Xeque - Marcelo Bancalero
Novamente um artigo que vem como alerta nestes dias um novo Brasil para todos nós!
Um Brasil que se mostra como alguns gostam de dizer, "acordado", porém, não ainda livre de manipulações de toda espécie.
Talvez nossos textos apaixonados em defesa não de um partido, mas de um governo,
que pesando-se os prós e contras ainda mantém um saldo positivo diante
dos anteriores, possam muitas das vezes impedir que alguns os leiam
completamente, para assim, poderem olhar por uma outra perspectiva, ao
menos para poder dar base ao contra ponto, conhecer para se
estabelecer uma posição de maneira mais clara e objetiva, sem ter de
apelar a discursos que a mídia lhe empresta. Discursos prontos, que por
um lado satisfazem uma sede, que o jornalista Paulo Moreira Leite nos
levará a compreender no artigo que posto em seguida, que se trataria de
uma sede de justiça. O problema, é que o que muitas das vezes o que se
tem oferecido pela mídia para saciar essa sede, não é água, mas
vinagre...
Mas deixarei aqui apenas a sugestão, para que possam ler o artigo... E depois, criar sua própria opinião!
Leia;
Democracia e decência
A impaciência do brasileiro diante de rituais da Justiça é tão profunda que soluções criminosas chegam a ter apoio popular
Se você frequenta este espaço com alguma regularidade, conhece meu ponto
de vista sobre o julgamento do mensalão. Como expliquei no livro “O
Outro Lado do Mensalão”, em minha opinião foi um processo
contraditório, atravessado por considerações políticas, que concluiu
pela aplicação de penas duríssimas embora tivesse apoio em provas
fracas.
Até em função disso, você pode imaginar minha reação quando o DataFolha
divulgou que mais de 70% das pessoas entrevistadas numa pesquisa
nacional são favoráveis a prisão imediata dos condenados. Conforme os
jornais, essa maioria acredita que eles devem ir para a cadeia antes
mesmo que seus recursos conhecidos como embargos – previstos em lei –
sejam julgados.
É preocupante.
Aprendi que, numa democracia, toda pessoa é inocente até que se prove o
contrário. E as provas contra uma pessoa só podem ser consideradas
definitivas quando seus recursos foram esgotados.
Quando recordamos que os réus do mensalão nem sequer tiveram direito a
uma segunda jurisprudência, como é tradição universal da Justiça, é
fácil perceber que um exame atento e leal dos embargos são mais que
necessários. São indispensáveis.
A opinião da maioria, mesmo expressa numa pesquisa de opinião, sempre
deve ser respeitada. Mas a justiça existe, também, para proteger os
direitos da minoria. Por isso tem regras que devem valer para todos.
Cabe reconhecer, contudo, que os números do DataFolha são menos surpreendentes do que se imagina.
O trabalho de cobertura do julgamento, tendencioso e faccioso, na
definição de um mestre do jornalismo como Janio de Freitas, ajudou a
formar uma visão unilateral e parcial das acusações e dos argumentos da
defesa.
Pontos obscuros e contradições só foram debatidos e examinados, com
alguma serenidade e atenção por parte do cidadão comum, depois que as
sentenças já haviam sido anunciadas.
Sabe-se agora que o uso de dinheiro público na alimentação do esquema
financeiro é questionado por auditorias internas do governo, legítimas e
autênticas. Ao contrário do que sempre se sugeriu, os célebres
empréstimos contraídos pelo PT para saldar seus compromissos não eram
acordos fraudados, mas transações verdadeiras, diz a Polícia Federal,
com apoio até em decisões da Justiça. A denuncia de “compra de votos” no
Congresso, elemento essencial da acusação, é contestada, até com
ironia, por cientistas sociais respeitados, insuspeitos de parcialidade
política, como Fernando Abruccio.
Não é só isso, porém. A pesquisa ajuda a lembrar que muitos brasileiros
têm uma relação problemática e complexa com os rituais da Justiça.
Seu desencanto, sua impaciência e até sua raiva diante de rituais da
Justiça é amplo, irrestrito e tão profundo que soluções criminosas –
como linchamento – chegam a ter apoio popular e raramente levam a
punição dos responsáveis.
Muitas pessoas explicam esse comportamento em função de um histórico de
impunidade da Justiça brasileira, em especial em relação aos ricos e
poderosos.
A violência seria assim uma forma de compensar a impunidade. Há um defeito nessa visão, porém.
Pesquisas recentes do Núcleo de Violência da USP indicam que tem
crescido o apoio da população ao uso da violência policial como uma
prática aceitável como método de investigação. As vítimas dessa
violência tolerada são os cidadãos da categoria PPP -- Preto, Pobres e
Prostitutas --, os mais excluídos de todo direito e poder.
Em 1999, 71,2% dos entrevistados numa pesquisa do Núcleo discordavam
totalmente do uso da tortura. O índice caiu para 47,5 % em 2010.
