Ao olhar apenas
para si e ignorar o que acontece à sua volta, as entidades médicas demonstram
estar se lixando para a carência das periferias das cidades
"Estamos
passando longe dos problemas da saúde. O problema básico do SUS é
financiamento. Não bastam só médicos". A tergiversação é do governador de
São Paulo, médico de formação, Geraldo Alckmin, repetindo mecanicamente o
mantra midiático que a corporação médica vem cantando, no afã de garantir a
reserva de mercado dos aventais brancos, que hoje impede que a população mais
carente tenha acesso aos serviços que só médicos podem prestar.
Ao olhar apenas
para si e ignorar o que acontece à sua volta, ao pensar no seu conforto
material e ao ignorar o desconforto dos enfermos que superlotam os hospitais do
país, as entidades médicas demonstram estar se lixando para a carência das
periferias das cidades, em especial no Norte e Nordeste do país. Seria
redundante se não fosse necessário dizer que as corporações respondem apenas
aos próprios interesses corporativos, menores que o interesse público que
deveria sensibilizar aqueles que fizeram o juramento de "exercer a arte de
curar", mostrando-se "sempre fiéis aos preceitos da honestidade, da
caridade e da ciência".
O Juramento de
Hipócrates é uma declaração solene feita por médicos por ocasião de sua
formatura. O texto seria de autoria de Hipócrates, médico notável que viveu na
Grécia antiga. Na versão atualizada em 1948, estão as afirmações de princípios
da profissão cujo foco é garantir a vida e evitar a morte de modo ético:
"Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua
calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra.
Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o
crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha
vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele
afastar-me, suceda-me o contrário".
Ao recusar o
chamamento das ruas para cerrar fileiras e garantir presença onde reina a
desassistência, as entidades médicas trocaram o Juramento de Hipócrates pelo pré-julgamento
dos hipócritas, falseando a realidade para permanecer na zona de conforto
enquanto a população carente pede ajuda e espera.
As ruas pediram
saúde nas Jornadas de Junho. O Governo Federal ouviu e agiu, não apenas
ampliando o investimento pesado em equipamentos, em Unidades de Pronto
Atendimento, em Serviços de Assistência Médica de Emergência e no deslocamento
de generosa massa de recursos para estados e municípios, mas também buscando
solução para a crônica falta de médicos nas localidades mais remotas e nas
periferias dos grandes centros.
O Programa
"Mais Médicos" foi essa resposta rotunda e corajosa, mostrando que o
Governo Federal não estava surdo ao rumor das ruas. O programa prevê uma
espécie de residência para os estudantes de medicina, além da vinda dos médicos
estrangeiros como força auxiliar para vagas que brasileiros não queiram ocupar.
O salário base para
os médicos contratados será de R$ 10 mil, ampliado pelo auxílio alimentação e
pelo auxilio moradia, garantidos pelas prefeituras.
De acordo com o
programa, a partir de 2015, quem entrar no curso de Medicina terá de atuar por
dois anos no SUS para garantir o diploma. A medida garantirá ao SUS cerca de 20
mil médicos a mais em 2021 (ano inaugural do segundo ciclo) e mais 20 mil no
seguinte.
Os municípios do
interior e da periferia das grandes cidades já receberão em setembro deste ano,
os primeiros médicos brasileiros e estrangeiros que aderirem ao novo programa.
A medida, efetiva e
necessária, vem recebendo pesadas e impensadas críticas das entidades médicas e
da grande mídia, que consideram "autoritária" a obrigatoriedade de
médicos em formação dedicarem rasos 24 meses para atuar junto aos pobres e
necessitados, colocando em prática o Juramento solene que, para não se tornar
letra morta, precisa passar pela prova prática.
A primeira questão
que Alckmin, as entidades médicas e a imprensa golpista deveriam responder é:
isto é ou não é necessário para salvar vidas no Brasil? Se a resposta for
negativa, posicionam-se contra. Se for positiva, posicionam-se a favor. Mas
essa pergunta não é feita nem é respondida, porque a posição à priori é de ser
contra o governo, independente do que ele está propondo. Se a ideologia cega a
razão, o oportunismo cala o coração. Do conforto do ar condicionado de seus
gabinetes, os dirigentes das entidades médicas e os barões da mídia tratam a
saúde do povo com a hipocrisia dos cínicos. Nada importa, quando só importa
antecipar 2014 e decretar agora, a derrota antecipada de Dilma e do PT.
Enquanto no mundo
inteiro organizações como a "Médicos Sem Fronteiras", que reúne
profissionais de saúde de diferentes nacionalidades, são recebidas com
gratidão, no Brasil a luta cega pela reserva de mercado para médicos nativos
apequena a vida humana e introduz um viés xenófobo para impedir que
profissionais estrangeiros atuem no país, mesmo nos lugares onde brasileiros se
recuam a ir.
A organização
"Médicos Sem Fronteiras" foi criada em 1971 na França por jovens
médicos e jornalistas, que atuaram como voluntários no fim dos anos 60 em
Biafra, na Nigéria. Enquanto a equipe médica – que não precisou ter seu diploma
validado – socorria vítimas em uma brutal guerra civil e das epidemias
viralizadas na miséria, o grupo percebeu suas limitações: a dificuldade de
acesso ao local e os entraves burocráticos e políticos, que faziam com que
muitos se calassem frente aos fatos observados. E travavam a ajuda humanitária.
As circunstâncias
que levaram à criação da ação internacionalista do MSF se repetem agora no
Brasil. Uma imensa população carente precisa de ajuda urgente, os políticos de
direita, os concessionários de veículos de comunicação e as entidades médicas
estão criando entraves burocráticos, impedindo que a ajuda humanitária chegue
às pessoas que precisam – muitas das quais nunca viram um médico na vida.
As fronteiras que aqui
precisam ser rompidas é a do egoísmo e do conformismo, que quer que primeiro se
construam hospitais de excelência nos sertões e rincões brasileiros para depois
se estender o tapete vermelho para os médicos, esses aprendizes de Deus, possam
chegar e sair sem sujar seus pés divinos na lama da hipocrisia onde hoje
afundam o juramento que os deveria guiar.
Do Blog O TERROR DO NORDESTE.
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