Diante de um Legislativo pusilânime, Odoricos Paraguassú sem voto
revelam em dialeto de péssimo gosto e falsa cultura a raiva com que se
vingam, intérpretes dos que pensam como eles, das sucessivas derrotas
democráticas e do sucesso inaugural dos governos enraizados nas
populações pobres ou solidárias destes. Usando de dogmática impune,
celebram a recém descoberta da integridade de notório negocista,
confesso sequestrador de recursos destinados a seu partido, avaliam as
coalizões eleitorais ou parlamentares como operações de Fernandinhos
Beira-mar, assemelhadas às de outros traficantes e assassinos e suas
quadrilhas.
Os quase quarenta milhões de brasileiros arrancados à miséria são,
segundo estes analfabetos funcionais em doutrina democrática, filhos da
podridão, rebentos do submundo contaminado pelo vírus da tolerância
doutrinária e pela insolência de submeter interesses partidariamente
sectários ao serviço maior do bem público. Bastardos igualmente os
universitários do Pró-Uni, aqueles que pela primeira vez se beneficiaram
com os serviços de saúde, as mulheres ora começando a ser abrigadas por
instituições de governo para proteção eficaz, os desvalidos que
passaram a receber, ademais do retórico manual de pescaria, o anzol, a
vara e a isca.
Excomungados os que conheceram luz elétrica pela primeira vez, os
empregados e empregadas que aceitaram colocações dignas no mercado
formal de trabalho, com carteira assinada e previdência social
assegurada. Estigmatizados aqueles que ascenderam na escala de renda,
comparsas na distribuição do butim resultante de políticas negociadas
por famigerados proxenetas da pobreza.
Degradados, senão drogados, os vitimados pelas doenças, dependentes das
drogas medicinais gratuitas distribuídas por bordéis dissimulados em
farmácias populares. Pretexto para usurpação de poder como se eleições
fossem, maldigam-se as centenas de conferências locais e regionais de
que participaram milhões de brasileiros e de brasileiras para discussão
da agenda pública por aqueles de cujos problemas juízes anencéfalos
sequer conhecem a existência.
O Legislativo está seriamente ameaçado pelo ressentimento senil da
aposentadoria alheia. Em óbvia transgressão de competências, decisões
penais lunáticas estupram a lógica, abolem o universo da contingência e
fabricam novelas de horror para justificar o abuso de impor formas de
organização política, violando o que a Constituição assegura aos que sob
ela vivem. Declaram criminosa a decisão constituinte que consagra a
liberdade de estruturação partidária. Vingam-se da brilhante estratégia
política de José Dirceu, seus companheiros de direção partidária e do
presidente Lula da Silva, que rompeu o isolamento ideológico-messiânico
do Partido dos Trabalhadores e encetou com sucesso a transformação do
partido de aristocracias sindicais em foco de atração de todos os
segmentos desafortunados do país.
Licitamente derrotados, os conservadores e reacionários encontraram no
Supremo Tribunal Federal o aval da revanche. O intérprete, contudo, como
é comum em instituições transtornadas, virou o avesso do avesso,
experimentou o prazer de supliciar e detonou as barreiras da
conveniência. Ou o Legislativo reage ou representará o papel que sempre
coube aos judiciários durante ditaduras: acoelhar-se.
Imprensa independente, analistas, professores universitários e
blogueiros: comuniquem-se com seus colegas e amigos no Brasil e no
exterior, traduzam se necessário e divulguem o discurso do
ministro-presidente Carlos Ayres de Britto sobre a política,
presidencialismo, coalizões e tudo mais que se considerou autorizado a
fazer. Divulguem. Divulguem. Se possível, imprimam e distribuam
democráticamente. É a fama que merece.
Wanderley Guilherme dos SantosNo Carta Maior
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