quarta-feira, 02 de maio de 2012 | 04:19
Dilma usa Delta e Mensalão para se livrar de falsos aliados
Pedro do Coutto
Reportagem de Sônia Racy e Tiago Décimo, O
Estado de São Paulo de segunda-feira, 30 de abril, revela que a
presidenta Dilma Rousseff, ao contrário do que supunham figuras do
próprio PT, mandou colocar na internet todos os contratos da Delta
Construções com o governo federal. Assim agindo, ela impulsiona
governadores e prefeitos, a fazerem o mesmo. Sem dúvida. Caso contrário,
não tomaria a iniciativa. As informações são do deputado Marco Maia,
presidente da Câmara Federal. A foto que acompanha a matéria é de Tiago
Archanjo.
Dilma, maias uma vez, diante de denúncias
de corrupção e comprometimento, escolhe o caminho certo da
transparência. Com isso demonstra nada temer das investigações e,
sobretudo, sinaliza de que a si não interessa que o processo Delta seja
abafado. Pelo contrário. Quanto mais exposto estiver, melhor
politicamente para ela. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao
mensalão.
Não interessa à presidenta da República a
absolvição de quem quer que seja. Nada disso. Quanto mais rigor houver,
na CPI Demóstenes-Cachoeira e no Supremo Tribunal Federal, melhor.
Dilma, em ambos os casos, livra-se dos
aliados incômodos, dos falsos amigos, os quais sempre terminam levando
os que ocupam o poder a situações constrangedoras. Para dizer o mínimo.
Dilma Rousseff não convive bem com a corrupção. É visível que tem de se
esforçar para tornar-se capaz de suportar tais atmosferas tóxicas. Como
inclusive reconheceu o ex presidente Fernando Henrique Cardoso, em
entrevista a Maria Cristina Frias, Folha de São Paulo também de
segunda-feira.
Vale a pela ler a matéria que, por
coincidência, acrescenta-se à de Sônia Racy e Tiago Décimo. FHC, em dado
momento, destaca que, agora, está havendo mais corrupção do que em seu
governo. Logo, deixou claro, ser praticamente impossível reduzi-la à
taxa zero. Porém isso não quer dizer que possa ser interpretada como
algo aceitável. Pelo contrário.
Pois é – digo eu – a corrupção inflando os
contratos entre o poder público e empresas privadas que conduz à
escassez de recursos para a saúde, educação transportes. Setores nos
quais se concentra fortemente o déficit social no Brasil. Dívida cujo
resgate é sempre anunciado de uma campanha para outra, mas nunca
amortizada.
Pelo contrário. O IBGE, em levantamento
recente, penúltimo da série sobre condições de vida no país, informou
que de 2000 a 2010, enquanto a população cresceu 12,7%, o número de
habitantes em favelas avançou 75%. Com isso, sem dúvida, agravaram-se as
condições de saneamento. Mas este é um outro assunto. O fato é que os
recursos públicos, na verdade, são limitados.
Basta ler o orçamento da União para 2012:
2,2 trilhões de reais em números redondos. Para o programa de
investimentos apenas 106 bilhões. Cinco por cento, praticamente. Muito
pouco, como se constata pela comparação entre os números.
Dívida mobiliária quase 2 trilhões, o
Banco Central a anunciou em 1 trilhão e 896 bilhões. Em cima dela, juros
agora de 9% ao ano. Na realidade índice real de 3 pontos, já que a
inflação do ano passado, registrada pelo IBGE, foi de 6,3%. Mas há que
considerar o crescimento da população na escala de 1,2%. São dois
milhões de pessoas a mais a cada doze meses. Maior pressão em cima dos
serviços públicos.
Acobertar a corrupção, um sorvedouro de
dinheiro na dança dos preços inflados para pagamento de comissões,
diretas e indiretas, significa tacitamente diminuir o poder do estado e,
portanto, a capacidade de administrar do governo. Evidentemente, tal
panorama visto da ponte pode interessar à presidenta Dilma Rousseff. Nem
Cachoeira. Nem Mensalão. Muito menos a Delta, que só acrescenta
reflexos extremamente críticos a tudo isso.
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