Helena Chagas, Roberto Messias e
Fabrício Costa, respectivamente, ministra chefe, secretário-executivo e
secretário de Comunicação Integrada da Secom
O governo federal é o maior anunciante do Brasil. Em 2012, os recursos
destinados à publicidade de ministérios, órgãos e empresas estatais
somaram R$ 1.797.848.405,13.
Valor programado por meio — Governo Federal
Desse montante, 62,63% foram investidos em televisão. A Globo,
sem contar seus canais pagos, obteve 43,98% das verbas para esse meio:
R$ 495.270.915,28.
A TV fechada ficou com 10,03%: R$ 112.953.614,07.
Gráfico postado por Fernando Rodrigues, em seu blog
Jornais ficaram com R$ 146.579.482,64 (8,15%). Revistas, com R$
142.218.890,06 (7,91%). E rádios, com R$ 137.626.894,74 (7,66%). Nos
três meios, uma pequena queda em relação a 2011 devido à queda de
circulação/audiência.
A internet, único meio em franco crescimento, está na rabeira: R$ 95.614.065,68, isto é, 5,32% dos investimentos.
Os dados são da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República (Secom-PR). Foram gerados a partir de informações do Instituto
para Acompanhamento da Publicidade (IAP), que reproduz a previsão de
uso de tempos e/ou espaços publicitários. Elas são oriundas dos pedidos
de inserção encaminhados pelas agências de publicidade ao IAP.
Roberto Messias, secretário-executivo da Secom, divulgou-os no artigo Transparência e a desconcentração na publicidade do governo federal, publicado em abril no Observatório da Imprensa, onde afirma:
“É necessário explicitar, quantas vezes forem necessárias, os critérios técnicos de mídia da Secom.
Se a publicidade de governo tem como objetivo primordial fazer chegar
sua mensagem ao maior número possível de brasileiros e de brasileiras, a audiência de cada veículo tem que ser o balizador de negociação e de distribuição de investimentos. A programação de recursos deve ser proporcional ao tamanho e ao perfil da audiência de cada veículo” [grifos nossos].
O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a Associação
Brasileira de Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais de
Comunicação (Altercom) e especialistas em Comunicação, como o professor
Venício Lima, da UnB (AQUI, AQUI e AQUI),
criticam os chamados critérios técnicos: seguem a lógica mercadista;
favorecem os grandes veículos em todos os segmentos, inclusive na
internet; não refletem os hábitos de comunicação e informação do
brasileiro; têm como única referência os parâmetros das grandes agências
de publicidade e seu sistema de remuneração, onde o principal elemento
é a Bonificação por Volume (BV); ferem a Constituição Federal, pois
não garantem a pluralidade informativa.
A Altercom afirma: devido à atual política de distribuição de recursos
federais para publicidade, em 2012 houve redução de investimentos
publicitários na mídia alternativa, aí incluídos os sites/blogs de
esquerda.
O Viomundo foi a Brasília entrevistar a ministra chefe da Secom,
a jornalista Helena Chagas, sobre tudo isso. A viagem foi paga pelos
leitores do site.
Participaram da entrevista Roberto Messias e o secretário de Comunicação Integrada, Fabrício Costa.
A ministra logo rebate:
– Todo mundo fica dizendo que estamos interessados só na audiência.
Nosso interesse na audiência não é comercial; é levar a nossa mensagem a
um número máximo de pessoas. Até hoje não surgiu um critério mais
eficiente em relação esse objetivo principal, porque o critério da mídia
técnica que usamos tem como base a audiência e o que agregamos a ele, a
regionalização, que estamos intensificando cada vez mais.
A ministra nega que siga a lógica mercadista:
– Você diz que a nossa lógica é a da iniciativa privada, mas se olhar o
quadro do investimento do mercado privado em publicidade é bastante
diferente do nosso. Eles concentram muito mais nos grandes veículos por
razões meramente comerciais. As minhas razões são de responsabilidade
social.
A ministra contesta que a política de distribuição de verbas da Secom estaria sufocando os blogs de esquerda:
– Não é verdade. Os blogs/sites progressistas não pararam de receber
recursos. O que há é que alguns querem mais, assim como praticamente
todos os quase 9 mil veículos de nosso cadastro. E obviamente não há
orçamento para aumentar substancialmente os investimentos. Além disso,
com a entrada de novos veículos, os mesmos recursos acabam sendo
distribuídos entre um número maior de sites e blogs.
Em resposta a e-mail desta repórter, a ministra (grifos dela) garante:
– Mantivemos o mesmo critério da época do ministro Franklin Martins,
que também distribuía as verbas de publicidade pelo critério da mídia
técnica, ou seja, da audiência. Está claríssimo na tabela que te enviei.
Lá, você pode ver que houve um salto nos investimentos em sites/blogs
de 2010 para 2011. Em 2010, os investimentos nesses blogs foram de R$ 1.690.846,57; em 2011, passaram para R$ 4.139.689,51.
E 2011, só para lembrar, já era governo Dilma e eu a ministra. Ou seja,
o ano em que eles mais receberam foi no governo atual. A mesma tabela
mostra que o investimento nesses blogs em 2012, ano eleitoral, foi de R$ 2.946.448,27.
Neste ano de 2013, até abril já foram investidos R$ 1.176.020,23, e
nesse ritmo ficaremos acima de 2012 e até de 2011. Portanto, está
claro que não houve mudanças na política da Secom do governo passado
para cá.
20 MAIORES INVESTIMENTOS NA INTERNET: DE ESQUERDA 2,4%; TRADICIONAIS 97,5%
Em 2012, dos R$ 95,6 milhões destinados à internet, os “grandes
portais” ficaram com 48,57%. Aumento de quase 10% em relação a 2011. Já
com os “demais sites” ocorreu o oposto: redução de quase 10%. Em 2012,
couberam-lhes 51,43%.
A ministra justifica:
– Foi só uma variação, porque 2012 é ano eleitoral. A gente fica
proibida de fazer publicidade nesse período. A gente faz questão de
cumprir a lei para não dar qualquer margem à acusação de que estamos
usando publicidade federal para fazer campanha. Então, passamos vários
meses sem fazer publicidade. Pode crer que em 2013 vai voltar ao
patamar de antes.
Fabrício Costa, que foi para a entrevista com um calhamaço de documentos, exibe-os:
– Trouxe para não dar a impressão de que a gente faz com poucos. Essa é
a lista de toda a nossa programação, TV fechada, aberta, tudo o que o
governo faz. Aqui é só internet…
São muitas listas, na verdade. Esta repórter pede à ministra para ficar com a que exibe todos os investimentos em internet:
– Pode – aquiesce, sem pestanejar.
– Com dinheiro, não! – corta Messias.
– Isso não dá! – reforça Fabrício.
– Com os nomes, sim, mas os investimentos, em respeito a essas pessoas,
eu não quero. Você pode olhar aqui à vontade – recua a ministra.
– Isso revela até a negociação da gente – acrescenta Messias.
– A gente vai expor colegas, pessoas… Isso aqui o que é? – emenda a ministra.
– Os 20 primeiros, ano a ano – informa Fabrício.
– Os 20 primeiros sites, ano a ano. 2011 e 12, que são os mais recentes
– comenta a ministra enquanto olha o quadro.– Você tem os grandes
naturalmente. Carta Maior está entre os 20, Conversa Afiada, Bolsa de Mulher. Quem é o Bolsa de Mulher?
– É um bacaníssimo – entusiasma-se Messias.
– É um site feminino – adiciona Fabrício.
– Bacaníssimo… – insiste Messias.
– Eu nem conheço… – diz a ministra.
– E é bacaníssimo – repete Messias.
– É bacaníssimo, porque tem campanha segmentada para pegar mulher… – adere a ministra.
