeta por cinco anos, desde que conquistou a Eurocopa em 2008, passando pela Copa de 2010 e nova conquista continental no ano passado. Mas neste domingo, no Maracanã, a seleção brasileira - única grande força que a Fúria não havia enfrentado nos últimos anos - fez valer a força do país mais vencedor da história contra o caçula dos campeões.
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O Brasil de Luiz Felipe Scolari não venceu a
Espanha como uma surpresa, a exemplo do que fizeram os últimos algozes
Estados Unidos, em 2009, e Suíça, em 2010. Foi uma vitória entre times
do mesmo nível, mas em que um dos rivais se impôs com autoridade. Não
houve um momento de ameaça ao triunfo brasileiro na Copa das Confederações
. Na "praça" Maracanã, o time do tiki taka foi transformado em touro e deixou a arena em farrapos.
A sorte foi fator decisivo para a construção do
placar, mas sempre aliada à competência. No primeiro gol, que Fred
marcou deitado, graças a um toque sutil, na bola salva pelo zagueiro
David Luiz quase em cima da linha aos 40 minutos do primeiro tempo, com
um toque ainda mais genial, no pênalti perdido por um incrédulo Sergio
Ramos quando o placar já apontava 3 a 0.
Se teve sorte, também teve brilhantismo.
Especialmente no segundo gol, aos 44 minutos da etapa inicial. Líderes
da seleção no aspecto técnico, os jovens Neymar e Oscar fizeram uma
jogada de antologia, quando o ex-camisa 10 soube segurar a bola cercado
por quatro marcadores enquanto o novo camisa 10 voltava da posição de
impedimento para receber e acertar uma bomba no ângulo. No segundo
tempo, Fred marcou novamente e "fechou o caixão", iniciando mais de 40
minutos de festa ainda com a bola rolando.
Na análise fria, é preciso relativizar. O Brasil entrou
em campo querendo mostrar aos atuais campeões do mundo quem manda no
Maracanã. Jogou a Copa das Confederações
dando seu máximo, como se fosse realmente um final de Copa do Mundo.
Espanhóis dirão que estavam em final de temporada, que vinham de um
desgastante duelo de 120 minutos contra a Itália na semifinal. E,
especialmente, que é em 2014 que vale.Veja fotos da decisão da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha
Todos argumentos válidos. Mas o tamanho da vitória, com um domínio indiscutível, confirma o recado que Luiz Felipe Scolari queria dar ao mundo. O Brasil renasceu. E, há um ano de sediar a Copa do Mundo, deve no mínimo ser considerado um dos principais times a ser batido na competição.
Primeiro tempo - A Fúria não tem tempo de anotar a placa
Empurrado pela emoção do hino nacional cantado à
capela por mais de 70 mil pessoas, o time brasileiro começou a cem por
hora, a milhão. Se os 90 minutos prometiam ser de inferno para os
espanhóis, os 90 segundos iniciais foram uma mostra disso. Logo no
primeiro lance de ataque, Hulk recebeu a bola na direita e cruzou.
Neymar tentou o domínio e acabou ajeitando para Fred, que, caído, tocou
por cima de Casillas para já colocar o Brasil na frente.
O gol foi a deixa para que os gritos padrão de
muito orgulho e muito amor das arquibancadas dessem lugar ao sentimento
de que "o campeão tinha voltado". A Espanha tentava manter a frieza e
seu jogo de toque de bola, mas sofria com a pressão e o ímpeto ofensivo
dos anfitriões. Aos 7, Arbeloa falhou na defesa, Fred tocou de calcanhar
e, por muito pouco, Oscar desperdiçou a chance de ampliar.
Aos 11 pintaram os primeiros gritos de "olé,
olé". Aos 12, Paulinho tentou encobrir Casillas e o melhor goleiro do
mundo nos últimos cinco anos precisou se esforçar para evitar um frango.
Aos 13, a Espanha trocou passes e a torcida vaiou. Aos 14, Hulk deu um
carrinho na defesa e os brasileiros vibraram. Aos 15, a estatística da
Fifa apontava os números da posse de bola: Brasil 56%, Espanha 44%. Os
campeões do mundo eram superados naquilo que têm de melhor. Uma bola
afastada era tão importante quanto um gol feito. O jogo fazia jus à
expectativa que criou.
Somente aos 19 minutos veio o primeiro susto espanhol,
quando Iniesta carregou a bola, chutou de muito longe e Júlio César
espalmou para escanteio. Xavi cobrou e Fernando Torres conseguiu
cabecear, mas por cima do gol. Pouco depois, em cobrança de falta ainda
mais distante, Sergio Ramos tentou direto, mas chutou para fora. Era a
Fúria negando o estilo de jogo frio e calculista que impôs a rivais nos
últimos cinco anos.
Thiago Silva levanta o troféu de campeão da Copa das Confederações. Foto: Victor R. Caivano/AP
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Por duas vezes, o Brasil quase chegou cara a
cara com Casillas. Neymar e Oscar só foram parados com faltas. O juiz
holandês Bjorn Kuipers mostrou cartões amarelos a Aberloa e Sergio
Ramos. Na terceira, não havia marcador para fazer a falta quando Fred
recebeu passe açucarado de Neymar, mas aí foi o brasileiro quem errou ao
chutar em cima do goleiro.
