A revista VEJA quis que eu me indignasse, mas eu ri.
Trajetória Torta
A VEJA gosta de ditar regras. E de forma arcaicamente didática, gosta de organizar em tópicos o que pensa.
Foi
assim na campanha do desarmamento quando, independente da opinião que
cada brasileiro tinha (tem), lançou uma matéria-propaganda com o título
“7 razões para votar NÃO”.
Sim, a
palavra “não” era em letras garrafais, e foi a primeira vez que eu vi a
VEJA com outros olhos. Era notório ali que havia um interesse acima do
jornalístico. Talvez lobby da indústria armamentista? Talvez.
A suspeita de que VEJA estampa em suas capas matérias encomendadas é antiga e corriqueira.
Na
época em que a ANVISA começou a se movimentar para proibir (ou
restringir) a venda de medicamentos proibidos na Europa inteira e nos
EUA, a revista lançou a capa-campanha “Por que é ruim proibir a venda”.
Por que é ruim? Porque a Indústria Farmacêutica irá perder MILHÕES!
Esse
pano rápido foi só para introduzir o que quero falar sobre a capa de
hoje (22/10) da mesma revista… ou seria um panfleto do quem pagar leva?
O problema maior nisso tudo é que não só a VEJA cai no descrédito, mas toda a grande mídia.
Somado
a isso, recentemente a revista se meteu em uma confusão que só pode ser
comparada com o caso do magnata da mídia, Rupert Murdoch.
Um
jornalista da revista, para conseguir um grande furo “jornalístico”
tentou invadir a suite onde estava hospedado o ex-ministro José Dirceu
em tentativas seguidas, inclusive se passando por um político de
Varginha. O caso está sendo investigado pela PF e a revista, após a
matéria (que foi capa) se calou.
Por essas e outras, alguns leitores passaram a questionar o que é publicado nas páginas da revista.
O lado bom: não há mais o poder de manipulação que tinha anos atrás.
O lado ruim: denúncias verdadeiras podem nascer já desacreditada pelo simples fato de serem publicadas pela revista.
Cansados e Indignados: Varre, varre vassourinha
Agora a revista VEJA, como diversos outros grandes meios de comunicação, partiram para a campanha do moralismo.
A onda é estampar com destaque as palavras “FAXINA” e “CORRUPÇÃO”.
A
grande mídia inventou a máquina do tempo e nos transportou de volta aos
anos 60. O que vemos parece um deja vu das campanhas moralistas que
levaram Jânio Quadros ao governo e que impulsionaram as marchas
pré-golpe.
As faixas da “Marcha
da Família com Deus pela Liberdade” pedia as mesmas coisas que a marcha
incentivada pela mídia (só faltam os comunistas, questão de tempo).
Ricardo
Kotscho disse que essas marchas “reúnem jovens idealistas dispostos a
combater a corrupção e velhos malacos cansados, sempre em busca de um
atalho para chegar ou voltar ao poder, atacando o governo federal, com
ou sem razão.”
Seriam apenas “velhos” os malacos cansados?
Se
lemos os blogs da própria revista VEJA, vemos comentários de jovens
intolerantes e indiferentes à democracia e ao que significa o Estado
democrático de Direito. E estes brutamontes alimentam internautas
desavisados com seus “ideais” e assim a vida segue.
Afinal, foram velhos intolerantes que atearam fogo no índio Galdino? São estes que espancam gays na avenida paulista?
O
fracasso da nova edição do “movimento cansei”, agora chamado “movimento
contra corrupção” e que a velha imprensa agora passa a chamar de
“Indignados”, pegando (totalmente fora de contexto, diga-se) de um
movimento mundial, está na sua raiz.
No
mundo inteiro, entre os indignados está o povo representado. No
“movimento” brasileiro a maioria é de senhores engravatados, mauricinhos
e madames da high society.
Por que a VEJA e os outros meios não mostram os verdadeiros indignados?
Os
verdadeiros não estão em escritórios conspirando, mas sob o viaduto do
chá neste exato momento. Estão lá protestando, mas a grande imprensa se
cala. Prefere, claro, a “massa cheirosa”.
Pensando
na massa (a não tão cheirosa, segundo o conceito imortalizado por
Cantanhêde), a revista da família Civita trouxe em sua capa o que tem de
melhor e pior: bela arte gráfica e ideia extremamente conservadora,
respectivamente.
Enquanto alguns possam se indignar, eu caio na gargalhada com chamada tão patética.
Em
uma tentativa clara de angariar novos cansados, a revista apela para a
sensibilização do povão: A corrupção agora é, enfim, levada ao cotidiano
da maioria dos brasileiros. Ela agora não é mais moral, mas
economicamente odiável (novidade? Pra mim sempre foi assim!).
Embora
não se cubra, por exemplo, as denúncias de corrupção que ocorre na
Assembléia Legislativa em SP, embora tenha se precipitado advogando a
favor de Daniel Dantas, VEJA se indigna com a corrupção a nível federal.
Devem dizer: “Indignação seletiva, sim, mas indignação”.
Indignação: A capa que me fez rir
Indignação: A capa que me fez rir |
A capa lista algumas opções para o leitor “escolher” para ficar indignado:
- Poderíamos erradicar a miséria.
- Poderíamos ter saúde (pública não, pelo texto é privada mesmo) de qualidade.
- Contruir mais de 1 milhão de casa (populares? Pelo jeito não).
- Reduzir os juros
etc…
Mas aí VEJA volta a ser VEJA! Não poderia ser diferente…
No meio de todas as possibilidades pro povão ler, eis que a revista lança duas pérolas:
- O dinheiro desviado na corrupção, poderia DAR a cada brasileiro um PRÊMIO de 443 reais!!!!
E, fechando com chave de ouro: Com dinheiro “surrupiado”, daria para comprar 18 MILHÕES de… bolsas de luxo.
Pára tudo. Pára… só podem ter errado, fui à banca de jornal e está lá! Com todas as letras B-O-L-S-A-D-E-L-U-X-O
Agora VEJA pegou pesado, a mais clara tentativa de golpe estampada na capa da maior revista semanal desse país.
Só
espero para os próximos dias o caos, a destruição, indignados
engravatados e peruas do Leblon empunhando vassouras verde-amarelas,
desinfetadas, claro!
Todos nos
salões, escritórios e shoppings revoltados, cansados, lamentando porque
cada brasileiro poderia ter embolsado R$ 443,00. Quase um bolsa-família
(poderiam ter dado este destaque na capa, não?). E a curiosidade:
convertendo, quantas viagens à Europa essa grana roubada daria?
Poderia ser mais uma das opções!
A
capa da VEJA desta semana, quando bati o olho, me causou indignação.
Não a que ela incita, na verdade pelo papel prestado. Depois, lendo vi o
quão primário e patético realmente é. Um verdadeiro exemplo do quanto a
revista da família Civita desconhece a realidade do país que diz
retratar.
Saulo Machado
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