Depois
de uma batalha judicial que pode ter ainda desdobramentos, o governo
colocou em licitação a construção e a concessão de exploração da usina
hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, que foi vencida pelo consórcio
chefiado pela estatal Chesf. Se o governo não houvesse considerado a
construção da usina uma questão de honra nacional, provavelmente os
interesses estrangeiros, inimigos do nosso desenvolvimento independente,
impediriam a importante obra, necessária à ocupação nacional e ao
desenvolvimento da região amazônica.
Desde
o século 19 os europeus e norte-americanos tentam ocupar a Amazônia, em
nome da “civilização”, em nome de Deus (com os protestantes liderados
pelos Rockefeller) e, mais recentemente, em nome da preservação do meio
ambiente. Temos resistido com dificuldades a essa penetração. Houve
governos, como o do marechal Dutra (1946-1951) que chegaram a aceitar a
internacionalização da Amazônia. Outros, como Arthur Bernardes
(1922-1926), ajudaram a resistir.
Antes
a grande tentativa fora a do Acre: americanos e ingleses constituíram a
empresa The Bolivian Syndicate e obtiveram da Bolívia o direito de
constituir um estado independente na região. A empresa teria o direito
de impor as suas leis no território e de cobrar impostos internos e
alfandegários, em troca de 40% de toda a produção de borracha; os outros
60% seriam da Bolívia. A região se encontrava ocupada por 60 mil
brasileiros, muitos dos quais se armaram sob o comando do gaúcho Plácido
de Castro. O Exército boliviano, para cumprir seus compromissos com os
estrangeiros, invadiu o território e foi rechaçado. O governo
brasileiro, com o chanceler Rio Branco à frente, ao mesmo tempo em que
deslocava tropas para o Acre, negociou com La Paz e os acionistas do
empreendimento e impôs a definitiva soberania.
Durante
os últimos anos, principalmente com Collor e Fernando Henrique, a
Amazônia se abriu a ONGs internacionais e à presença sempre atrevida de
estrangeiros. São esses estrangeiros que – sempre pensando em preservar o
território para seu uso futuro – se levantam agora contra a construção
da usina de Belo Monte. Um deles é o cineasta James Cameron, autor de
Avatar, um filme de ficção científica destinado, segundo alguns
observadores, a preparar a opinião mundial para aceitar uma intervenção
internacional na Amazônia. Cameron declarou com insolência que a ideia
de seu filme veio de uma visita à Amazônia e de seu objetivo de
“preservar a região”. Se um cineasta brasileiro chefiasse um protesto
diante do Pentágono contra a guerra do Iraque seria preso e deportado.
No Brasil ele foi festejado. E continua afirmando, com insolência, que
“impedirá” a construção de Belo Monte.
Ao
tomar a decisão de construir a usina contra todos esses opositores, o
governo Lula reafirma a soberania sobre a Amazônia, de maneira firme. O
governo tomou todas as medidas para que o impacto sobre a natureza fosse
mínimo. Poucas áreas serão alagadas – e não haverá um grande lago, como
o de Tucuruí ou o de Itaipu. Embora houvesse defensores de que se
construíssem várias represas menores, a disseminação das obras agrediria
mais a natureza do que uma só. A energia de Belo Monte é absolutamente
necessária ao país e à melhoria da vida de centenas de milhares de
brasileiros que vivem na região em situação de miséria.
Alega-se
que os índios serão agredidos em sua cultura. Mas não há, a rigor, mais
cultura indígena na região, ocupada por brancos, infestada de agentes
dissimulados que continuam a cobiçar as riquezas amazônicas. O problema é
de outra natureza, é a do espaço vital (o mesmo “espaço vital” que
pariu o nazismo alemão). Os países nórdicos têm projetos seculares de
ocupar o sul do mundo – os dois grandes continentes da África e da
América Meridional. Esse projeto se reanima agora, com a probabilidade
de que a intensa atividade vulcânica esperada no hemisfério norte torne
inabitável grande parte da Europa e da América do Norte. Não podemos
transigir, para não voltarmos a ser colônias.
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