Luis Nassif
Nas últimas semanas, povoaram os jornais análises sobre o atual momento
político. Foi quase uma consagração a posteriori (pelos jornais) da
habilidade política de Lula, reconhecida em matérias no Estadão, Folha.
Mas se Lula foi uma espécie de Pelé da política brasileira contemporânea, Dilma Rousseff tem se revelado um Coutinho.
Para se entender a sinuca de bico da atual oposição, é necessário um mergulho no Brasil pós-Sarney.
As ideias políticas, no país, quase sempre acompanharam com alguma defasagem as grandes ondas internacionais.
A Constituição de 1988 foi o grande documento a sinalizar os novos valores que acompanhariam o país nos anos seguintes.
Uma das ideias-força era da descentralização, revertendo o pesado espólio do regime militar.
Outra ideia-força foi a questão da cidadania, das políticas sociais, da
universalização dos direitos civis, do renascimento da sociedade civil.
FHC empunhou a bandeira da modernização. Jogou-a fora na crise do câmbio
em 1999 e no “apagão”. Deixou de lado a bandeira da cidadania, que
acabou assumida por Lula. Na década que marcou o ressurgimento da
sociedade civil brasileira, o PSDB fugiu do povo.
Beneficiado pela explosão dos preços internacionais de commodities, Lula
conseguiu atender a todos os setores da economia e deixar de herança a
explosão do mercado de consumo de massa. Trouxe o PT para perto do
centro e tornou-o o primeiro partido socialdemocrata brasileiro no
estilo europeu – porque casando bandeiras sociais com alianças
econômicas e, principalmente, com participação popular através dos
sindicatos e movimentos sociais. Tirou do PSDB sua bandeira.
Sem bandeira, restou à oposição o discurso da negação: apontar as
vulnerabilidade do governo Lula. A partir daí poderia juntar os cacos e
se preparar para as próximas eleições, desde que conseguisse mostrar o
contraponto na sua principal vitrine: São Paulo.
Aí entra a habilidade de Dilma:
Gestão. Há anos aponta-se a ineficiência do Estado e exige-se
melhoria na gestão. O governo Dilma instituiu a Câmara de Gestão,
definiu maneiras gerenciais de trabalhar o PPA (Plano Plurianual),
montou sistemas de monitoramento online nos ministérios e conseguiu a
consultoria da maior bandeira brasileira de gestão, o empresário Jorge
Gerdau. Com exceção de Minas, nenhum outro estado tucano conseguiu
implementar práticas gerenciais modernas.
Aparelhamento da máquina. Ponto mais sensível das críticas a
Lula. No primeiro ano do governo Dilma, sete ministros caíram e a força
política que herdou do seu padrinho tem permitido enquadrar os aliados.
Conflitos com a mídia. Desde o primeiro dia Dilma praticamente desarmou os antigos críticos.
A essência do governo Dilma não mudou em relação ao governo Lula. Mas
ela conseguiu esvaziar praticamente todas as bandeiras da oposição.
Não é à toa que chega ao final do primeiro ano com índices de
popularidade recorde enquanto, na outra ponta, o PSDB se desmancha.
A única esperança do PSDB seria o governador Geraldo Alckmin montar uma
gestão inesquecível, eficiente. Se depender do que foi mostrado até
agora, o país caminha para um quadro politicamente delicado: um governo
sem oposição.
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