domingo, 25 de março de 2012

Cachoeira falou 200 vezes com Policarpo Júnior, redator-chefe de Veja

Policarpo Júnior é dos que faziam parte do butin de Cachoeira.



Bomba: gravações ligam o bicheiro ao jornalista Policarpo Júnior (dir.), que chefia a publicação em Brasília; 247 já havia alertado para a prisão do araponga Jairo Martins (esq.), fonte contumaz de Veja em grandes escândalos, como no Mensalão
Brasil 247 Uma informação bombástica acaba de ser postada no blog do jornalista Luís Nassif: a de que há mais de 200 ligações trocadas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o redator-chefe da revista Veja, Policarpo Júnior. Duas semanas atrás, 247 foi o primeiro veículo a alertar para a prisão do araponga Jairo Martins, fonte contumaz da revista Veja em grandes escândalos, inclusive o do Mensalão. Outro jornalista que passou por Veja, Alexandre Oltramari, trabalhou na campanha para o governo de Goiás de Marconi Perillo, em 2010. Atuou em conjunto com o sargento Dadá, que, assim como Jairo, também está preso.
Leia, abaixo, o texto de Nassif:


Não haverá mais como impedir a abertura das comportas: a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, chegou até a revista Veja.
As gravações efetuadas mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista com o bicheiro. São mais de 200 telefonemas trocados entre ele e o diretor da sucursal de Brasilia Policarpo Jr.

Cada publicação costuma ter alguns repórteres incumbidos do trabalho sujo. Policarpo é mais que isso.

Depois da associação com Cachoeira, tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. Foi um dos participantes da entrevista feita com a presidente Dilma Rousseff.
Nos telefonemas, Policarpo informa Cachoeira sobre as matérias publicadas, trocam informações, recebe elogios.


Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos.
E também a reportagem anterior do 247:
247 – Ainda é um mistério por que as revistas semanais continuam ignorando a Operação Monte Carlo e seus desdobramentos políticos. Uma explicação possível é o fato de Carlinhos Cachoeira, e seu braço direito Idalberto Araújo, o sargento Dadá, terem mantido relações próximas com vários jornalistas investigativos. Dadá, por exemplo, trabalhou com Alexandre Oltramari, ex-repórter de Veja, na campanha que elegeu Marconi Perillo, do PSDB, para o governo de Goiás, em 2010. Cachoeira também gravou a fita de Valdomiro Diniz pedindo propina, que foi entregue à revista Época, em 2004.



A nova surpresa da Operação Monte Carlo é o envolvimento de outro personagem conhecido no submundo da arapongagem e do jornalismo investigativo. Trata-se do policial Jairo Martins de Souza. Foi ele quem gravou a fita que detonou, em 2005, o escândalo do Mensalão. Trata-se da cena em que um ex-funcionário dos Correios, Maurício Marinho, aparece recebendo uma propina de R$ 3 mil. A fita foi entregue ao jornalista Policarpo Júnior, que é amigo de Jairo Martins, e hoje, além de dirigir a sucursal da revista Veja em Brasília, é redator-chefe da publicação.
 
 
De acordo com a acusação do Ministério Público, Jairo Martins era um “empregado” da quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Recebia R$ 5 mil mensais e tinha a função de cooptar policiais e também levantar informações que pudessem prejudicar os negócios do grupo.


Em 2005, na crise do Mensalão, Jairo Martins depôs no Congresso, e disse que gravou a fita com Maurício Marinho por “patriotismo”. Não se sabe, ainda, se Cachoeira estaria por trás da denúncia.

Leia, abaixo, reportagem do Observatório da Imprensa a respeito:
O ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Jairo Martins de Souza afirmou ter sido movido por "espírito jornalístico" quando decidiu entregar ao repórter Policarpo Júnior, da revista Veja, a fita de vídeo que mostrou a entrega de R$ 3 mil ao ex-chefe do departamento de Administração e Compras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Maurício Marinho.

