Os tucanos se reúnem (outra vez)
Marcos Coimbra
Aconteceu mais um encontro do PSDB para discutir e estruturar o que
chamam de “nova agenda” que o partido pretende apresentar ao País. Nas
palavras do ex-senador Tasso Jereissati, presidente do Instituto
Teotônio Vilela, seu órgão de estudos e pesquisas, foi um evento
destinado a repensar o Brasil “para as próximas décadas”.
Realizado no Rio de Janeiro, reuniu as principais lideranças tucanas e
alguns técnicos vinculados ao partido. Desses, quase todos eram antigos
colaboradores dos governos de Fernando Henrique Cardoso, com
participação destacada na formulação do Plano Real e na condução da
política econômica.
Quem achar que foi uma oportunidade incomum, engana-se. Não que o PSDB
faça seminários assim a toda hora. Mas eles estão longe de ser raros.
Pensando bem, se há algo que não falta aos tucanos é tempo e
oportunidade para eles. Há pouco mais de um ano, houve outro quase
idêntico, desta feita em São Paulo, no Instituto Fernando Henrique
Cardoso. Como ocorreu em agosto, em plena campanha eleitoral, seus
principais líderes políticos não compareceram, deixando-o restrito ao
ex-presidente e assessores. Seu título era “Transição Incompleta e
Dilemas da (macro) Economia Brasileira”, mas o conteúdo não diferia
desse de agora. Ele também pretendia formular uma receita para o futuro
do Brasil.
Nenhum de nossos partidos congrega seus luminares com tanta frequência.
Nem o PT, que tem vida partidária mais intensa e regular. Para não falar
nos demais, que costumam fazer seus encontros apenas nas convenções
nacionais e estaduais, exigidas pela legislação.
O curioso nessa multiplicação de eventos tucanos é que eles reúnem
sempre as mesmas pessoas, para tratar dos mesmos assuntos. Por que são
assim?
Alguém, em algum momento (sabe-se lá com qual fundamento), vaticinou que
os problemas do PSDB e das oposições nos últimos anos – a começar pelo
mais óbvio, suas derrotas para o PT nas eleições presidenciais –, têm
uma só origem: a não valorização do “legado de Fernando Henrique”.
De acordo com esse raciocínio, José Serra e Geraldo Alckmin erraram ao
não elogiá-lo e foram além, desvalorizando-o. Assim teriam “jogado fora a
identidade” e deixado as bandeiras à disposição do PT, que,
ardilosamente, as teria tomado.
Tudo que aconteceu de bom com Lula e o PT e tudo que sobreveio de mal
para o PSDB teria nascido aí. Mas esse pecado original seria corrigível,
desde que houvesse a celebração daquela herança, equivocadamente,
abandonada.
Essa tese nada mais é do que uma lenda. Nem Serra nem Alckmin, nem Serra
de novo, perderam, porque não “valorizaram o legado de FHC”. Nem, muito
menos, Lula e Dilma Rousseff venceram porque se “apropriaram” de seu
conteúdo.
A falha fundamental do argumento é esquecer que a opinião pública se
mostrou plenamente capaz de fazer sua própria avaliação do “legado de
FHC” e o desaprovou. Não por lhe ter sido subtraída “a verdade”, mas por
ter feito um balanço de acertos e erros, e chegado a um saldo negativo.
Para o PSDB de hoje e para o conjunto das oposições, o problema do
“legado de FHC” não é ser pouco reconhecido, mas o inverso: ser
reconhecido até demais. Não é que as pessoas não percebam as coisas boas
de seu governo (aquelas que Lula teria, espertamente, surrupiado), mas
que as contextualizam em um todo de que não sentem saudade.
E ninguém acredita que tudo o que Lula fez e Dilma está fazendo são
continuações canhestras do que herdaram. Quando FHC brada, como no
último encontro tucano, “Pegaram o nosso (programa) e (o) executaram
mal”, ele pode ganhar o aplauso dos correligionários, mas afronta o
sentimento da vasta maioria da sociedade.
Há algo de patético nesses eventos. As fotos que a mídia publica se
parecem com as dos encontros de 30 anos das turmas de escola. Todos
estão velhos, todos perderam o vigor da juventude. É difícil
identificar, no cidadão maduro de agora, o colega de antigamente.
A “turma do Real” envelheceu. Hoje, o compromisso maior de seus
integrantes parece ser com as ideias que tinham há 20 anos (fora os que
têm com seus próprios bancos). Tanto que permanecem com elas e nem
cogitam a possibilidade de revê-las. E que, a cada oportunidade, as
repetem como um mantra.
Será que é assim, com as mesmas pessoas, dizendo as mesmas coisas, que
as oposições pretendem se apresentar nas próximas eleições? Será que não
desconfiam que, em 2014, as ideias de 1994 podem estar velhas? Que,
muito mais que homenagear as propostas antigas, precisam se renovar e
defender uma nova visão do Brasil?
Será que sua “nova agenda” é permanecer na adoração do passado?.
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