Em uma década, também diminuiu a desaprovação a policiais que atiram em suspeitos desarmados. Era de 87,9%. Caiu para 68,6%.
Falando claro: se mais de um terço da população tolera execuções de pessoas desarmadas, mais de 50% aceitam o uso da tortura.
No momento em que foram divulgadas, essas revelações sobre tortura e
execuções inspiraram uma reação inquieta e mesmo indignada de
comentaristas, críticos da vida social e editorialistas. Mas elas
retratam, com mais brutalidade, uma postura autoritária que se confirma
agora – num contexto inteiramente diferente -- na pesquisa sobre os
direitos dos condenados no mensalão.
A diferença é que, desta vez, a divulgação da pesquisa foi acompanhada
por um silêncio constrangedor, sugerindo a existência de uma
cumplicidade grotesca e silenciosa, entre diversos comentaristas e
observadores, para que o plenário do STF ouça os números do DataFolha e,
sem dar bola para os rituais da Justiça, que lhe cumpre defender,
desrespeite seus direitos e faça a vontade da multidão.
Não se pretende, aqui, nivelar uma sentença do STF a uma jornada no pau
de arara de uma delegacia. São acontecimentos totalmente diferentes, de
épocas diferentes. Diferentes pela origem, pelo percurso, pelo
destino.
Mas entre estas situações tão diferentes pode haver um ponto semelhante.
Nos dois casos, estamos falando de abusos, da sonegação de um direito.
Num caso, trata-se do direito de toda pessoa à sua integridade física e a
própria vida.
Em outro, do direito a liberdade até que sua culpa seja provada além de uma dúvida razoável.
O cruzamento entre essas duas pesquisas sugere que muitas pessoas não
iriam se opor a atos abusivos, à margem do Direito, imaginando que elas
poderiam ajudar o país fazer o que lhes parece algo perto da Justiça.
Lembrando sempre que são situações absolutamente diferentes, mas que
envolvem uma pergunta igual: como devem se comportar, nesta situação,
pessoas que partilham de valores democráticos?
A experiência mostra que a defesa de valores democráticas é sempre a
atitude mais adequada, mesmo em circunstâncias pouco favoráveis. Nas
sociedades modernas, o abuso pode produzir uma satisfação sádica e
momentânea junto a muitas pessoas.
Sabemos disso desde que, no período conhecido como Terror, a multidão se
reunia em praça pública, em Paris, no final do século XVIII, para
aplaudir execuções sumárias de pessoas condenadas sem julgamento e sem
defesa. Inaugurando um período histórico conhecido como Termidor, o
terror favoreceu a supressão de direitos, criou regras mais difíceis
para a população participar das decisões do Estado. Logo nasceu uma
ditadura e, em breve, a monarquia foi restaurada.
Não precisamos de tanta geografia. Temos nossa história.
Durante o regime militar, cidadãos comuns costumavam gritar “mata esse
terrorista” sempre que assistiam, na rua, a prisão de militantes
envolvidos com a luta armada. Outros reagiam com indiferença ao
sofrimento de quem gemia no porão. Há casos de delação por parte de
donos de restaurante, colegas de trabalho, funcionários de hotéis.
Embora nunca tenha sido um regime popular, a ditadura teve seus momentos
de apoio junto a parcelas importantes da sociedade. Muitas destas
pessoas foram solidárias em práticas condenáveis.
Você não precisa acreditar na inocência dos condenados do mensalão para
compreender que, pelo bem de todos e a segurança de cada um, é
indispensável que todos seus direitos sejam respeitados, de forma
absoluta e exemplar.
Isso inclui a possibilidade de apresentar seus embargos, defender seus
argumentos num ambiente de serenidade, e procurar, de todas as formas,
provar sua inocência. A defesa desses direitos define uma linha
divisória para a democracia e a decência de uma sociedade.
Open publication - Free publishing
Postado há 14 hours ago por Blog Justiceira de Esquerda
Do Blog Justiceira de Esquerda.
2 comentários:
Pelo 7 atuais juizes do STF deveriam estar atraz das grades: Gilmar Mendes, Luiz Fux, Celso melo, Marco Aurelio, Toffoli, Joaquim Barbosa, Roberto Gurgel!!! e os juizes que sairam Ellen Gracie, Eros Grau, Ayres de Brito, e outros que nao me vem na memoria?? fora os juizes de outros tribunais, como STJ, MPF, PGR, TJs ....o judiciario esta podre na corrupçao!!!
Primoroso artigo do jornalista Paulo M Leite. Sereno e contundente, põe as claras o primarismo da nossa elite e da nossa classe média que se deleita com as migalhas deixadas ao chão pelos donos do poder! Justiça célere, queremos para os outros... é o cinismo e a hipocrisia de sempre!
Parabéns mesmo pelo sensacional artigo!
Postar um comentário