Em sua exposição à comissão parlamentar mista de inquérito que investiga denúncias de corrupção na estatal, ele apresentou versão diferente da que contou o empresário Arthur Wascheck Neto, mandante confesso da gravação. Ao contrário do que relatou à CPI Wascheck, dono da Comercial Alvorada de Manufaturados (Comam), Jairo disse que, desde o início, havia a intenção de repassar o vídeo à imprensa.
- Mas, independentemente da vontade dele, eu publicaria - afirmou Jairo, destacando ter sido motivado por "patriotismo" ao realizar a gravação e ao divulgá-la.
Antes de prestar depoimento, Jairo pediu que a reunião fosse secreta, alegando temer que a exposição de sua imagem colocasse em risco a si e a sua família. Ele informou estar sendo perseguido desde que participou das gravações que culminaram na cassação do mandato do ex-deputado federal André Luiz. Os parlamentares, entretanto, preferiram manter a reunião aberta.
Outra contradição entre o depoente e Wascheck foi sobre o equipamento utilizado na gravação. Jairo disse que a maleta com a câmera escondida tinha sido comprada em Brasília, na feira de produtos importados, a Feira do Paraguai, exclusivamente para o flagrante de Maurício Marinho. Afirmou que a própria maleta seria o seu pagamento pelos serviços. Wascheck apresentou a versão de que o material de espionagem era do ex-agente e que teria sido apenas alugado.
O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) apontou ainda divergências entre os depoimentos do jornalista Policarpo Junior à Polícia Federal e o de Jairo à CPI: à PF, Policarpo disse ter sido procurado por Jairo sobre um esquema de corrupção envolvendo o PTB, sobre o qual garantiu ter provas. À CPI, Jairo afirmou não ter comentado o assunto com o repórter e que, à época do contato, anda não existiam provas. O jornalista, prosseguiu Cardozo, afirmou ainda que a primeira fita que viu não foi a divulgada, ao contrário do que afirmou o ex-agente da Abin.
Jairo disse ser amigo do empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Afirmou não conhecer Arlindo Molina, que mostrou a gravação ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e José Fortuna Neves, ex-agente do Serviço Nacional de Informações. Mas confirmou conhecer Edgar Lange, conhecido como Alemão, que teria relatado a Fortuna a participação da Casa Civil nas investigações sobre a Unisys, que tem convênio com a ECT. Jairo afirmou também ser amigo de Paulo Ramos, diretor de operações de inteligência da Abin. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) identificou nessas declarações um forte indício de que o ex-agente da Abin sabia da investigação nos Correios patrocinada pela agência.
Vários parlamentares da oposição mostraram-se contrários ao depoimento dos envolvidos com a gravação, que, a seu ver, deveria ser executado pela Polícia Federal. Os senadores César Borges (PFL-BA) e Alvaro Dias (PSDB-PR) e os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), Juíza Denise Frossard (PPS-RJ) e Onyx Lorenzoni (PFL-RS) afirmaram ser preciso investigar o braço político por trás do esquema de corrupção e desvio de verbas públicas montado nas estatais. Onyx acusou ainda o PT de ser uma "camarilha" e destacou não acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja um "inocente útil". Os parlamentares também pediram agilidade para a aprovação de requerimentos que não deixariam a comissão à reboque da imprensa, como o que determina a tomada de depoimentos do presidente do PT, José Genoíno, do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, do ex-secretário-geral Silvio Pereira e do ex-ministro e atual deputado José Dirceu (PT-SP).
Um dos depoentes chamados para esta terça-feira (5), Kasser Bittar, enviou requerimento à CPI alegando ser impossível prestar depoimento, já que não está em Brasília. O vice-presidente da comissão, senador Maguito Vilela (PMDB-GO), pediu que a Polícia Federal verifique se a informação é verdadeira. Kasser é obrigado a depor, já que a CPI tem poder de convocar os depoentes.
Leia, ainda, reportagem publicada pelo jornalista Luís Nassif sobre os vínculos entre o jornalismo investigativo e o submundo da arapongagem:
A parceria com o araponga
Nas alianças políticas do governo Lula, os Correios foram entregues ao esquema do deputado Roberto Jefferson. Marinho era figura menor, homem de propina de R$ 3 mil.
Em determinado momento, o esquema Jefferson passou a incomodar lobistas que atuavam em várias empresas. Dentre eles, o lobista Arthur Wascheck.
