Atores negros denunciam falta de espaço na TV.
No Dia da Consciência Negra, artistas criticam o preconceito.
Miguel Arcanjo Prado, do R7
Milton Gonçalves lembrou luta do passado.
Considerado um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira,
Milton Gonçalves tem orgulho de ser negro. E faz questão de deixar
isso bem claro todos os dias. E é por ser consciente da luta dos negros
ao longo dos tempos que ele responde, quando a reportagem questiona
qual a importância do fato de Taís Araújo, uma atriz negra,
protagonizar a novela das oito, Viver a Vida (Globo). - Importância eu
não dou nenhuma. Isso é fruto de um progresso que vem de outros
pioneiros também. Há muito tempo estamos lutando por isso. E é bom não
esquecermos que somos mais da metade da população. Gonçalves sonha em
eliminar um dia a atual prática que determina que o autor de uma novela
explicite a raça dos personagens para os profissionais que vão escalar
o elenco. - Desde que não sejam papeis históricos, não precisa da
rubrica “ator negro” ou “ator branco”. Isso é preconceito. O ator
Michel Gomes, morador de uma comunidade pobre do Rio, já protagonizou o
filme Ônibus 174 e agora interpreta o personagem Paulo, em Viver a
Vida, sua primeira novela. Para Gomes, a situação do negro evoluiu. -
Acho que, aos poucos, essa história de preconceito cairá por terra. Aos
poucos, a gente chega lá. Veja em Viver a Vida, no núcleo ao qual
pertenço todo mundo é negro. Aos poucos a gente chega lá. A atriz e
bailarina Quitéria Chagas, que só conseguiu fazer novela na pele de
empregada doméstica, espera uma valorização do negro na televisão. -
Avançou, mas tem que melhorar muito mais. Por enquanto, o negro na
televisão ainda se sente a cota. Taís Araújo interpretou a vendedora
Preta, em Da Cor do Pecado (Globo) - Mestre em sociologia pela UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), Daniel Martins afirma que a
representação do negro na TV influencia a forma como a sociedade
enxerga essa população. - Há uma pesquisa que ouviu adolescentes
brancos e negros de escolas públicas e perguntou como eles se veriam
aos 30 anos. Os brancos disseram que seriam advogados, funcionários
públicos, engenheiros, médicos. Já os negros citaram profissões como
secretária, porteiro, cobrador de ônibus. Um dos motivos para isso é
que nas novelas o negro é quase sempre o porteiro, a cozinheira, quando
não é o bandido. Raramente ele assume posição de destaque. Mesmo a
Taís Araújo, que hoje vive uma modelo rica, nas outras duas novelas que
protagonizou, numa era escrava e em outra era vendedora de tapioca.
Exemplo de sucesso profissional, Glória Maria lembra que, quando
começou na TV, a situação era ainda pior. - Quando eu comecei no
jornalismo, eu era a única negra da equipe do Jornal Nacional. Hoje, já
tem o Heraldo Pereira, que apresenta, e alguns outros. Mas ainda é
preciso melhorar muito. Estamos apenas no começo dessa briga. Espero
que um dia o talento supere o preconceito.
Glória Maria espera que um dia o talento vença o preconceito racial.
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