A morte humana é constatável por diagnóstico técnico. A morte política, no entanto, é impossível de ser diagnosticada.
Falhou
num veredicto desses, por exemplo, o deputado ACM Neto. Após a derrota
de José Serra, em 2010, não se sabe se por informações sopradas por
alguma ialorixá baiana, ele afirmou que Aécio Neves passaria a ser
então, “o grande líder da oposição”.
Certo
é que o ex-governador paulista, dado por muitos como um morto político,
reencarnou e se apresentou, com força e vivacidade, como candidato
postulante à prefeitura de São Paulo.
Serra animou um cenário político, de certa forma, chocho.
Embora
com os olhos marejados e expressão de decepção, o candidato tucano
derrotado na disputa para a Presidência deu muitos recados na despedida.
Não deu um “adeus”, mas um “até logo”, e afirmou: “Nós estamos apenas
começando”.
Serra é um dos nomes
certos no, muito provável, segundo turno da eleição de outubro. Contra
ele estará Fernando Haddad (PT) ou Gabriel Chalita (PMDB).
O
candidato tucano encarna o majoritário espírito do eleitorado
paulistano: antipetista e conservador. A prova mais recente de que a
capital é, essencialmente, uma fortaleza tucana está nos resultados das
eleições presidenciais de 2010. Ele venceu Dilma no primeiro turno com
40,33% dos votos. Ela obteve 38,14%, com o apoio e prestígio do
presidente Lula. No segundo turno, o tucano ganhou mais votos. Teve
53,64% contra 46,6% da petista. O tucano cresceu 13 pontos e a petista 8
pontos somente.
Pesquisas que
avaliam a qualificação dos candidatos diante dos eleitores mostram que
os paulistas absorveram a imagem trabalhada para Serra: eles o
consideram “o mais inteligente”, “o mais preparado” e por aí afora. Mas
também o rejeitam por pensar “mais em Brasília do que em São Paulo” e
por ter interrompido o mandato de prefeito. Daí nasce a rejeição de 32%
medida por pesquisa recente do Datafolha.
Essa
é uma das razões pela qual Serra vai evitar que a eleição seja
nacionalizada. A outra é que esbarraria na popularidade da presidenta
Dilma.
O antipetismo de Serra
apoia-se em doses medidas de convicção e cálculo eleitoral, mas também
no combate interno do PSDB. Ele marca a distância da oposição moderada
exercitada por Aécio Neves. São apostas diferentes no caminho da
oposição que pretende tirar o PT mais rápido do poder.
A
candidatura de Serra à prefeitura de São Paulo, além de dar
continuidade ao projeto pessoal dele, tem um forte viés anti-Aécio. Ele
foi um dos que ajudaram a transformar em pesadelo o sonho de Serra
chegar à Presidência. Ninguém convence o paulista de que não houve
indolência de Aécio na eleição em Minas, onde ele perdeu para Dilma. O
resultado no segundo maior colégio eleitoral do País supriu a vantagem
do tucano no maior colégio eleitoral (São Paulo).
Há
notícias de que Serra, se eleito, deixará o PSDB. Em 2010, na casa do
empresário Alexandre Accioly, em Ipanema, no Rio, Aécio falou o mesmo.
Deixaria o PSDB, caso Serra ganhasse a eleição. O ninho tucano ficou
pequeno demais para os dois.
A
vitória de Serra para a prefeitura paulistana será um tormento para
Aécio. Como disputar a eleição sem base sólida em São Paulo?
José
Serra, ao oficializar sua disposição de disputar a prefeitura
paulistana, disse que “o sonho da Presidência ficará adormecido”. Aécio
Neves deve comentar com seus botões: “Durma em paz”.
Mauricio Dias
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