Eberth Vêncio, Revista Bula
“Você é fogo, eu sou paixão”
Wando (de novo...)
Wando (de novo...)
O ser humano é mesmo uma criatura
observadora, inquieta. Por conta da curiosidade inata, botou a grande roda da
história pra rodar (antes mesmo que ele próprio inventasse a roda e a mentira),
adaptou-se às desgraceiras da vida, e não foi dizimado pela força do
ecossistema, conforme outros desafortunados seres rastejantes, voadores e
aquáticos.
Porque tem perspicácia, o Homem peitou os
vírus, bactérias, seres peçonhentos, ornitorrincos e a própria ignorância. Então,
ele descobriu que os trovões no céu não eram as broncas dos deuses, que a Terra
não terminava num enorme precipício, e que as sanguessugas não eram mais a
melhor opção para se tratar febre ou loucura.
Um dia, num passado muito remoto, enquanto
mirava os fenômenos da natureza inóspita, algum nosso ancestral cabeludo,
amuado numa gruta úmida, presenciou um raio atingindo a relva seca, provocando
um descomunal incêndio. Ao admirar tal mágica desgraça, cismou: “que
maravilhoso seria seu eu pudesse também produzir faíscas flamejantes...” (foi
com estas palavras que ele se referiu às descargas atmosféricas).
Daí começou toda a mística do Homem com o
fogo, e que perdura até os dias de hoje. Vejo, por exemplo, pela janela de
casa, que Dona Iolanda, minha senil vizinha, utiliza um isqueiro para atear
fogo num montinho de lixo que ela juntou sobre a calçada. “Isto aí não pode,
Dona Iolanda!”, repreendo a septuagenária incendiária de detritos.
Então, a partir da observação de um
relâmpago, alguém começou a esfregar pedra contra pedra, caroço contra caroço,
tíbia contra tíbia (naqueles tempos desprovidos de máfias das funerárias, havia
muitos ossos e carcaças disponíveis sobre as planícies), graveto com graveto. Enquanto
muitos debochavam dos experimentos (há sempre vários espíritos-de-porco
torcendo para que os nossos projetos simplesmente deem errado), esta cavernosa
e sonhadora criatura bípede relevou tanta inveja e persistiu nos exercícios de
fricção.
Vocês sabem: água mole em pedra dura... De
tanto insistir em atritar a madeira seca, eis que um aquecimento tal fez nascer
a fumaça e uma labareda amarela que feria a pele, doía à beça, algo incrível
que foi batizado “fogo”. Nunca antes na Pré-História daquele mundo, alguém
fabricara relâmpagos, ou melhor, fogo.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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