– Câncer de mama, o Dia Internacional da Mulher…– acrescenta Messias.
A Secom acabou nos fornecendo os 20 maiores investimentos programados
em 2012, que mistura portais e sites, embora o título da sua tabela
refira-se só a portais. A parte em verde é da tabela original. A cinza,
acrescida, é nossa.
Algumas observações sobre essas informações:
* Os recursos para os 20 maiores somam R$ 66.276.934,82. Representam 69,32% do total investido na internet.
* As verbas privilegiam sobretudo os portais da velha mídia na internet e os de empresas internacionais que atuam no Brasil.
* Apenas três veículos da blogosfera progressista (Carta Maior, Conversa Afiada e Ópera Mundi) integram a lista dos 20 maiores em 2012. Juntos somam R$ 2.132.814,68. Ou seja, 2,42% da verba destinada aos Top 20.
* De acordo com outra tabela da Secom, os investimentos em sites/blogs
progressistas atingiram R$ 2.946.448,27, em 2012. Ou seja, 3% do
planejado para internet.
Esses dados põem por terra a mentira disseminada por profissionais da
velha mídia de que o governo federal bancaria os blogs/sites
progressistas.
A Secom financia principalmente os grandes portais e sites, de linha
editorial conservadora, de direita. Reproduz, assim, na internet o
critério adotado em relação à mídia tradicional, que, na prática,
contribui para a concentração.
NOVIDADES: UMA PARA A MÍDIA ALTERNATIVA, OUTRA PARA A MINISTRA
Na entrevista, a ministra, entusiasmada, revela:
– A partir de uma conversa que tive no ano passado com um grupo de
blogueiros, estamos fazendo um estudo comparado sobre mídia
alternativa/internet de todos os países possíveis onde há mídia livre,
democracia, grandes populações, diversidade cultural, étnica, religiosa,
para saber quais são os instrumentos utilizados para estimular o que
se chama aqui de mídia alternativa, pequena mídia. Enfim, nós estamos,
sim, preocupados com este assunto. Nós estamos, sim, dispostos a
continuar ouvindo propostas e sugestões e participar também do debate no
Congresso.
Em resposta a um e-mail desta repórter, ela antecipa na quinta-feira 27 :
– Esta semana tive os primeiros resultados do estudo comparado. Estamos
buscando formas de, sem acabar com o critério da mídia técnica,
viabilizar estímulos ao setor. Há exemplos internacionais interessantes,
como o da África do Sul, por exemplo, que tem uma agência de fomento à
diversidade da mídia. Há uma proposta em estudo em comissão presidida
pela deputada Jandira Feghali, na Câmara, que trata da possibilidade de
haver linha de financiamento do BNDES. Tudo isso tem que ser estudado e
discutido.
Como nem a ministra nem eu tínhamos sequer ouvido falar do Bolsa de Mulher, despertou-me a curiosidade de conhecê-lo.
De acordo com o Whois no site registro.br, o domínio do “bacaníssimo” está em nome de André Chaves de Moraes Leme. André, que já foi CEO do Bolsa de Mulher e ex-diretor executivo do Valor Econômico, é presidente do IG, onde ocupou anteriormente a vice-presidência. Em 2012, o IG levou no total R$ 5,7 milhões do governo federal.
Em 14 de fevereiro deste ano, informa o meioemensagem.com.br, o portal foi comprado pelo grupo americano Batanga Media, sediado em Miami. O Bolsa de Mulher, que diz ter 9,5 milhões de visitantes únicos, diríamos é pink clarinho.
Até hoje, 2 de julho, não foi atualizado. Consta ainda na sua página como sendo da Ideiasnet.
A seção Saúde, com base em 32 anos como repórter especializada na área, garanto, ministra, deixa a desejar.
SECOM NÃO INFORMA VERBA PARA REDE E ORGANIZAÇÕES GLOBO
Durante a entrevista, esta repórter questionou:
– Se juntarmos a TV Globo aberta [nessa altura já sabia que nos R$ 495.270.915,28 programados para 2012 estão incluídas todas as afiliadas] e as emissoras fechadas do grupo, quanto toda a Rede Globo recebeu de recursos publicitários do governo federal?
– Podemos fazer, mas não é como a gente opera – diz Messias.
– Como operam?
– É por meio – informa Messias.
– A audiência absoluta das fechadas é muito baixa. Se você pegar o
investimento, não sei se vai fazer uma grande diferença – diz a
ministra.
– A gente vai estar juntando mamão, banana, laranja – desestimula Messias.
– Mas eu acho importante esse dado para os leitores terem noção do conjunto.
– Vamos tentar – anuncia a ministra.
– Podemos – reforça Messias.
Promessa não cumprida.
Outras promessas não cumpridas:
*Quanto as Organizações Globo receberam de verbas federais de
publicidade em 2012? Dela fazem parte, além de TVs abertas e fechadas do
grupo, os jornais O Globo e Extra, a rádio CBN, os portais G1 e Globo On Line, as revistas Época, Marie Claire etc…
*Quais as emissoras fechadas que receberam verba publicitária do governo federal em 2012 e quanto?
Em e-mails enviados a Helena Chagas, Roberto Messias e Fabrício Costa,
solicitando esclarecimentos adicionais sobre alguns pontos, esta
repórter reiterou as perguntas acima.
Em nota (íntegra, aqui), José Ramos Filho, secretário de Imprensa da Secom, respondeu:
Em relação ao seu pedido para que a SECOM faça um levantamento sobre as
programações de publicidade oficial consolidadas por grupo
empresarial, envolvendo todos os tipos de mídia de cada grupo e,
também, para que sejam detalhados os sites programados por todo o
Governo Federal, informamos: a SECOM não dispõe dos dados efetivos de
todo o Governo Federal referentes a pagamentos realizados a veículos e
grupos de comunicação, uma vez que inexiste previsão legal que
atribua à esta secretaria, ou a outro integrante do Poder Executivo
Federal, competência para processar os dados na forma solicitada.
Em resumo: Disse que a Secom não dispunha dos dados solicitados.
A repórter insistiu com a ministra e equipe.
Foram seis tentativas visando obter os dados sobre a Rede e as
Organizações Globo e os canais pagos de tevê. A última, na quarta-feira
26. Na sexta 28, o secretário de Imprensa (na íntegra, aqui) respondeu:
Conceição, estamos tratando de duas coisas distintas. Sua solicitação inicial, pelo que entendemos, era sobre os pagamentos de
todo o governo aos veículos, dados que nós não temos. Só temos
informações dos nossos pagamentos, da SECOM. As informações de terceiros
de que dispomos são apenas de planejamento de investimento, e não de desembolso efetivo. [grifos de José Ramos]
(…)
Os dados utilizados no artigo de Roberto Messias, por exemplo, tinham o objetivo de dar uma visão geral dos investimentos em alguns segmentos de
mídia. E foram precedidos de uma checagem prévia, que avaliasse a
consistência com os resultados efetivos dos investimentos publicitários.
Foi uma ação pontual, que consumiu recursos humanos caros à SECOM. A
mesma divulgação, no entanto, não pode ser feita com as demais
informações, que não foram submetidas ao mesmo trabalho de checagem, sob
risco de cometermos equívocos. [grifos de José Ramos]
A tabela mostrada na entrevista foi de investimento programado em sites
na internet, que foi encaminhada pela Ministra, sem valores conforme
dito no encontro, apenas com o nome dos sites e referente ao ano 2012.
Tergiversação. Aos fatos:
1.Esta repórter não solicitou os pagamentos feitos, pois sabia que a
Secom não dispõe desses dados, exceto os dela própria. No dia da
entrevista, ficou absolutamente claro que os valores se referiam aos
investimentos programados. Aliás, essa informação consta de todas as tabelas do texto de Roberto Messias, no Observatório da Imprensa.
