Foi a primeira
grande manifestação realizada em 24 horas em todo o mundo, contra os
responsáveis pela crise capitalista que faz dezenas de milhões de
vítimas.
Pormenor do 15 de Outubro em Portugal. Foto de Paulete Matos |
Em
Fevereiro de 2003 assistimos à maior mobilização internacional para
tentar impedir uma guerra: a invasão do Iraque. Mais de 10 milhões de
pessoas reuniram-se em inumeráveis manifestações em todo o planeta.
Depois disso, a dinâmica do movimento altermundialista nascido ao longo
dos anos 1990 abrandou progressivamente, sem no entanto desaparecer por
completo.
Neste 15 de Outubro de
2011, manifestaram-se um pouco menos de um milhão de pessoas, mas
trata-se duma enorme vitória, porque é a primeira grande manifestação
realizada em 24 horas em todo o mundo, contra os responsáveis pela crise
capitalista que faz dezenas de milhões de vítimas.
A
crise financeira e económica iniciadas nos EUA em 2007 estendeu-se
principalmente à Europa a partir de 2008. A crise da dívida, que era
coisa dos países em desenvolvimento, deslocou-se para os países do
Norte. Esta crise está ligada à crise alimentar que ataca vastas regiões
dos países em desenvolvimento desde 2007-2008. Acresce a crise
climática que afecta principalmente as populações do Sul do planeta.
Esta crise sistémica exprime-se igualmente ao nível institucional: os
dirigentes dos países do G8 sabem que não têm meios para gerir a crise
internacional, por isso reuniram os do G20. Estes por sua vez há três
anos demonstram serem incapazes de encontrar soluções válidas. Esta
crise adquiriu uma dimensão civilizacional. Pô-la em causa significa pôr
em causa o consumismo, a mercantilização generalizada, o desprezo pelos
impactes ambientais das actividades económicas, o produtivismo, a
procura de satisfação dos interesses privados em detrimento dos
interesses, dos bens e dos serviços colectivos, a utilização sistemática
da violência pelas grandes potências, a negação dos direitos
elementares dos povos, como o da Palestina… Muitas vezes é o capitalismo
que está no centro do que é posto em questão.
Nenhuma
organização centralista convocou esta manifestação. O movimento dos
Indignados nasceu em Espanha em Maio de 2011, após as rebeliões
tunisinas e egípcias dos meses antecedentes [e após a espantosa
manifestação de 12 de Março em Portugal, que deixou toda a gente de boca
aberta ao pôr na rua, num só dia, quase meio milhão de pessoas
indignadas, ou seja, cerca de 4% da população portuguesa]. Este
movimento estendeu-se à Grécia em Junho de 2011 e a outros países
europeus. Atravessou o Atlântico Norte desde Setembro de 2011.
Evidentemente uma série de organizações políticas e de movimentos
sociais organizados apoiam o movimento, mas não o conduzem. A sua
influência é limitada. Trata-se de um movimento largamente espontâneo,
jovem na sua maioria, com um enorme potencial de desenvolvimento que
inquieta fortemente os governos, os dirigentes das grandes empresas e
todos os polícias do mundo. Pode alastrar como fogo num molho de palha,
ou morrer em cinzas. Ninguém sabe.
O
15 de Outubro de 2011, o apelo à mobilização, reuniu sobretudo
manifestantes dos países do Norte e não poupou os centros financeiros do
mundo inteiro, o que é prometedor. O movimento dos Indignados
desencadeou uma dinâmica muito criativa e emancipadora. Se ainda não
fazes parte, procura juntar-te a ela, ou lançá-la se ainda não existe no
local onde vives. Interconectemo-nos para uma autêntica emancipação.
Traduzido por Rui Viana Pereira, publicado no site do CADTM
Éric Toussaint,
doutorado em Ciências Políticas, presidente do CADTM da Bélgica.
Dirigiu com Damien Millet o livro colectivo La dette ou la vie [A Dívida
ou a Vida], Aden-CADTM, 2011. Participou no livro da ATTAC Le piège de
la dette publique. Comment s’en sortir [A Armadilha da Dívida Pública.
Como Escapar], ed. Les liens qui libèrent, Paris, 2011.
1 Escrevo estas linhas em Madrid, onde participei nesta imponente manifestação de 200.00 pessoas.
No Esquerda.net
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