Aos 40, David Luiz fez o segundo gol
brasileiro. O placar não sofreu alteração, mas a bola que o zagueiro
tirou quase em cima da linha depois do contra-ataque iniciado com uma
bola perdida por Hulk no ataque foi essencial. Graças a ele o Brasil
mantinha até o intervalo a merecida vantagem construída desde o início.
Mantinha, no pretérito imperfeito. Porque tinha mais.
Porque no presente perfeito das 19h44, Neymar ampliou essa vantagem em
uma molecagem genial com Oscar. O ex-santista, 21 anos, recebeu a bola
na esquerda, quase dentro da área e tocou para o ex-colorado, 21 anos,
no círculo central. Ambos tiveram calma para sair da situação de
impedimento, Oscar segurando a bola, Neymar dando passos para trás. Só
aí veio a assistência, perfeita, e o chute, perfeito. No ângulo do
melhor goleiro do mundo, 2 a 0 Brasil ao fim dos 45 minutos iniciais
SEGUNDO TEMPO:
Quando o jogo chegou ao intervalo, a Espanha tinha
recuperado, ao menos, a vantagem no seu critério-obsessão, a posse de
bola, com vantagem de 59% a 41%. Mas o técnico Vicente del Bosque sabia
que isso não significava nada e tentou mudar o time trocando o marcador
de Neymar. Saiu Arbeloa, entrou Azpilicueta. E não adiantou nada.Logo aos dois minutos, o Brasil ampliou. Hulk passou do
meio, Neymar fez o corta-luz e Fred dominou na esquerda, no setor do
jogador que havia acabado de entrar. Se no começo do primeiro
tempo marcou deitado, dessa vez veio de pé, com autoridade, e chutou forte no canto inferior esquerdo de Casillas, sem chance de defesa.
tempo marcou deitado, dessa vez veio de pé, com autoridade, e chutou forte no canto inferior esquerdo de Casillas, sem chance de defesa.
O Maracanã presenciava a expectativa de um
massacre, em êxtase. Del Bosque mexeu de novo, colocando Jesús Navas no
lugar de Juan Mata. E, dessa vez, deu resultado. Em termos. No seu
primeiro lance, o jogador do Sevilla sofreu pênalti cometido por
Marcelo. Uma chance para a Espanha de voltar para o jogo, mas que Sergio
Ramos desperdiçou ao chutar para fora. Parecia que os gols dos campeões
do mundo em um dos maiores templos do futebol haviam sido gastos todos
na goleada por 10 a 0 sobre o Taiti na fase de grupos.
O que restava de tempo de jogo serviu para a torcida
fazer festa no estádio em que, 53 anos atrás, 200 mil pessoas choraram
ao final do Maracanazzo. A Espanha ouviu, entre outros, "o campeão
voltou", "quer jogar, quer jogar, o Brasil vai te ensinar", "Uh, é
chocolate".Ainda houve mais chances, que os atacantes brasileiros desperdiçara, hora cara a cara com Casillas, hora por perder o fôlego antes de chegar ao final do campo, já que com o placar construído não era mais necessário correr como atrás de um prato de comida. Felipão aproveitou para colocar em campo Jadson, Jô e Hernanes, tirando Hulk, Fred e Paulinho. O camisa 9, artilheiro da competição ao lado de Fernando Torres, saiu ovacionado.
Brasil e Espanha, enfim, saíram de campo mais próximos de seus tamanhos na história do futebol. O pentacampeão encontrou um time ao longo da competição e conquistou o tricampeonato consecutivo da Copa das Confederações, o quarto na história. Os campeões de 2010 desceram alguns degraus do pedestal em que subiram nos últimos tempos, e agora sabem que também terão trabalho pela frente se quiserem chegar ao bi no ano que vem.
FICHA TÉCNICA - BRASIL 3 X 0 ESPANHA
Local : Estádio do Marcacanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Data: 30 de junho de 2013, domingo
Horário : 19 horas (de Brasília)
Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL)
Assistentes : Sander Roekel e Erwin Zenstra (ambos da Holanda)
Público: 73.531 pagantes
Cartões amarelos: Arbeloa e Sergio Ramos (Espanha)
Cartão vermelho: Piqué (Espanha)
Gols :
BRASIL: Fred, aos 2 min e Neymar aos 44min do primeiro tempo; e Fred, aos 2min do segundo tempo
ESPANHA:
BRASIL: Julio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes) e Oscar; Neymar, Hulk (Jadson) e Fred (Jô)
Técnico: Luiz Felipe Scolari
ESPANHA: Casillas; Arbeloa (Azpilicueta), Sergio Ramos, Piqué e Jordi Alba; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro, Juan Mata (Jesús Navas) e Fernando Torres (David Villa)
Técnico: Vicente del Bosque
Do Portal do IG.COM.BR
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