2. Nessas tabelas, a Secom divulgou até os centavos dos investimentos.
Logo, é impossível que não tenha as verbas programadas para todos os
veículos e meios. Do contrário, nunca chegaria a cálculos tão
minuciosos.
3. Ao longo da entrevista na íntegra, isso pode ser confirmado.
4. Para responder as nossas questões, bastaria fazer estas duas contas
de somar, com os valores de publicidade previstos para os diversos
veículos do grupo:
TV Globo + canais fechados = Rede Globo
Rede Globo + os jornais O Globo e Extra + Globo Online + G1 +
Globo.com + rádio CBN + revistas Época, Marie Claire etc. =
Organizações Globo
5. Para responder quanto e em que canais fechados estavam previstos
investimentos, bastaria nos passar a lista que a Secom dispõe com os
valores. Só que isso implicaria abrir os recursos programados para os
canais pagos da Globo. O que, pelo menos aparentemente, a Secom não
gostaria de fazer.
6. A lista de todos os veículos da internet apresentada durante a
entrevista continha os valores planejados para 2012. A princípio, a
ministra concordou em fornecê-la ao Viomundo. Mas recuou. Ficou
acertado que poderia fornecer sem os valores. Também que os nomes dos
portais/sites/blogs não viriam por ordem de investimento.
7. Na própria sexta-feira 28, imediatamente após receber por e-mail a resposta do secretário de Imprensa da Secom, devolvi-lhe: E
quanto às verbas programadas para as Organizações Globo, Rede Globo
(incluindo as fechadas) e a lista e valores destinados às tvs fechadas?
Vcs não vão me enviar?
8. Para que não houvesse qualquer mal-entendido, telefonei-lhe também
duas vezes [só consegui falar na segunda] para reafirmar, de viva voz,
que eu nunca havia solicitado os pagamentos efetuados, que queria os
investimentos programados e se eles iriam ou não fornecê-los.
9. Supondo que a Secom tivesse efetivamente achado que a minha
solicitação inicial era sobre os pagamentos, essa era hora de ela
esclarecer a questão semântica e nos fornecer as informações
solicitadas.
Em vez disso, a resposta foi não. O secretário de Imprensa reafirmou ao
telefone o que já havia dito no e-mail (texto acima). Outro e-mail na
mesma linha nos foi enviado.
Resumo da ópera: A Secom sonega informações sobre os investimentos
publicitários federais nas Organizações Globo, que faz campanha pesada
contra o governo federal e a presidenta Dilma 24 horas do dia, todos os
dias da semana, deturpando, manipulando informações, faltando com a
verdade.
Diante disso, é impossível não concordar com o argumento recorrente dos leitores do Viomundo: O governo Dilma paga para apanhar. E ainda pede bis, eu acrescentaria agora.
A seguir a íntegra da entrevista com a ministra Helena Chagas, da qual
participaram Roberto Messias e Fabrício Costa. Nela tratamos disso
tudo, inclusive do BV e da possibilidade de Henrique Pizzolato ir para a
cadeia.
Viomundo – No primeiro e-mail que
trocou conosco, a senhora disse: “Seguimos os critérios da mídia
técnica e da regionalização, implantados por meu antecessor,
e praticamente nada foi mudado de lá para cá”. O que mudou?
Helena Chagas — Nós ampliamos o número de veículos em nosso cadastro.
Foi na época do ministro Gushiken [Luiz Gushiken] que se discutiu pela
primeira vez a ideia da mídia técnica. O Beto [Roberto Messias], há
mais tempo aqui, me corrige se eu estiver enganada. Quando o ministro
Franklin Martins chegou, ele implantou. E chamou uma equipe da qual já
faziam parte o Beto, a Yole [Mendonça], que até pouco tempo foi a
secretária-executiva, o Fabrício [era assessor de Messias], que
praticamente chegou junto…
Foi essa equipe que está hoje comigo que implantou o critério da mídia
técnica. O que ela fez? Trabalhou para institucionalizar esse critério e
formou um cadastro. Lembramos que em 2007, 2008, havia 400 e poucos
veículos…
Roberto Messias – Não, em 2003, havia 499 veículos.
Helena Chagas – No início do governo [Lula], tinha 400 e poucos
veículos nesse cadastro, hoje temos mais 8 mil. Então, não se pode
dizer que nada mudou, porque, aos poucos, fomos ampliando, ampliando,
ampliando. Nós estamos dando continuidade ao trabalho que foi feito
antes. Posso fazer um parêntese para falar um pouquinho da mídia
técnica?
Viomundo – Era exatamente o que eu ia perguntar.
Helena Chagas — Qual o objetivo da Secretaria de Comunicação de
um governo? Levar a mensagem do governo a um número máximo de
brasileiros possível, gastando o mínimo de recursos possível. Quer
dizer: fazendo essa relação custo-benefício valer.
Nós trabalhamos com dinheiro público, dinheiro do imposto do
contribuinte. A minha obrigação como gestora é aplicar bem esses
recursos. Eu estarei aplicando-os bem quando a mensagem do governo, que
pode ser de utilidade pública (vacinação, combate à dengue, por
exemplo) ou de prestação de contas do que foi feito com o seu dinheiro
(como uma obra aqui, um programa lá), chegar ao brasileiro que estiver
mais distante.
Todo mundo fica dizendo que nós estamos interessados só na audiência.
Nosso interesse na audiência não é comercial. Nosso interesse na
audiência é levar a nossa mensagem a um número máximo de pessoas. Até
hoje não surgiu um critério mais eficiente em relação a esse objetivo
principal, que é dar acesso a todos os brasileiros a esta mensagem, do
que o critério da mídia técnica.
Viomundo — Por quê?
Helena Chagas – Porque o critério da mídia técnica que usamos
tem como base a audiência e o que agregamos a ele, a regionalização,
que estamos intensificando cada vez mais. Então, uma parte dessa verba
vai para os veículos regionais, que são as pequenas rádios, os pequenos
jornais.
Por exemplo, seca no Nordeste. Precisamos que as pessoas saibam que
elas têm direito ao bolsa estiagem e a outros programas federais. Eu
tenho de dar um jeito de o governo chegar até elas nas localidades
rurais, pequenas. Então, ou é a rádio bem pequeninha ou um carro de som
na praça, orientando-as a ir ao sindicato, para pegar a sua informação…
Roberto Messias – Na Amazônia, para chegarmos às mulheres
escalpeladas [problema recorrente na região; acidentalmente os cabelos
se enroscam na hélice do motor de pequenas embarcações, arrancando o
couro cabeludo, por vezes parte da pele do rosto e pescoço, levando a
deformações graves], nós fazemos barco de som.
Helena Chagas — …Então a mídia técnica é o critério que adotamos
para distribuir verba de publicidade. Eu nem gosto da palavra
distribuir, pois a verba de publicidade não é uma verba que eu estou
distribuindo para alguém. É um serviço que eu estou comprando para o
brasileiro ter acesso à minha informação.
Viomundo – No texto do Roberto
Messias, publicado no Observatório da Imprensa, está escrito: “Se a
publicidade de governo tem como objetivo primordial fazer chegar sua
mensagem ao maior número possível de brasileiros e de brasileiras, a
audiência de cada veículo tem que ser o balizador de negociação e de
distribuição de investimentos. A programação de recursos deve ser
proporcional ao tamanho e ao perfil da audiência de cada veículo”.
Esse critério não segue a lógica mercadista, como se o governo fosse uma empresa privada?
Roberto Messias – Não!
Helena Chagas – Não. Veja bem. A programação deve ser
proporcional à audiência de cada veículo dentro dos objetivos que a
gente tem com cada ação de publicidade de campanha.
