Roberto Gurgel arrisca levar encrenca de delinquentes para dentro da instituição do Ministério Público
Numa época em que surgiu o
ofício de "gerenciador de crise", o procurador-geral, Roberto Gurgel,
tornou-se um fabricante de encrenca. O doutor sobrestou a Operação Vegas
da Polícia Federal, que expunha relações do senador Demóstenes Torres
com Carlinhos Cachoeira durante três anos.
Em março, quando outra
investigação detonou a quadrilha, Gurgel representou ao STF contra o
senador. Conhecem-se duas explicações de sua conduta. Uma, apresentada
numa nota oficial, informa que ele "optou por sobrestar o caso, como
estratégia para evitar que fossem reveladas outras investigações".
Noutra, contada pelo delegado
que chefiou a Vegas, a subprocuradora-geral Claudia Sampaio (casada com
Gurgel) disse-lhe que não foram encontrados elementos suficientes para a
abertura de um processo. Diante das cobranças para que se explique
melhor, Gurgel tumultuou o debate: tudo seria coisa de "pessoas que
estão morrendo de medo do julgamento do mensalão".
Há gente com medo do desfecho do
mensalão, é até possível que essas pessoas queiram azucriná-lo, mas a
questão continua do mesmo tamanho: ele segurou a Operação Vegas. Pode
tê-lo feito pelos melhores motivos, mas suas explicações ainda não
satisfazem quem queira entendê-los. Em sua representação de 2012, Gurgel
valeu-se de 22 gravações que estavam no inquérito que recebeu em 2009. O
doutor não quer ir à CPI e tanto o ministro Joaquim Barbosa como seu
contemporâneo Gilmar Mendes, do STF, dão-lhe razão.
Quando uma CPI é instalada,
começa a funcionar um filtro subjetivo que destaca aqueles que não
querem depor ou se movem para bloquear depoimentos.
Por exemplo: o PT não quer que o
governador Agnelo Queiroz vá à CPI, já o PSDB não quer que chamem o
governador Marconi Perillo, e o PMDB quer evitar a convocação de Sérgio
Cabral. Gurgel não faz parte desse plantel, mas decidiu se juntar a ele.
A CPI do Cachoeira difere de
todas as outras, que começaram com perguntas para desembocar em
inquéritos. Ela começou com um inquérito, onde estão quase todas as
respostas. Até agora, o que se vê é uma teologia da blindagem para
evitar novas perguntas. Felizmente, a couraça da quadrilha de Cachoeira
foi furada pela Polícia Federal com seus grampos.
CAVALOS E A BANCA
De um conhecedor de cavalos e de banqueiros:
"A Febraban disse que 'você pode
levar um cavalo para a beira de um rio, mas não pode obrigá-lo a beber
água'. De cavalos eles não entendem. Se você salgar a aveia, o bicho
beberá a água. Prova disso é que, no dia seguinte, diante da irritação
do governo, retrataram-se. Dilma Rousseff salgou-lhes a ração".
Por Elio Gaspari
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