Este recorreu a dois laranjas – Joel dos Santos Filhos e João Carlos Mancuso Villela – para armar uma operação que permitisse desestabilizar o esquema Jefferson não apenas nos Correios. como na Eletrobrás e na BR Distribuidora. É importante saber desses objetivos para entender a razão da reportagem da propina dos R$ 3 mil ter derivado - sem nenhuma informação adicional - para os esquemas ultra-pesados em outras empresas. Fazia parte da estratégia da reportagem e de quem contratou o araponga.
A idéia seria Joel se apresentar a Marinho como representante de uma multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante. Como não tinham experiência com gravações mais sofisticadas, teriam decidido contratar o araponga Jairo Martins.
E, aí, tem-se um dos episódios mais polêmicos da história do jornalismo contemporâneo, um escândalo amplo, do qual Veja acabou se safando graças à entrevista de Roberto Jefferson à repórter Renata Lo Prete, da Folha, que acabou desviando o foco da atenção para o “mensalão”.
Havia um antecedente nesse episódio, que foi o caso Valdomiro Diniz, a primeira trinca grave na imagem do governo Lula. Naquele episódio consolidaram-se relações e alianças entre um conjunto de personagens suspeitos: o bicheiro Carlinhos Cachoeira (que bancou a operação de grampo de Valdomiro), o araponga Jairo Martins (autor do grampo) e o jornalista Policarpo Jr (autor da reportagem).
No caso Valdomiro, era um contraventor – Carlinhos Cachoeira – sendo achacado por um dos operadores do PT, enviado pelo partido ao Rio de Janeiro, assim como Rogério Buratti, despachado para assessorar Antonio Palocci quando prefeito de Ribeirão.
Jairo era um ex-funcionário da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), contratado pelo bicheiro para filmar o pagamento de propina a Valdomiro Diniz.
Tempos depois, Jairo foi convidado para um almoço pelo genro de Carlinhos Cachoeira, Casser Bittar.
Lá, foi apresentado a Wascheck, que o contratou para duas tarefas, segundo o próprio Jairo admitiu à CPI: providenciar material e treinamento para que dois laranjas grampeassem Marinho; e a possibilidade do material ser publicado em órgão de circulação nacional.
Imediatamente Jairo entrou em contato com Policarpo e acertou a operação. O jornalista não só aceitou a parceria, antes mesmo de conhecer a gravação, como avançou muito além de suas funções de repórter.
O grampo em Marinho foi gravado em um DVD. Jairo marcou, então, um encontro com Policarpo. Foi um encontro reservado - eles jamais se falavam por telefone, segundo o araponga -, no próprio carro de Policarpo, no Parque da Cidade. Policarpo levou um mini-DVD, analisou o material e atuou como conselheiro: considerou que a gravação ainda não estava no ponto, que havia a necessidade de mais. Recebeu a segunda, constatou que estava no ponto. E guardou o material na gaveta, aguardando a autorização do araponga, mesmo sabendo que estava se colocando como peça passiva de um ato de chantagem e achaque.
Wascheck tinha, agora, dois trunfos nas mãos: a gravação da propina de R$ 3 mil e um repórter, da maior revista do país, apenas aguardando a liberação para publicar a reportagem.
Quando saiu a reportagem, a versão do repórter de que havia recebido o material na semana anterior era falsa e foi desmentida pelos depoimentos dados por ele e por Jairo à Policia Federal e à CPI do Mensalão.
Pressionado pelo eficiente relator Osmar Serraglio, na CPI do Mensalão, Jairo negou ter recebido qualquer pagamento de Wascheck. Disse ter se contentado em ficar com o equipamento, provocando reações de zombaria em vários membros da CPI.
Depois, revelou outros trabalhos feitos em parceria com a Veja. Mencionou série de trabalhos que teria feito e garantiu que sua função não era de araponga, mas de jornalista. O único órgão onde seus trabalhos eram publicados era a Veja. Indagado pelos parlamentares se recebia alguma coisa da revista disse que não, que seu objetivo era apenas o de "melhorar o pais".
Segundo o depoimento de Jairo:
‘Aí fiquei esperando o OK do Artur Washeck pra divulgação do material na imprensa. Encontrei com ele pela última vez no restaurante, em Brasília, no setor hoteleiro sul, quando ele disse: ‘Eu vou divulgar o fato. Quero divulgar’. E decorreu um período que essa divulgação não saía. Aí foi quando eu fiz um contato com o jornalista e falei: ‘Pode divulgar a matéria’’.

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