Por exemplo, numa ação de publicidade para as populações afetadas pela
seca do Nordeste, eu não vou fazer em nenhum veículo grande de capital,
já que elas não estão nas grandes capitais. Vou fazer nos veículos
pequenos do interior do Nordeste.
Você diz que a nossa lógica é da iniciativa privada, mas se olhar o
quadro do investimento do mercado privado em publicidade é bastante
diferente do nosso. Eles concentram muito mais nos grandes veículos por
razões meramente comerciais. As minhas razões são de responsabilidade
social de quem está no governo e tem de servir à população. É muito
diferente.
Viomundo — Não lida mesmo como se o governo fosse uma empresa privada?
Helena Chagas – De jeito nenhum!
Viomundo – Mas ao argumentar a
senhora se apoia na audiência, que favorece os grandes veículos em
todos os segmentos, incluindo internet. Esse critério não fere a
Constituição Federal, que prevê estímulo à diversidade, à pluralidade
informativa?
Helena Chagas – Acho que não. Veja bem. Eu sou totalmente a
favor do estímulo à pluralidade, à diversidade. Agora, não acho que as
verbas publicitárias tenham de ser necessariamente o instrumento desse
estímulo.
A verba publicitária é uma verba que eu tenho de aplicar e o meu
objetivo um, o alvo da mensagem, é chegar ao cidadão. Os outros
objetivos são secundários.
Sou a favor do estímulo a favor da diversidade, acho que deve haver uma
política de estímulo à diversidade, de estímulo às pequenas empresas
de comunicação. Mas não acho que necessariamente ela tenha a ver com o
uso da verba publicitária, que é uma compra. É uma aplicação de verba de
mídia.
Inclusive eu vou te contar uma novidade. A partir de uma conversa que
tive no ano passado com um grupo de blogueiros, que veio fazer essa
reivindicação, eu mandei fazer um estudo comparado de todos os países
possíveis onde há mídia livre, democracia, grandes populações,
diversidade cultural, étnica, religiosa, para saber quais os
instrumentos utilizados para estimular o que se chama aqui de mídia
alternativa, pequena mídia. Enfim, nós estamos, sim, preocupados com
este assunto. Nós estamos, sim, dispostos a ouvir propostas e sugestões.
Viomundo – Tem noção de como é no restante do mundo?
Helena Chagas — Nós já temos um pouco. Mas estamos esperando
concluir o estudo, porque eu acho que ele pode dar ideias boas, que a
gente possa discutir e aplicar aqui dentro de um processo de discussão
também com o Congresso, com as entidades, dentro do governo.
Nós estamos completamente favoráveis a esse debate. Agora, eu
pessoalmente não sei se isso deva ser feito com a verba publicitária,
que é uma verba que tem de ser aplicada com um objetivo muito claro de
levar a mensagem para um maior número de pessoas.
Você tem vários programas de estímulo às pequenas empresas no país, por que não estímulo às pequenas empresas de mídia?
Evidente que é uma discussão enorme e complexa. Primeiro, tem que
delimitar o universo. Quem são as pequenas empresas? Qual é o corte que
nós vamos fazer? É só internet? É impresso? É rádio? Eu acho que a
gente tem aí um longo caminho a percorrer, para amadurecer alguma coisa
nesse sentido.
Mas não sou contra. O que eu acho errado nessa discussão é contrapor:
como a gente investe com o critério da mídia técnica isso aí é
incompatível com o estímulo à diversidade.
Viomundo – E não é?
Helena Chagas — Não é, não é. Eu acho que pode ser feito de outra forma.
Viomundo — De que forma?
Helena Chagas — Eu não queria antecipar o debate, eu acho que
isso tem de sair no debate. Essa conversa tem de continuar, inclusive
com parlamentares. A minha dúvida é o que eu vou fazer. Vou acabar com o
critério da mídia técnica e, aí, o que vai acontecer no dia seguinte?
Eu posso aperfeiçoá-lo sempre.
Viomundo – Pelos dados da Secom, os
investimentos do governo em publicidade na TV aberta aumentaram, embora
ela só tenha perdido audiência em todos os segmentos, inclusive em
novelas e telejornais. Por que mesmo assim a Secom ampliou os
recursos?
Helena Chagas — Na verdade, os recursos para TV estão estáveis.
Saiu essa interpretação de que ampliou, porque os números de 2000 e
2001 eram abaixo de 60%.
O que aconteceu? Em 2000 e 2001, não havia critério nenhum. Nem de
mídia técnica nem de mídia não técnica. E a medição dessa aplicação não
me parece que fosse muito rigorosa ainda. Então a gente não tem muito
como avaliar isso. Agora de 2001 para 2003…
Fabrício Costa – Desde 2006 para cá a gente vem mantendo essa mesma verba.
Helena Chagas –…Por quê? Porque pelos dados que nos chegam a
televisão continua sendo para 96% da população no país inteiro o
principal veículo de informação, entretenimento, etc. Nós não temos um
dado que nos diga: a audiência geral de televisão caiu x para aí a gente diminuir…
Roberto Messias – Tem faixas, né.
Helena Chagas — …É, tem faixas, mas ainda é o meio que mais chega às pessoas.
Fabrício Costa — Você fala da queda de audiência. Internamente a
gente observa isso canal por canal. Um canal que caiu, por exemplo,
foi a TV Globo. Houve queda de participação da Globo, porque houve
queda de audiência, mas houve aumento da TV fechada, por exemplo.
Helena Chagas — Então o que saiu da TV Globo não necessariamente saiu do meio televisão.
Roberto Messias – Posso fazer um parêntese da primeira pergunta
que você fez? Outra coisa que mudou é que a gente tinha conseguido
colocar no nosso cadastro, programando, tevês comunitárias. Tínhamos 74
tevês comunitárias e, agora, a legislação não permite que a gente
anuncie mais.
Helena Chagas — E era importantíssimo que a gente colocasse nelas, porque chegam num público bem específico.
Fabrício Costa — E essa é outra característica da nossa atuação.
A gente não faz com poucos. O governo é o único anunciante do mercado
que faz com muitos. Passa essa impressão de que a gente concentra nos
grandes, mas a gente faz da Globo até a pequena emissora, a TV Diário,
em Fortaleza, uma tevê segmentada. Quando a gente faz plano, são planos
muito abrangentes e que entram todos os veículos. Então não há uma
concentração em poucos. Há uma desconcentração e a gente coloca
dinheiro do meio para dividir entre eles.
Helena Chagas — Por outro lado, a internet está crescendo. E nós
estamos crescendo também com ela. Ela ainda não é um meio que leva
mais, mas está crescendo e vai continuar crescendo muito, sem a menor
dúvida.
O investimento em internet passou o da revista. O dos jornais também
teve uma queda sensível. Por quê? Porque realmente teve uma queda
sensível de circulação.
Viomundo – No quadro 1 do texto do Messias,
a TV, em 2010, correspondia a 54% dos investimentos, em 2012, a 62%.
Aí estão incluídas as TVs abertas, as fechadas e as demais emissoras?
Helena Chagas – Aí, está incluído tudo, tudo, tudo.
Fabrício Costa — Onde há possibilidade de comprar publicidade no meio TV, o governo compra.
Roberto Messias — Todas.
Viomundo – No artigo do Messias,
também está dito: “Os investimentos do governo em televisão ficam
abaixo da média dos percentuais praticados pelo setor privado no
Brasil. Para melhor exemplificar o diferencial da atuação, basta citar
que nas campanhas publicitárias de empresas privadas o peso do meio
televisão nos últimos dois anos foi superior a 70%, acima dos 62% do
Governo Federal. A indústria financeira chega a aplicar mais de 73% dos
investimentos publicitários em televisão”.
Por que você compara o governo com o
setor privado? Por que o paradigma é o anunciante privado? Não é
estranho já que estamos falando de um governo que tem uma função
social, pública?
