As bicicletas de Maria Antonieta
Paulo Moreira Leite, Vamos Combinar
Paulo Moreira Leite, Vamos Combinar
Sou fã de bicicletas desde que meu pai me deu uma Monark verde, com
rodas brancas e um bagageiro que dava até para levar a namorada.
Eu morava na região da avenida Paulista e conseguia ir a vários lugares.
Uns amigos mais ousados agarravam no bonde para andar mais depressa.
Mas isso passou. Nem a Monark existe mais e bicicletas com bagageiro só
costumo ver em filmes americanos sobre os anos 50. A cidade é outra. Na
região metropolitana de São Paulo vivem 15 milhões de almas. (Engano do PML, são 19,5 milhões. Veja AQUI)
As pessoas acordam às 4 da manhã para pegar ônibus. O metrô é
inutilizável nos horários de pico – isto é, quando mais interessa. Tem
gente que vai ao trabalho a pé porque gastar o dinheiro da condução – R$
3 por cada viagem – faz falta no fim do mês.
E por isso eu acho que essa conversa sobre ciclismo em São Paulo é bonita, necessária, mas está fora de foco.
Parece conversa da rainha Maria Antonieta, aquela que, ao ver o povo
revoltado pela falta do pão, disse que eles deveriam experimentar
brioches.
Os ciclistas tem todo direito de defender sua segurança e seu espaço. A
morte de cada ciclista me comove tanto como a morte de um motoboy e de
um pedestre. São todas horrorosas e inaceitáveis, como as mortes
absurdas de acidentes de automóveis e ônibus. Não há vidas mais valiosas
do que outras, certo?
Só não acho que se deva abusar de nosso desconhecimento, imaginar que
somos provincianos sul-americanos, e tentar nos convencer de que o
investimento em ciclovias virou a prioridade número 1 e, ao lado de
outras medidas destinadas a proteger quem anda de bicicleta, termos uma
melhoria real no sistema de transportes da cidade.
As ciclovias vão tornar as avenidas mais estreitas. O trânsito se
tornará mais lento para automóveis, ônibus e motos. São Paulo
construiu,corretamente, faixas exclusivas de ônibus. Foi uma grande
melhoria porque envolveu o transporte coletivo. A ciclovia é transporte
individual. Insegura, toda bicicleta precisa de espaço equivalente ao de
um automóvel, embora só possa transportar uma pessoa.
Criar espaços exclusivos para bicletas não faz sentido. Qualquer pessoa
que já enfrentou o formidável congestionamento de domingo nas avenidas
com ciclovias de fim de semana sabe do que estou falando. Dá até vontade
de sugerir rodízio aos sábados e domingos. Tudo fica mais lento e
confuso. Imagine em dias de trabalho.
Sim. É preciso proteger os ciclistas. Mas ninguém precisa fingir que
acredita que as bicicletas vão resolver o problema das grandes cidades. A
solução está no ônibus e no metrô.
Leia mais em: O Esquerdopata
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Do Blog O Esquerdopata.
Um comentário:
O que ninguém divulga é que existe um projeto de mais de 142 km em SP de 2008 e as pessoas de SP estão denunciando ao Ministério Público a Prefeitura por responsabilidade das mortes na Avenida Paulista ocorridas entre 2009 e 2012 - mais detalhes aqui: https://ciclovianapaulista.wordpress.com/
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