Enviado por luisnassif, seg, 07/11/2011 - 11:26
Autor:
Luis Nassif
Coluna Econômica - 07/11/2011
Fato
1: Crise de 2008, o governo ordena que os bancos públicos aumentem a
oferta de crédito para compensar o estancamento do crédito privado.
O
Banco do Brasil turbina suas operações. Imediatamente é alvo de uma
saraivada de críticas de analistas econômicos seguindo o pensamento
convencional. Segundo eles, a estratégia geraria um festival de
inadimplência, cumprometendo a solidez financeira do banco. Quem
procurasse ouvir os executivos do BB, recebia informações
tranquilizadoras.
Ao final do processo, a carteira de crédito
do BB tinha crescido exponencialmente em cima do setor privado, a
inadimplência tinha permanecido em níveis baixos e, nos trimestres
seguintes, o banco acumulou lucros crescentes.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros.
Fato
2: ainda na crise, analistas vociferando nos jornais e na televisão
para o brasileiro jogar na retranca, parar de consumir porque a crise
era brava. Na outra ponta, Lula conclamando ao consumo para evitar o
aprofundamento da crise. Analistas sugerindo aperto fiscal, Lula
isentando produtos de impostos e sendo acusado de populista.
No
final do processo, o Brasil foi o primeiro país a sair da crise,
consagrando definitivamente a gestão de Lula. A opinião pública mundial
nem se deu conta de que nos anos anteriores o crescimento foi pífio.
Justamente porque Lula se deixou influenciar pelas recomendações do
senso comum do mercado.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros de análise.
Fato
3: Serra se anuncia candidato do PSDB. Políticos de peso tentam
argumentar que Aécio Neves seria o melhor candidato, por ter um índice
de rejeição menor e por Serra ter feito um governo pífio em São Paulo,
sem nada a mostrar. Mas analistas insistem na tese de que Serra era o
mais preparado, que era um gestor re renome. Na campanha, a não ser
obras viárias, Serra não tinha o que mostrar. E seu gra de rejeição foi
tão grande que, no segundo turno, afastou os eleitores de Marina Silva
que poderiam ter somado para sua vitória.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros de análise.
Fato
4: surge a notícia do câncer de Lula. Analistas políticos de grandes
redes comemoram que a doença zeraria o jogo político. Era óbvio que não.
Qualquer tragédia santifica os grandes nomes políticos. Se algo
ocorresse com Lula, sua influência seria maior do que a do Padre Cícero
no velho nordeste.
Hoje em dia há consenso sobre isso, a ponto da própria The Economist entender o fenômeno do crescimento na tragédia.
Nenhum dos analistas foi cobrado por erros recentes em suas análises.
Esses
erros continuados ocorrem porque, há anos, a torcida - política ou
econômica - tomou lugar do rigor analítico. Analistas que erraram em
praticamente todos os episódios econômicos e políticos relevantes
continuam opinando, como se nada tivesse ocorrido, porque, em muitos
veículos, a notícia se tornou em instrumento de arma política - não de
informação.
Desde os anos 50, a imprensa brasileira tinha
seguido o caminho da norte-americana. Cada veículo tem sua opinião, mas
não briga com os fatos: tentava-se, com isso, ao menos simular um
noticiário isento.
Real ou simulado, essa isenção deixou de frequentar o noticiário dos grandes veículos há tempos.
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