Roberto Messias – Na primeira pergunta que tu fez, tu fez esta
questão. Se tu pegar, por exemplo, o banco Itaú, eu sei porque estudei a
indústria financeira, ele tem mais de 80% investidos no meio
televisão. E desses 80%, 98% na TV Globo, praticamente tem
exclusividade de participação. No nosso caso, a gente fez um comparativo
porque…
Helena Chagas – É só porque é de mercado publicitário também.
Roberto Messias — Exatamente.
Helena Chagas – Não temos que ser iguais a eles. E não somos. Só porque é o único parâmetro que a gente tem de comparação.
Roberto Messias – É para dizer que a gente que não está botando
tanto lá. Tanto que os meus 62% de televisão têm uma distribuição muito
maior em termos de veículos e títulos do que os 70% deles [Itaú].
Colocam nas quatro grandes, quando colocam…
Viomundo – Agora, os investimentos
na internet. De novo, vou recorrer ao texto do Messias. Em 2000,
correspondiam a 1,33% da verba publicitária do governo federal. Em
2003, primeiro ano governo Lula, a 1,44%. Em 2012, a 5,32%. Um
crescimento de mais de 500%. Em 2011, os “grandes portais” ficaram com
38,93%, enquanto os demais sites, com 61,%. Em 2012, os grandes portais
com 48,57% e os “demais sites” com 51,43%. Por que em 2012 houve
aumento dos recursos para os “grandes portais” e redução para os
“demais sites”?
Helena Chagas – Foi só uma variação. Veja bem. Se você olhar,
2011 foi um ano melhor do que 2012. Por quê? Porque 2012 é um ano
eleitoral. Por lei, nós somos proibidos de fazer publicidade no período
eleitoral. Fazemos questão de cumprir para não dar qualquer margem à
acusação de que estamos usando publicidade federal para fazer campanha.
Então, 2012, nós passamos vários meses sem fazer publicidade, o que
trouxe uma redução no ritmo de alguns investimentos em relação a 2011.
Você pode crer que em 2013 vai voltar no patamar de antes.
Roberto Messias — Um mês antes da restrição determinada pelo TSE
a gente suspende tudo regionalmente para não ter erro. Como a gente
não tem controle sobre o que vai sair na rádio, no jornal do interior,
um mês antes, a gente faz gestão com as empresas de governo para não
correr risco de ter ações regionais e ser alvo de denúncias no TSE,
mesmo sem ter condição. Aí, são privilegiados para campanhas de
utilidade pública autorizadas pelo TSE, os sites de veiculação nacional
assim como a televisão, que a gente consegue colocar e tirar mais
rápido do ar.
Helena Chagas — Os pequenos acabam mais prejudicados, os sites regionais, porque gera essa distorção.
Fabrício Costa – E a leitura que tem que contar é a da evolução.
A gente está caminhando, ano após ano, a ter a inclusão de mais sites.
Desconcentrar esse processo como é da nossa premissa.
Viomundo — Que sites estão incluídos nos 51,43% de 2012?
Helena Chagas – Os pequenos? Mostra a lista para ela, nós temos uma lista imensa…
Fabrício Costa – A gente trouxe para não dar a impressão de que
a gente faz com poucos. Essa é a lista de toda a nossa programação, TV
fechada, aberta, tudo o que o governo faz. Aqui é só internet…
Helena Chagas – Isso é só internet. Estão por ordem de investimento?
Fabrício Costa – Estão.
Viomundo – Posso ficar com isto [listas com todos os investimentos de internet]?
Helena Chagas – Pode.
Roberto Messias – Com dinheiro, não.
Fabrício Costa – Isso não dá.
Helena Chagas — Com os nomes, sim, mas os investimentos, em respeito a essas pessoas, eu não quero. Você pode olhar aqui à vontade.
Roberto Messias – Isso revela até a negociação da gente…
Helena Chagas – A gente vai expor colegas, pessoas… Isso aqui o que é?
Fabrício Costa – Os 20 primeiros, ano a ano.
Helena Chagas – Os 20 primeiros sites, ano a ano. 11 e 12, que são os mais recentes. Você tem os grandes naturalmente. Você tem Carta Maior, está entre os 20. Conversa Afiada, Bolsa de Mulher. Quem é o Bolsa de Mulher?
Roberto Messias –É um bacaníssimo.
Fabrício Costa – É um site feminino.
Roberto Messias – Bacaníssimo.
Helena Chagas – Eu nem conheço.
Roberto Messias – E é bacaníssimo.
Helena Chagas – É bacaníssimo, porque tem campanha segmentada para pegar mulher…
Roberto Messias – Câncer de mama, o Dia Internacional da Mulher…
Helena Chagas — O Opera Mundi…
Viomundo: Mas aí vocês estão misturando os grandes portais com sites, blogs?
Helena Chagas – Sim. Aqui [mostrando uma das listas], são
os 20 maiores investimentos na internet. É claro que os maiores como
têm mais audiência levam mais.
Entre os 20 tem vários que não são grande mídia organizada. Acho que os
20 primeiros a gente pode fornecer para ela… [consultando Messias e
Fabricio] Não!? [diante do meneio negativo da cabeça de ambos]
Fabrício Costa – É a abertura de investimento que a gente não tornou público.
Roberto Messias – Vai expor uma negociação nossa.
Helena Chagas – Mas acho que a gente pode passar para ela a lista dos 20?
Roberto Messias – Pode. Eu posso te mandar até o meu cadastro inteiro com os 9 mil veículos.
Viomundo – Mas poderia pelo menos mandá-los na ordem de investimento [a lista dos 20 maiores investimentos?
Helena Chagas – Você me pegou. Vai expor a pessoa que recebe.
Roberto Messias – Vai expor inclusive uma negociação nossa.
Helena Chagas – O meu objetivo não é confrontar nem constranger o colega, é explicar o que está se passando.
Viomundo – No seu texto Messias,
você diz que em 2012 houve redução também devido às eleições. Por que
também? Que outro fator interferiu?
Roberto Messias – É o principal fator. Na verdade, o também aí é essa restrição nas eleições...
Fabrício Costa – O também no texto é que a mídia jornal também
caiu a audiência, não é relacionado a outros fatores. O principal fator
que afeta 2012 é esse desenho eleitoral que inibe a gente de fazer
regionalmente [publicidade].
Helena Chagas – Mas você também teve os jornalões caindo, alguns populares subindo, a internet crescendo…Você tem vários movimentos…
Roberto Messias – Revistas caindo.
Helena Chagas – …que são sutis, mas que fazem diferença e a gente acompanha a audiência.
Viomundo – No ano passado, a Folha,
com base na lei da transparência, pediu ao governo federal informações
sobre os gastos com publicidade. Ao mesmo tempo, a mídia começou a
falar que o governo estava financiando os blogs progressistas…
Helena Chagas — Por que a Folha fez aquela campanha?
Porque a partir da aprovação da LAI [Lei de Acesso à Informação], no
ano passado, nós começamos a colocar na internet os nossos números. A Folha fez aquela série de matérias, porque nós colocamos os dados.
O que aconteceu? Eu não posso colocar os números das estatais que
concorrem no mercado e são protegidas pela LAI, de outros ministérios
que eu não posso comprovar o que foi efetivamente gasto…Tenho que dizer
que é planejamento.
Então, o que fizemos? Nós pegamos todas as nossas notas fiscais de
pagamento e colocamos na internet. Mas apenas as nossas, Secom. Foi
muito bom, porque deu muita transparência, porque a gente não tem nada a
esconder.
