Favoritismo Recorde
Por Marcos Coimbra
É difícil imaginar, mas a próxima eleição presidencial não demora. Ela
acontece ano que vem, embora, para a opinião pública, pareça que ainda
falte uma eternidade.
Daqui a apenas dezoito meses, entraremos no período oficial de campanha.
Logo a seguir, teremos o horário eleitoral e estaremos caminhando em
marcha batida para o dia de votar.
Ela apresenta uma característica singular: nunca tivemos uma sucessão
presidencial com tamanho favoritismo. De acordo com as pesquisas, é a
primeira vez em que não apenas um, mas dois possíveis candidatos do
mesmo partido possuem vantagem tão folgada em relação aos demais.
Não houve nenhuma pesquisa realizada em 2012 em que Dilma ou Lula
obtivessem menos que 55% - aritmética à parte, olhando-as pelo que
querem dizer. Na verdade, variaram daí para cima, chegando perto dos
65%, de acordo com o cenário.
Ambos têm mais intenções de voto, faltando um ano e meio para a eleição,
que qualquer outro candidato no passado, mesmo às vésperas do pleito.
Acima do que Collor atingiu em seu máximo (no primeiro turno), em julho
de 1989. Mais que Fernando Henrique em 1994, apesar de anabolizado pelo
plano real. Muito mais que Lula em 2002.
Impressiona que superam FHC em 1998 e o próprio Lula em 2006, quando
disputaram o primeiro turno da reeleição. Para o petista, algo
compreensível, pois acabara de enfrentar a turbulência do mensalão – o
de verdade e não a reedição. Do tucano, no entanto, era de esperar mais,
pois ainda atravessava seus bons tempos – que rapidamente acabariam.
Considerando o conjunto de eleições que fizemos desde a
redemocratização, os números dos petistas para 2014 são mais elevados
que os de quase todos os candidatos a governador de estados maiores e
prefeito de cidades grandes. Só muito excepcionalmente encontramos algum
com índices semelhantes.
Note-se que, nas pesquisas realizadas no final do ano, Dilma e Lula
mantiveram essa dianteira dilatada, mesmo após o investimento das
oposições, especialmente através de seu braço midiático, na
escandalização do julgamento do mensalão. Os dois eram fortes antes e
assim permaneceram.
Engraçado é ver o tratamento que algo tão óbvio e significativo a
respeito da próxima eleição recebe dos comentaristas de nossa “grande
imprensa”. Simplesmente, fingem que não existe.
É como se o fato de Dilma e Lula terem, sozinhos, quase que o dobro da
soma dos demais, fosse irrelevante. Como se o que essa vantagem traduz
pudesse ser ignorado.
São os mesmos analistas que ficaram boquiabertos quando Serra alcançou
um patamar entre 35% e 40% na eleição presidencial passada. Mais de um
projetou sua vitória, acreditando que, com aqueles números, estaria
tranquilo.
Agora, quando Dilma ou Lula chegam perto do dobro, acham que o jogo está
aberto. Tanto que se põe a imaginar onde chegarão candidatos que estão
abaixo dos 10%.
Quando Serra disputava, raciocinavam como se o relevante fosse o patamar
de largada. Hoje, só têm olhos para o “potencial de chegada”.
Estão certos, mas fazem uma interpretação tão enviesada da realidade das
pesquisas que chega a ser patética. Melhor seria se reconhecessem o
favoritismo recorde que elas constatam.
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