Mas o que aconteceu? Aquilo era uma lista referente ao resultado de um
ano… muitas vezes neste ano você está pagando campanha publicitária do
ano passado…Só que, a partir dali, a Folha passou a somar, por exemplo, todos os que têm para televisão, pra Globo…
Enfim, não dava para fazer essa relação por ano, fizeram uma bagunça,
um monte de soma errada. Então, desde lá, nós começamos a divulgar
essas listas com base no IAP, pra deixar as coisas bem claras.
Viomundo — Ao mesmo tempo, a mídia
começou a acusar o governo federal de estar financiando os blogs
progressistas. A redução de investimentos em 2012 teve a ver também com
a pressão da mídia sobre vocês?
Helena Chagas — Não houve essa redução toda… muito menos em função da Folha de S. Paulo. O que disse é que o ano eleitoral trouxe uma redução no ritmo de alguns investimentos
Fabrício Costa – A redução que houve a gente já falou. O que
houve no ano passado foi essa limitação regional, inclusive dos jornais
locais, por ser período eleitoral. A gente compra muito publicidade em
sites de notícias regionais nos estados… Esses, a gente inibiu.
Helena Chagas – Se em 2012 houve uma pequenina variação por
causa das eleições, não dá para, a partir daí, você dizer que reduziu o
investimento em blogs progressistas.
Nós temos um cadastro de quase 9 mil veículos. Se você ligar para os
quase 9 mil veículos, todo mundo vai reclamar que a Secom está dando
pouco, que o governo está dando pouco…
Roberto Messias – Se ligar para a Globo, ela vai reclamar…
Helena Chagas – Os blogs/sites progressistas não pararam de
receber recursos, como você pode observar na tabela que lhe enviei. O
que há é que alguns querem mais recursos, assim como praticamente todos
os quase 9 mil veículos de nosso cadastro. E obviamente não há
orçamento para aumentar substancialmente os investimentos. Aliás, o
nosso cadastro é inclusivo, ou seja, há sempre mais veículos, sites e
blogs sendo cadastrados a cada dia e se tornando aptos a receber
publicidade. Com a entrada de novos veículos, os mesmos recursos acabam
sendo distribuídos entre um número maior de sites e blogs.
Viomundo — A Secom investe
maciçamente na mídia de direita, inclusive na internet. A Secom tem
alguma coisa contra mídia ideologicamente identificada com o pensamento
de esquerda?
Helena Chagas — A Secom não inclui avaliação ideológica dos
quase 9 mil veículos aptos a receber mídia em seu cadastro.
Consideramos que esse cadastro reflete a diversidade regional, cultural
e social da mídia brasileira.
Viomundo – E quanto a acusação de que a política de distribuição de verbas da Secom estaria sufocando os blogs progressistas?
Helena Chagas — Não é verdade. Eles continuam participando da
mesma maneira. Agora esses blogs estão crescendo em número. Então você
tem vários outros… Muitas vezes o dinheiro é o mesmo para distribuir
pra todo modo. Então a gente tem dificuldade às vezes de grana.
Roberto Messias — Não dá na árvore, né…
Helena Chagas — Nem todo mundo é Viomundo* que não pede. Aliás, ninguém mais é Viomundo. Por isso eu quis conversar com o Viomundo. Todo mundo está querendo e está achando que está com pouco, está com pouco, está com pouco…
Fabrício Costa – A briga é para que aumente e eles…
Helena Chagas – Por isso eu acho que fazer esse estímulo à
diversidade com verba publicitária é muito complicado. É muito melhor
pegar um cara desses, que está com uma pequena empresa de comunicação e
dar outro tipo de estímulo: você tem direito a crédito, a isenção,
financiamento…
Roberto Messias – Mas, ao mesmo tempo, ao contemplar todos os veículos que ali existem — e a gente tem os maiores views
–, eu acho que estamos colocando essa política de diversidade dentro
da política de comunicação. Eu não estou capitaneando essa política, a
de diversidade, eu estou contemplando-a na política de comunicação do
governo.
Helena Chagas – Claro! A gente está contribuindo enormemente
para a democratização da comunicação. Às vezes, para dar para um
pequeno site um de Aquidauana, eu deixo de dar pra outro pequeno,
médio, progressista de São Paulo. Eu divido um pouco… Quanto mais
veículos entram no cadastro, naturalmente mais nós regionalizamos e
democratizamos essa verba de publicidade.
Roberto Messias — E com eficiência, com eficiência.
Helena Chagas – Dar dinheiro para o pequeno não é pulverizar…
Roberto Messias — Por exemplo, ações afirmativas de governo da
Seppir [Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial] para
os sites negros… A gente tem uma política de distribuição, contemplando
essa política de diversidade cultural, afirmativa.
Fabrício Costa — A nossa atuação é diária pelo governo com um
todo… Em todas as ações que nos chegam de mídia, a gente aplica o
princípio da desconcentração. Não vai colocar só em um veículo, mas
fazer em outros também. Esse desenho ampliado de participação em vários
veículos ao mesmo tempo vai aumentando ano após ano…
Roberto Messias – Deixa eu fazer um esclarecimento que talvez
seja legal na questão da desconcentração. Diz-se que a melhor
ferramenta de pesquisa que existe é aquela disponível.
Pois bem, hoje você tem no mercado o monopólio de Ibope na área
eletrônica e de IVC na área impressa. O Ibope mede minuto a minuto
apenas em 10 mercados, as grandes capitais, e eu tenho 5 mil municípios.
E mais. O Ibope faz 36 rodadas alternativas por ano em 36
conglomerados municipais. Ou seja, estou falando de 46 municípios.
E o IVC, se eu não me engano, tem hoje 109 títulos auditados por ele, sendo que o Brasil tem quase 3 mil jornais.
Então existe aí uma diferença que pode ser que eu esteja errado, mas eu
acho que não, que é de abrir, democratizar e desconcentrar.
Viomundo – Como?
Roberto Messias – A gente chega numa cidade que não tem medição
alguma — nem do IVC nem do Ibope –, como Aquidauana, Umuarana,
Itumbiara. Ao chegar lá, pegamos rigorosamente todas as emissoras de
rádio e todos os títulos de jornal daquele município. Auditados ou não,
geralmente não são.
Aí, propomos uma negociação realmente pelo critério técnico. Eu não sei
quem é favor ou contra o governo, qual a cor das pessoas… O que eu sei
é que tenho uma praça sem auditagem com quatro jornais e os quatro
toparam a negociação comigo. Como eu não tenho auditagem pra dizer qual o
melhor, não tem motivo para eu, Caixa ou Petrobras, colocar
publicidade num só jornal, já que os quatro toparam e os quatro
teoricamente têm um custo ajustado. Isso para nós é desconcentração.
Assim, quando a Petrobras vai a Umuarama, por exemplo, querendo fazer
com um jornal só, a gente diz não: tem que fazer com todos daquela
praça.
Se a Petrobras quiser, ela não precisa fazer aquela praça. Agora,
fazendo aquela praça, a gente coloca para fazer para todo mundo. Em
capitais, no mínimo, em dois jornais; em algumas, três.
Esse critério é o da desconcentração. É ao contrário do que andam dizendo.
Agora, não é porque a gente faz com um, tem que fazer com outro. Tem de
fazer se houver uma negociação, numa praça fechada, onde todos topam
sem auditagem.
Helena Chagas – Teve uma reclamação, acho que foi na CartaCapital, de alguém que, em off,
disse: “Ah, num determinado lugar, nós queremos fazer contrato com um
veículo e eles [a Secom] obrigam a gente a fazer com outro veículo
daquele lugar”.
Sim, se você não tem auditagem, eu tenho de fazer nos dois veículos da
localidade; eu não vou fazer apenas com um, porque é meu amigo.
Isso, sim, é distorção. É dinheiro público. Eu tenho de ter
imparcialidade. Se esse jornal existe, ele chega em alguém, logo tem de
fazer publicidade nele também.
Roberto Messias — Se tu quiser mais recurso, faz um projeto bacana para a Caixa Econômica, aí, sim, só você vai ter aquele projeto.
Viomundo — Voltando à televisão. O
quadro 2 do texto do Messias mostra que houve um aumento de
participação tanto das TVs fechadas quanto das demais emissoras.
As demais emissoras responderam por 4,4 % do total de gastos previstos
em 2012. E TVs fechadas, por 10,03%. Ou seja, 14,43% de todas as
verbas publicitárias. Ministra, as demais emissoras são as afiliadas da
Globo, como a RBS, no RS, e a Verdes Mares, de Fortaleza?
Fabrício Costa — Não.
Roberto Messias — São a TV Rede Viva, TV Canção Nova, TV Gênesis, TV União…
Helena Chagas – As afiliadas estão no número da TV Globo. Nós reunimos num mesmo CGC a TV Globo e todas as suas afiliadas.
Roberto Messias — Mesmo que eu compre lá da RBS, eu compro vinculado ao pessoal de Rede Globo aqui.
Viomundo – Então, as demais emissoras não têm nada a ver com a Globo?
Roberto Messias — Nada a ver.
Helena Chagas – Não.
Roberto Messias – A não ser, por exemplo, a TVCOM, que é
uma tevê rural (sic) no interior (sic) do Rio Grande do Sul, ligada à
RBS. Ela entra em “demais emissoras”, não é canal aberto da RBS.
Tem o Canal do Boi, lá em Mato Grosso do Sul. Ela entra como demais
emissoras, apesar de ser propriedade da Bandeirantes. Ela não está
ligada ao canal aberto da Band. Já a Band News é TV fechada.
Viomundo – Nos últimos anos, o público migrou da TV aberta para a fechada. As verbas federais também migraram?
Helena Chagas – Sim, com os instrumentos de medição que nós
temos e sabemos que têm distorções. Mas nós procuramos acompanhar todo o
movimento da audiência, todo o movimento da sociedade.
Roberto Messias — Nós acompanhamos mês a mês.
Fabrício Costa — E aí está a técnica do processo. Você tem de
anunciar onde tem pessoas. Se elas estão saindo da TV aberta, a gente
vai procurar para onde elas estão indo. Realmente houve uma migração. E
a TV fechada tem crescido muito. Está entrando em novas fatias, tem
pacotes mais baratos.
Helena Chagas – O governo sai na frente desses movimentos… A
internet, por exemplo, o resto do mercado não acompanha. O mercado
publicitário não está nesse patamar.
Roberto Messias — Quer ver uma coisa que a gente ainda não
conseguiu e estamos indo atrás: a parabólica. Ela não é medida, é em
UHF, a gente tem uma população significativa que usa.
Helena Chagas — A gente intui que é muito mais do que acha que é… A gente quer anunciar e não consegue.
Roberto Messias — Não, a gente consegue anunciar em duas, mas não consegue medir.
Helena Chagas — Eu fui a Serra Talhada. Indo pela estrada, área
rural, tudo que é casinha tem parabólica. A gente consegue chegar até
elas, mas não tem ferramentas para medir a audiência.
Viomundo – Se juntarmos a TV Globo
aberta e as fechadas do grupo, quanto toda a Rede Globo recebeu de
recursos publicitários do governo federal?
Roberto Messias — Podemos fazer, mas não é como a gente opera.
Viomundo – Como operam?
Roberto Messias – É por meio.
Helena Chagas — A audiência absoluta das fechadas é muito baixa. Se você pegar o investimento, não sei se vai fazer uma grande diferença.
Roberto Messias — A gente vai estar juntando mamão, banana, laranja.
Viomundo – Mas eu acho que seria interessante nós termos.
Helena Chagas — Vamos tentar.
Roberto Messias – Podemos.
Helena Chagas — Você quer todas da TV Globo e as fechadas? Eles fecharam algumas…
Roberto Messias – Várias.
Fabrício Costa – A maior audiência fechada, a líder, é a
Discovery Kids. Mas quando você vai puxando tem a SportTV, que é um
grande canal de futebol, transmite todos os esportes, mas segue essa
mesma proporção. Mas é tudo também parametrizado com o tamanho da
audiência. Elas são bem fragmentadas, mas as maiores audiências, os
maiores canais tendem a receber mais…
Viomundo — Eu acho importante ter
esse dado para os leitores terem noção do conjunto. Uma outra questão.
Das Organizações Globo também fazer parte os jornais O Globo e Extra, a
rádio CBN, os portais G1 e Globo On Line, as revistas Época, Marie
Claire etc.. Juntando tudo, quanto as Organizações Globo receberam de
verbas federais de publicidade em 2012?
Roberto Messias – Mas é como eu já te disse. A gente funciona
por técnicas por meio. Nós podemos fazer. Mas, de novo, não é como a
gente funciona. A gente tem as verbas por meios…
Viomundo – Mas eu acho importante nós termos para informar os nossos leitores.
Roberto Messias – Podemos fazer, mas não temos ideia, mas deve ser bastante, pois tirando as revistas eles são líderes nos restantes.
Viomundo – Mas eu gostaria de ter esse dado.
Viomundo – Nos valores da TV Globo estão incluídos os patrocínios da Fórmula 1 e de outros eventos esportivos?
Roberto Messias – Todo o dinheiro está aí dentro.
Helena Chagas — Tudo aí.
Viomundo — Todo?!
Roberto Messias — Todo.
Helena Chagas — Das estatais também.
Viomundo — O patrocínio não é separado disso?
Roberto Messias – Não. Patrocínio que é separado disso é o de
evento. Quando a gente tem patrocínios em termos de centimetragem ou em
secundagem, eles estão aí dentro.
Viomundo — Patrocínio de Fórmula 1, vôlei, futebol…?
Helena Chagas — Loteria, tá tudo aí dentro.
Viomundo — O que seria separado?
Roberto Messias – Aquele do Valor Econômico que a presidenta fez e tinha o patrocínio da Caixa, com banner. Não é patrocínio da mídia. É patrocínio de evento.
Quer ver um exemplo? Festa junina de Campina Grande. É um evento. Se eu
tiver uma cobertura do evento, que a Globo está vendendo, aí entra em
meio.
Helena Chagas — Um esclarecimento. Nenhum órgão da administração
direta, nenhum ministério, nem a Secom, patrocina nada. Legalmente a
gente não pode fazer patrocínio. A gente só pode fazer campanha de
mídia. Investimento avulso de mídia. Quem faz patrocínio são as
estatais.
Viomundo — Mas os patrocínios delas estão incluídas nesses valores?
Helena Chagas – Estão. Tudo está aqui. O que eu não posso é te abrir a estatal gastou x, porque ela concorre no mercado.
Roberto Messias — O gastar das estatais a gente não tem. A gente tem o quanto planejou. O gasto é lá dentro da estatal.
Viomundo — No julgamento do chamado
mensalão, o STF julgou irregular, crime, o BV (Bonificação por Volume)
da Visanet. Embora já esteja demonstrado que o dinheiro é privado e não
público, o Pizzolato corre o risco de ir para a cadeia…
Roberto Messias– Demorou.
Viomundo – Por quê?
Roberto Messias – Sou o cidadão agora falando. Eu trabalhava com ele…
Viomundo – Por que demorou para ele ir pra cadeia?
Roberto Messias – Ué, porque eu acho que tem um…
Viomundo – Bem, em função dessa decisão do STF em relação à Visanet, a Secom vai buscar de volta o dinheiro do BV da Globo?
Helena Chagas — Veja bem o que acontece. Juridicamente a situação é complicada, porque houve uma lei do José Eduardo Cardozo, a nº 12.332 de 2010, que autorizou o BV.
Tudo o que nós fizemos aqui está sob a égide dessa lei. O Supremo não
publicou o acórdão, mas acho que ele ainda não concluiu. Do ponto
jurídico não há uma decisão sobre o que deve ser feito, as consequências
dessa lei.
O STF não declarou ainda a inconstitucionalidade, a ilegalidade dessa
lei. Então, ela está valendo e nós continuamos agindo dentro da lei que
nos foi dada para obedecer. Até agora é isso. Agora, se haverá outras
implicações jurídicas nós não sabemos. Nós estamos aqui como gestores
para cumprir a lei. Qualquer que seja a lei nós vamos cumprir.
Roberto Messias – E mais. Para nós, o BV é invisível. A gente
sabe que ele existe, assim como você sabe que ele existe. É uma relação
da agência com o veículo. Eu não sei qual o percentual.
Helena Chagas — Nós não temos nada a ver com o BV, nós não temos
a menor ideia. Inclusive a nossa política de descentralização vai
contra a política das agências de concentrar as suas campanhas nos
maiores veículos por causa do BV. Na hora em que a gente obriga a não
colocar tudo nas grandes televisões ou nos grandes jornais, mas nos
pequenos também, diminui o BV deles.
Helena Chagas — Só vai para os pequenos, porque a gente manda
fazer, se não, eles não fariam. Você acha que as agências querem fazer
anúncio nos veículos pequenos? Se depender deles, não vão fazer.
Fabrício Costa — Nossos grandes planos têm 5 mil autorizações, em média. Isso é complicado. Eles têm de ir atrás.
Helena Chagas — Nós não estimulamos o BV. Pelo contrário. Nós desestimulamos o BV. E se tiver uma lei que não tem, não tem e acabou.
Viomundo — Como a Secom desestimula o BV?
Helena Chagas — Quando eu descentralizo, eu desconcentro…
Roberto Messias — O BV não é o bônus de volume? Ou seja, quanto
mais eu aumentar em você, mais você me retorna. É isso que dizem.
Quando eu boto pra muito mais gente, eu desconcentro, eu diminuo
volume…
Helena Chagas — Eu diluo o volume…
Fabrício Costa – E quando a gente estabelece um limite para o faturamento – o share — quando eu digo que pra Globo só pode ir até o limite da audiência dela – o share –, aí você estabelece uma regra.
Roberto Messias — Se eles querem pagar BV, o problema é deles. O
limite de governo é a gente que estabelece. BV não é só a Globo que
dá. Pelo que anda saindo ultimamente parece que é só a Globo que dá BV.
E não é. A Record dá BV, a Editora Abril dá BV…
Viomundo – Faz parte da relação dos veículos com as agências?
Roberto Messias– Parece que sim. Para mim é invisível, ninguém veio me falar nem oferecer nunca. É relação entre eles.
Viomundo – Ministra, uma do Barão de
Itararé: “É papel do Estado contribuir para a promoção da diversidade
de meios de comunicação. Isso não deveria ser feito, também, através de
uma política de distribuição de verbas publicitárias que observasse,
além dos critérios já adotados, o de promoção da diversidade, uma vez
que a mídia técnica, ao utilizar parâmetros de audiência/tiragem, tende
a favorecer sempre os maiores?
Helena Chagas – Veja bem. Nós já estamos estimulando a
diversidade com a nossa política de regionalização da aplicação da
verba publicitária; ela já estimula a diversidade e a pluralidade.
Quanto mais gente você atinge, quanto mais veículos você tem mais
diverso você está sendo. O nosso cadastro é inclusivo.
Nós consideramos então que nós estamos contribuindo para essa política.
Agora nós consideramos que isso não deve, porém, revogar o critério da
mídia técnica. Eu acho ainda que há outras formas de você estimular a
diversidade, as pequenas empresas de comunicação.
Viomundo – A Altercom defende que
30% de todos os recursos publicitários governamentais sejam destinados
às pequenas empresas de comunicação. O que acha dessa proposta?
Helena Chagas – Todas as propostas serão bem-vindas e nós vamos
discutir essa proposta da Altercom. Agora, eu vejo aí uma dificuldade.
Primeiro, de você delimitar um pouco esse universo. Eu acho que teria
de ter um estudo muito detalhado de quem entra aí. Quem são as pequenas
empresas, onde elas estão, qual é esse universo? É muito vago.
Eu mandei fazer o nosso estudo justamente a partir da demanda deles
para saber como é feito este estímulo às pequenas empresas de mídia em
outros países.
E o primeiro passo é avaliar se o melhor caminho é usar uma fatia dos
recursos do investimento em publicidade. Ou não, se podemos fazer de
outra forma. Em qualquer dos dois casos, nós temos de nos defrontar com a
questão da delimitação. Quem são? A partir de quanto? Quem terá
direito a este estímulo? E discutir formas de estímulo.
Como eu já te falei anteriormente, eu não sei se é melhor outra forma.
Para mim é uma questão totalmente em aberto. Eu não tenho preconceito
contra proposta nenhuma. Não sei se tirando 30% dessa verba, nós
estaremos cumprindo aquela nossa obrigação precípua maior, fundamental,
que é levar a mensagem do governo a um número maior possível de
brasileiros.
Viomundo — Frequentemente, a mídia
distorce, mente, detrata governo federal, inclusive a presidenta Dilma.
Como jornalista, qual o teu sentimento quando lê essas matérias?
Helena Chagas — Olha, eu nasci, eu vivi, os primeiros anos da
minha vida, num regime militar, debaixo de uma ditadura. Sou filha de
jornalista [Carlos Chagas, atualmente comentarista político do SBT] que
sofreu com esta ditadura. Então, a meu ver o fato de a gente viver
numa democracia em que cada um pode dizer o que quer, a hora que quer,
pra mim, eu valorizo muito isso. Às vezes as críticas me deixam
abatida, me deixam com uma sensação de injustiça, porque eu sirvo a
este governo, eu sirvo a esta presidenta e eu vejo quantas pressões são
injustas. Mas, antes de tudo – e, aí eu cito sempre a minha chefe —
nós respeitamos a democracia.
Viomundo – Mesmo a mídia deturpando os fatos?
Helena Chagas – Eu defendo que o cidadão que for ofendido, que
tiver a sua honra ferida, tenha o direito de resposta. Eu sou a favor
do aprimoramento da legislação. Agora, eu acho que toda essa discussão
não pode ser feita com o fígado. Tudo isso tem de ser feito sob a égide
da racionalidade de quem vive dentro de um Estado de Direito, com
liberdades democráticas, com liberdade de imprensa, com liberdade de
expressão.
Viomundo – Nessas horas,
invariavelmente os leitores do Viomundo questionam o investimento do
governo federal nessa mídia e argumentam: o governo paga para apanhar.
A senhora concorda?
Helena Chagas – O governo paga para que suas mensagens cheguem
na casa das pessoas. O governo paga que cada cidadão brasileiro tenha o
direito de ver na sua televisão, na sua internet se tiver, no seu
rádio, a prestação de contas do governo sobre seus atos, as campanhas
de utilidade pública.
A gente paga para que as pessoas lá longe saibam como fazer para não criar o mosquito da dengue dentro da casa dela.
A gente paga para que a pessoa lá da seca, do interior do Nordeste,
saiba que ela tem direito ao bolsa estiagem, que ela tem direito ao
auxílio safra e a uma série de outras coisas.
Quando a gente faz a campanha, a gente paga para que ela saiba que a
certidão de nascimento é gratuita, se não o cartório vai cobrar dela.
A gente paga para levar um serviço às pessoas. Apanhar faz parte do jogo.
Conceição Lemes
No Viomundo, *que rejeita propaganda de governos federal, estaduais ou municipais e é mantido por seus próprios leitores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário